sábado, novembro 08, 2008

Razões...

Como eu já disse num outro texto, existem várias razões pra uma pessoa estar só. Uma das mais comuns é o medo, que pode se manifestar por diferentes causas. Há o medo mais óbvio, aquele clássico, do gato escaldado que não quer mais se machucar. Medo de se decepcionar, de ser vítima de traição ou de rejeição. E há também o medo do desconhecido, que acomete os desafortunados que jamais experimentaram as agruras e venturas de um relacionamento íntimo.


Cabe aqui uma breve explanação do conceito de intimidade que ora utilizo: ser íntimo de outra pessoa não se confunde, necessariamente, com conhecer suas partes íntimas. O “íntimo” pode ser definido como a constituição da essência de algo ou alguém. Vai, portanto, muito além da carne. Aliás, o tipo de “intimidade essencial” a que me refiro é o que de fato favorece o desenvolvimento da intimidade física, num nível bem pouco explorado por grande parte das pessoas.


Existem pessoas incapazes de se envolver, seja porque não se permitem a entrega, seja porque não sabem amar. Dizer que é preciso amar a si próprio antes de amar a outrem pode parecer clichê, mas, para mim, faz todo sentido. Mesmo para quem não considera sagradas as famosas escrituras, vale ainda como referência histórica/cultural: “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Partindo dessa premissa, se você tratar a si mesmo como lixo, custa-me acreditar que dispensará tratamento mais gentil ao seu próximo. O que nos conduz a mais uma razão para a solidão: falta de amor próprio.


Algumas pessoas preferem ficar sozinhas porque sofreram um trauma psicológico num relacionamento pretérito. A intensidade e a duração do trauma variam de acordo com diversos fatores, incluindo a gravidade da causa e a capacidade de superação da vítima.


Há também os que sofrem de desânimo, cansaço, frustração. Os que não suportam mais os joguinhos, a falta de consideração, de respeito, de compromisso.


Infelizmente, não se pode ignorar a existência dos desesperados, aqueles que depositam em outra pessoa a sua própria chance de ser feliz. É evidente que isso não funciona. Mesmo quando existe amor, nenhuma pessoa tem um controle externo tão absoluto que possa assegurar a felicidade alheia. Buscar algo tão pessoal fora de si é caminho certo para a frustração. E é, ainda, mais uma possível causa da solidão, já que qualquer criatura em sã consciência foge da desmedida responsabilidade de tentar em vão tornar feliz um infeliz.


Outra triste conseqüência de não assumir o ônus pela própria felicidade é responsabilizar os outros, também, pela própria infelicidade. Pessoas desse tipo têm o hábito de magoar, trair, machucar e não sentir o peso da culpa, que sempre fazem questão de transferir ao restante do mundo. “Sim, eu traí, mas foi porque você não me deu atenção”. “Eu sei que machuco, mas é porque estou sofrendo”. Como se, subitamente, o livre arbítrio lhe tivesse sido tomado.


Os motivos para a solidão, porém, nem sempre são tão dramáticos. Algumas pessoas estão sozinhas porque preferem assim. Umas estão focadas em objetivos e projetos pessoais que, possivelmente, seriam tolhidos por um relacionamento afetivo. Outras querem apenas se divertir, sem se comprometer (e, com essa postura, talvez estejam traumatizando outros solitários, descritos anteriormente). Há aquelas que terminaram um relacionamento e só precisam de um tempo consigo mesmas, um período de luto por um amor que pereceu. Algumas estão à espera de alguém especial, que não encontraram ainda, e não querem firmar um compromisso sem paixão. Há ainda as que fixam critérios elevados demais para qualquer candidato, mas não estão dispostas a facilitar o processo seletivo. E, claro, não podemos nos esquecer dos que se recusam a se envolver com alguém, a fim de preservar sua liberdade irrestrita.


A verdade é que nem todo mundo se apavora com a idéia de ficar só. Ao contrário do que disse Tom Jobim, acredito que é possível ser feliz sozinho e, por incrível que pareça, ainda há quem acredite que é melhor estar só do que mal-acompanhado. Por fim, certamente existem pessoas que escolhem a solidão como modo de vida. Quem disse que todos os seres humanos foram talhados para viver aos pares?


Poderia discorrer sobre o assunto ao longo de muitas páginas. Talvez desse um livro.


Por ora, basta dizer que, para mim, existem infinitas razões para ficar sozinha, mas apenas uma para abandonar essa condição: ser arrebatada por um sentimento fatal, mais forte que eu mesma. Eu não o faria por menos. Não tolero companhia por conveniência, carência ou falta de opção. Sou do tipo que precisa da sensação reconfortante de poder olhar nos olhos de alguém e dizer, ainda que em silêncio: “eu sabia que você existia”. “Sabia que não devia me contentar com menos”.


Como eu gosto demais de estar comigo mesma, só abro mão da doce solidão por uma companhia absolutamente irresistível.


Desejar ardente e constantemente a presença de alguém e dedicar-lhe afeto exclusivo é, mais que qualquer tipo de convenção social, conseqüência natural do meu sentimento. É simplesmente impossível continuar só, ou mesmo querer outra pessoa além da que escolhi, cuja simples lembrança provoca sorrisos involuntários. Delícia. ;)


segunda-feira, novembro 03, 2008

Ex-tiqueta

Posso considerar que sempre tive sorte com meus ex-namorados. Não enquanto eles eram namorados, mas depois que se tornaram ex, mesmo. Tive os chorões, os arrependidos, os insistentes, os cafajestes que continuavam jurando amor eterno quando já flertavam em outras paragens. Alguns não desistem nunca. Juro que um ou outro, vez em quando, ainda faz tentativas lamentáveis de reaproximação. Seis, sete, oito anos depois do fim! Há apenas um de quem eu poderia ser amiga, mas nossos breves e raros encontros são sempre estranhos, meio desconfortáveis. Do restante, não guardo mágoa, e desejo que sejam felizes. Bem longe de mim. Em geral, todos foram muito gentis e, mais cedo ou mais tarde, fizeram por mim o melhor que um cara pode fazer por sua ex-namorada: desaparecer da vida dela.

Muita gente não tem essa sorte. Que o diga a pobre Eloá. É mesmo assustador pensar que a menina, por um tempo razoável, confiou naquele cara. Que ele conhecia a família, os amigos dela, e eles pensavam que o conheciam. E, de repente... Todo mundo descobre, do pior jeito possível, que ele é um psicótico. Há alguns anos, a jornalista Sandra Gomide também teve o mesmo fim trágico porque o ex não conseguiu se conformar com a rejeição.

Felizmente, eu jamais presenciei um caso tão patológico, mas vi (e ainda vejo) várias pessoas que conheço sofrerem com os desvarios de ex-namorados e ex-namoradas.

Não acho impossível existirem grandes amizades entre ex-namorados, mas considero pouco provável que nenhuma das partes confunda as coisas em algum momento. Ou mesmo que a "amizade" não passe de pretexto para a reaproximação. De qualquer forma, acredito que a regra básica a ser seguida seja a civilidade. Ninguém deve ser obrigado a saltar de alegria ao rever alguém que foi cirurgicamente removido de sua vida. Feito um tumorzinho. Mas hostilidades são desnecessárias na maior parte dos casos.

Tenho uma amiga que, ao longo do relacionamento, ouviu o namorado dizer que a amava apenas uma ou duas vezes. Depois que terminaram, ele passou a dizer diariamente. Descobriu, um pouco tarde, depois de fazê-la sofrer até a superação de todos os limites aceitáveis (e alguns inaceitáveis), que ela é a mulher da vida dele. É isso que ele anuncia, entre lágrimas e soluços, para todos os conhecidos do ex-casal. Por sorte, nesse tempo, ela descobriu que ele não é nem de longe o homem da vida dela.

Mais revoltante que o tipo "lerdo", é o caso do o ex-namorado covarde. Tenho uma amiga que várias vezes foi maltratada pelo ex, em público. O cara teve mil ataques de ciúmes, afastou-a de todos os amigos homens, fez com que ela perdesse desde baladas e encontros com as amigas até eventos importantes (formatura de amigos, por exemplo) porque ele não podia ir e não permitia que ela fosse sozinha. Irritava todo mundo com sua insuportável mania de tirar vantagem e querer se dar bem em todas as situações. Sem perceber, minha amiga, antes tão forte e decidida, começou a perder a personalidade por causa de um cara que - pasmem - ela nem sequer amava. Nada disso foi suficiente pra ela colocar um ponto final na história. Até que descobriu que estava rolando o maior clichê de todos os tempos. O exagero de desconfiança dele acontecia pelo motivo clássico: ele era infiel. Não satisfeito com a dor que causou, usou mais um clichê: colocou a culpa nela, que supostamente não o tratava com o carinho que ele merecia. Claro que ele não tinha alternativa, como, por exemplo... Ahmmm... Deixa eu pensar... TERMINAR COM ELA! Não, não, ele tinha que ser o maior idiota do mundo, envergonhá-la diante de todas as pessoas que ela conhece e ficar com uma baranga. E a culpa, claro, é da minha amiga. Não bastasse isso tudo, ele não se conforma com o fim (por certo que ainda não a magoou o suficiente).

O ex de uma outra amiga merece, no mínimo, um prêmio por sua infinita criatividade, não podemos deixar de reconhecer. Desde que o namoro acabou (porque ele fez tudo que podia pra isso acontecer), já tentou das formas mais variadas convencer minha amiga de que é o cara certo pra ela: abordagens românticas, violentas, inconvenientes, desagradáveis, racionais, sutis, exageradas, patéticas, dignas de pena, detestáveis. Sempre que a gente pensa que ele não tem mais o que inventar, ele nos surpreende. É incrível.

Não são raros os ex-namorados vingativos. Já vi vários que, após serem rejeitados, fizeram de tudo para reconquistar quem os desprezou somente para, em seguida, terminar o namoro. Um trabalhão desses por causa de orgulho ferido... Vai entender. Pior ainda são aqueles que infernizam, que não suportam a idéia de que o(a) ex possa ser feliz com outra pessoa. Ou mesmo sem outra pessoa.

Houve uma época em que todos os caras que eu conhecia estavam traumatizados com uma ex-namorada. O primeiro, depois de totalmente embriagado, disse-me que, com a ex, descobriu que existem dois tipos de mulheres no mundo, as vagabundas e as que voam. E convidou-me pra ir à casa dele. Claro, por que eu não iria, Príncipe Encantado??? Por incrível que pareça, preferi ir voando pra minha casa. Sozinha.

Depois conheci outro que, enquanto viajava a trabalho, a ex, por meio de recadinhos discretos escritos em cor-de-rosa no Orkut, ameaçava invadir o apartamento dele para pegar as coisas dela, e chamava de "putas barangas" todas as mulheres que deixavam recado pra ele.

O caso mais assustador foi uma que, conhecendo a senha do ex, acessou a conta do celular dele na internet, telefonou para todos os números mais discados, e aqueles em que uma voz feminina atendeu à ligação foram escolhidos para receberem mensagens ameaçadoras. Ela gostou tanto de mim que quase todas as manhãs telefonava para o meu celular e ficava quietinha, só pra ouvir minha voz. Chegou a criar uma conta no Messenger com o nome do ex para falar comigo. Medo.

Ah, sim, tenho uma amiga que precisou sumir da cidade por uns dias, quando o ex começou a publicar ameaças contra ela na internet. E outra, cujo ex faz referências jocosas ao fim do relacionamento em seu perfil no Orkut. Houve também um cara que, quando percebeu que a minha amiga não estava mais a fim dele, começou a persegui-la, observá-la escondido, ficar de tocaia em frente à casa dela. E quem consegue entender os caras que telefonam mil vezes, você não atende, e então eles ligam de um número desconhecido? Será tão difícil captar a mensagem?

Bem, podem não ser exatamente pshyco killers, talvez não cheguem a Lindembergs e Antonios Marcos Pimenta Neves, mas ninguém pode negar que essa gente é maluca. Porque só malucos aparecem sem ser convidados, pedindo outra chance quando já tiveram tantas, jurando arrependimento, com lágrimas de desespero e culpa, trazendo alianças (!), dizendo que querem casar (!), ignorando totalmente os créditos finais passando na tela. E às pessoas que cedem a chantagens emocionais, que se comovem com as lágrimas de crocodilo, que possuem um estoque infinito de chances adicionais (em desfavor do respeito próprio), um alerta: antes de se revelarem homicidas, os exemplos supracitados não passavam de ex-namorados rejeitados e inconformados como o seu. O limite entre uma coisa e outra pode ser uma linha tênue.


Não pode ser tão difícil entender, pode? Move on, people. Move on!