terça-feira, outubro 16, 2007

Soninho...

Ai, zentsi, hoje estou assim... MORRENDO, sabe como? Não pode ser normal um sono desses. Devo ter sido atacada por uma mosquinha tsé-tsé. Enquanto eu dormia, claro.


O meu sono incontrolável já me colocou em situações mui desagradáveis. Na infância até que era tranqüilo. Mas desde a adolescência, acordar cedo se tornou uma verdadeira tortura pra mim.


Diariamente, eu ia me arrastando pro colégio, sempre chegava atrasada e dormia na carteira durante as duas primeiras aulas. Depois disso vinha o intervalo, quando eu comia um pão de batata recheado com catupiry e bebia um copo de mate Leão. Aí eu voltava para a sala super bem disposta para conversar e trocar bilhetes com minhas amigas até a manhã terminar, ou até o professor me mandar pra fora, o que acontecesse antes.


Lembro-me de uma vez em que estava fazendo uma prova de matemática, no segundo ano do ensino médio. Cada vez que eu tentava resolver aquela porcaria de matriz, acabava caindo no sono. Acordava com o lápis na mão, com aquele riscão atravessando a folha de prova de ponta a ponta.


Num dado momento, desisti. Deitei a cabeça na carteira e dormi gostoso. A professora me acordou e perguntou se eu tinha terminado a prova, respondi que sim e fui pra casa dormir. O problema é que eu só tinha resolvido a primeira questão, e tirei 2. Foi um pouco difícil recuperar essa nota, mas no fim deu tudo certo.


Claro que talvez isso não tivesse acontecido se naquela época eu não fosse tão maloqueira. Explico: na noite anterior eu havia saído com minhas amigas do grupo de teatro. Como éramos todas pobretonas sem carro – eu, no caso, uma adolescente de 16 anos cujas atividades se resumiam a estudar de manhã, dormir depois do almoço até começar Malhação, e fazer curso de teatro duas vezes por semana – costumávamos fazer uma vaquinha pra comprar um garrafão de 5 litros de vinho na lanchonete suja de um chinês. Pedíamos que o china nos desse uns copos de plástico, sentávamos na escadaria da Igreja do Largo da Ordem e lá ficávamos nos embriagando e rindo de bobagens.


Depois a gente ia a pé até a Rua 24 horas, comer pizza de muzzarela cortada em quadradinhos e esperar até umas 6h da manhã, quando os ônibus começavam a circular regularmente. Assim, naquele dia, cheguei em casa às 6h30min, tomei banho, vesti o uniforme do colégio e fui fazer a tal prova.


Não sei porque eu resolvi contar isso... Que vergonha!


Já na faculdade, eu estudava à noite. Massss, como eu trabalhava o dia todo, e dormir no trabalho é muito mais complicado (embora não menos tentador), a aula era meu momento do soninho. A maior parte dos professores não se incomodava. Só tinha um que levava um galo, daqueles de geladeira, e uma vez fez o bicho cantar na minha orelha no meio da aula. Nunca mais dormi na aula dele, mas era um sufoco ficar acordada.


Uma vez minha amiga me acordou porque eu estava respirando alto (roncando não!!!) e todo mundo estava reparando...


Às vezes eu dormia antes mesmo de a aula começar, quando todo mundo ainda estava conversando em volta. Impressionante que eu durmo no meio de qualquer algazarra, embora acorde com qualquer barulhinho. E não suporto os passarinhos malditos que cantam na frente da minha janela a noite toda.


Nunca consegui estudar pra uma prova em casa. Especialmente depois de entrar na faculdade. Não existe nada mais sonífero que livros de Direito.


Não é só durante aulas que o irresistível soninho me ataca, mas em qualquer situação monótona em que uma pessoa fala sozinha por mais de 15 minutos. Congressos foram as sonecas mais caras que tirei durante a faculdade. Palestras são um convite a me atirar nos braços de Morfeu. Reuniões no escritório me apavoram... Deus do céu, não posso dormir com meu chefe traçando estratégias e planos de ação bem na minha frente! Penso em outras coisas, rezo, faço promessa, imploro às minhas pálpebras que resistam bravamente... É um sofrimento atroz.


E quando fui fazer a prova da OAB? Já sabia que o drama de muitos bacharéis era, além da dificuldade das questões em si, administrar o pouco tempo pra resolver tanta coisa. Muito provavelmente a maior parte dos aspirantes a advogados não estava nem um pouco preocupada com a possibilidade de cochilar durante a prova, que é realizada no domingo à tarde, num clima de absoluta tensão.


Mas eu me conheço... Depois de ler umas 30 questões... Tcharam... Lá estava eu com a cabeça pendendo sobre a prova que definiria minha vida profissional. O jeito foi começar a comer o lanchinho que eu levei, já que não consigo dormir enquanto como. Só não podia mais parar de comer, porque comer dá sono. Então lá se foram umas 3 barrinhas de cereais, um pacote de maçãs desidratadas, dois chocolates, uma garrafa de água e uma de suco, bolachinhas... E passei.


Café, coca-cola, chá preto, energéticos à base de taurina... Ainda não conheci uma substância lícita que dê cabo do meu sono.


Já passei do meu ponto umas 5 vezes porque dormi no ônibus. Uma época, quando eu voltava sempre de ônibus da faculdade, já tinha até feito amizade com o cobrador e o motorista. Uma noite eu estava sonhando com alguma coisa, quando uma voz interferiu na trama do meu sonho. A voz dizia: “moça... moça... ô moça”. Era o cobrador me acordando, o motorista já havia parado o veículo na esquina em que eu descia e estava esperando eu despertar.


Na praia, já perdi as contas de quantas vezes eu capotei na areia e acordei com aquele belo torrão apenas num lado do corpo. Depois que o vermelhão passa, fico preta de um lado e branca do outro, feito um doce dois-amores. Coisa linda de se ver.


E teve também uma vez em que estava caindo de sono no escritório, cheia de trabalho pra fazer, e resolvi parar um pouco e escrever um texto pra tentar me distrair. Ah, isso foi hoje.


Costumava pensar que essa fosse uma característica minha até um tanto engraçada, mas enquanto escrevia esse texto resolvi dar uma pesquisada na Wikipedia, e fiquei um pouco preocupada:


“Narcolepsia é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono e em geral distúrbio do sono. É um tipo de dissonia.

O sintoma mais expressivo é a sonolência diurna excessiva, que deixa o paciente em perigo durante a realização de tarefas comuns, como dirigir, operar certos tipos de máquinas e outras ações que exigem concentração. Isso faz com que a pessoa passe a apresentar dificuldades no trabalho, na escola e, até mesmo, em casa.

Na maioria dos casos, o problema é seguido de incompreensão familiar, de amigos e patrões. A sonolência, geralmente, é confundida com uma situação normal, o que leva a uma dificuldade de diagnóstico. É comum portadores da narcolepsia passarem a vida inteira sem se darem conta que o seu quadro é motivado por uma doença, sendo tachados por todo esse tempo de preguiçosos e dorminhocos. No entanto, se o narcoléptico procurar ajuda especializada, vai descobrir que é vítima de um mal crônico, cujo tratamento é feito por meio de estimulantes e que pode se prolongar por toda a vida.

As manifestações da narcolepsia, principiando pela sonolência diurna excessiva, começam geralmente na adolescência, quando piora, leva à procura médica à medida que os sintomas se agravam. A narcolepsia é um dos distúrbios do sono que pode trazer conseqüências individuais, sociais e econômicas graves.”


Viram só? A vida toda tachada de dorminhoca e preguiçosa... Talvez eu não passe de uma narcoléptica incompreendida.


Beijos e bocejos pra vocês.