sábado, dezembro 23, 2006

Fora Noel


Eu não gosto do Papai Noel. Desde muito cedo o uso da lógica me fez perceber que seria impossível um trenó passar por todas as residências do mundo em uma noite, e injusto que o velhote entregasse presentes às criancinhas que dormiam tranqüilas em suas camas quentinhas, e nem olhasse para os meninos deitados em caixas de papelão nas ruas.


Também não vejo sentido em importar tradições que não se encaixam na nossa realidade. Aqui não tem neve, nem rena, nem trenó. Ninguém usaria aquelas roupas no nosso verão tropical.


Por fim, qualquer senhor idoso e sacudo que incite criancinhas a sentarem em seu colo sob promessa de recompensa não merece a minha confiança. Quando eu era criança ouvia falar do “homem do saco”, e o velho Noel se encaixa perfeitamente na descrição.


Mas não é por ter desconfiado desde cedo que ele não existia, nem por ele ser elitista, nem por andar fora de moda, nem tampouco por seu jeitão de pedófilo, que eu não gosto do Papai Noel. Ou melhor, não é SÓ por isso.


A principal razão de minha antipatia pelo barbudo é que ele é o maior (e mais gordo) instrumento da indústria de consumo para afastar da mente das pessoas o real significado do Natal. Andando pela cidade iluminada e enfeitada para o Natal, eu vi DOIS presépios. Apenas dois, quase imperceptíveis entre milhares de trenós e imagens do gorducho.


Eu adoro a troca de presentes no Natal. Não tem um ano que eu consiga deixar de me endividar pra comprar lembranças ao menos para a família. É bem provável que eu seja apenas mais uma vítima da publicidade exacerbada (isso fica um pouco mais evidente quando eu saio de casa à meia-noite para ir ao shopping aproveitar o horário especial), mas eu realmente gosto de estar junto com as pessoas que amo, e presenteá-las como forma de demonstrar o quanto são importantes para mim.


É claro que seria mais interessante fazer isso por meio de gestos e diariamente... Mas já é alguma coisa!


O essencial é que não importa se você é budista, muçulmano, judeu ou mesmo ateu. Reza a lenda que um dia um homem esteve na Terra ensinando a paz, o amor, o perdão, a compreensão. Não é necessário ser cristão para aproveitar esses valores. Nem mesmo me interessa o caráter divino ou humano desse homem. Mesmo que não passe mesmo de uma lenda.


Desejo que a celebração do nascimento de Jesus seja uma oportunidade de estreitar laços de amizade e de afeto. Um momento de reflexão, em meio a tantas de nossas atribulações diárias, para que nos voltemos ao que realmente interessa, o que nos torna de fato humanos, que é a necessidade de amar e ser amado que cada um tem dentro de si.


Feliz Natal a todos!

terça-feira, novembro 28, 2006

FELIZ!


Bom dia, boa tarde, boa noite. É bom cobrir todas as possibilidades, já que só Deus sabe quando será o próximo post!


Resolvi escrever agora, atendendo aos (dois) pedidos encarecidos que recebi nos últimos dias, depois de deixar o blog às moscas por tanto tempo.


Quero aproveitar este raro momento de felicidade espontânea que brotou inesperadamente na vida desta autêntica pessimista que vos escreve e, talvez, por meio de minhas palavras pouco inspiradas, transmitir um pouco dessa alegria boba pra vocês.


Cheguei agora, depois de uma confraternização da minha turma de faculdade. Bem, amanhã, ou melhor, ainda hoje, é minha última prova do curso de Direito. Acabou, gente!


Imagino que muitos de vocês devem estar pensando que é um momento triste este de encerrar minha feliz vida acadêmica, despedir-me dos amigos e oficialmente receber o meu passaporte para a Adultolândia, com direito a um pé na bunda e um “não volte mais!”.


Se você está mesmo pensando isso, é porque já está velho. Sim, é natural do ser humano lembrar-se do passado como se fosse um desenho da Disney. É assim: “O Rei Leão” é uma historinha linda e feliz, mas só se você não lembrar o quanto o Simba sofreu, órfão, sentindo-se culpado pela morte do pai, isolado do mundo a que pertencia por tanto tempo, tendo um tio monstro etc.


Do mesmo jeito que eu lembro com saudades da época anterior à faculdade, totalmente isenta de responsabilidades, quando eu ainda sabia o nome dos personagens de Malhação. Já faz uma vida isso... Volto-me àquelas lembranças e tenho a visão de risadas com as amigas, paixões inconseqüentes, todas aquelas possibilidades pela frente e nenhuma vontade de escolher nada... Uma vida sossegada, com sombra e água fresca. Parece muito agradável e divertido, mas só até eu me esforçar pra dar um zoom na imagem desse quadro, e perceber os detalhes já esmaecidos que a memória se esforça pra apagar: as brigas constantes da ovelha negra com o resto da família, a auto-estima devastada de uma adolescente complexada, a sensação de ser a criatura mais indesejável do planeta, os amores platônicos não correspondidos, as primeiras decepções (extremamente dolorosas pra um coração ainda despreparado), o medo inerente às descobertas e a sorte que eu tenho de estar viva e saudável diante de tudo que aprontei sem pensar nas conseqüências.


Não está dando pra acompanhar a viagem? O que quero dizer é que dar adeus à faculdade é uma coisa maravilhosa, apesar de saber que o que vem pela frente tende a ser ainda mais difícil, e embora eu saiba que vou sentir saudades, daqui a alguns anos, quando eu já tiver esquecido o quanto era um saco assistir à aula depois de um dia inteiro de labuta, fazer provas, trabalhos, pesquisas, seminários, ouvir (dormir em) palestras chatíssimas porque precisava cumprir horas complementares, e no fim do mês receber uma bolsa-auxílio que não cobria um quarto do valor da mensalidade...


Atualmente vivo sob constante pressão. Primeiro foi o desespero pra redigir a monografia que, como quase tudo na vida, deixei para a última hora... Em um mês fiz toda a pesquisa, sem nenhuma ajuda do meu “orientador”. Quem me conhece sabe que uma das minhas maiores paixões é escrever. Aqui, escrevo por mero hobby, não me incomodo com o uso de termos coloquiais, gírias, abreviações e... bobagens. Mas no meu trabalho de conclusão de curso eu queria a perfeição. Claro que não tive tempo hábil para atingir a perfeição, o que me custou inúmeras noites em claro, gastrite, estresse, dores musculares, torcicolos, agravamento do astigmatismo, enxaquecas e todo tipo de somatização que uma pessoa consegue providenciar em poucos dias.


Bem, neste sábado, dia 25/11/06, apresentei a minha cria, com a satisfação e o medo de qualquer criador, à temida banca examinadora. Após uma breve explanação com o objetivo exclusivo de mostrar que eu sabia do que estava falando, preparei-me para responder às perguntas, que não vieram. Em vez delas, apenas elogios, congratulações, e recomendações para os meus próximos trabalhos. Após a tensão dos minutos em que, na minha ausência, minha nota era discutida, recebi a notícia: “a banca deliberou e decidiu, por unanimidade, que o seu trabalho merece a nota máxima”. DEZ. Muitas vezes eu tinha imaginado aquele momento. Pressentia o meu sucesso. Mas não podia ficar alardeando, sob o risco de parecer prepotente e, principalmente, sob o risco de parecer uma otária caso minha nota não fosse essa. Já imaginou, tirar 9,5 e se sentir uma trouxa? Não, não, era melhor eu espalhar por aí que me contentava com o 7,0 para passar, e secretamente ansiar pelo meu 10, que, felizmente, veio.


A coroação de um trabalho apaixonado. E a primeira de muitas conquistas que eu sei que ainda virão. Oops, olha a prepotência aí, hehehehe... Tudo bem, antes isso do que dizer que me contento com nota 7,0 nas provas da vida (metáfora que só ficaria mais detestável se eu terminasse com "a vida é uma escola"). Enfim, dizer que me contento com a média faria de mim hipócrita se fosse mentira, medíocre se fosse verdade!


Sei mesmo que vou sentir falta dessa rotina avassaladora. Ainda hoje preciso concluir um trabalho que vale metade da nota de uma matéria, ir trabalhar cedo, tentar não perder as aulas no cursinho preparatório pra prova da OAB (cenas dos próximos capítulos) à tarde, fazer prova à noite, redigir um Habeas Corpus pro Núcleo de Prática Jurídica, pra comprovar a prescrição de alguma(s) das cerca de 20 condenações de um cara... Estudar, estudar, estudar... Arranjar um emprego... E, se eu sobreviver, assim que eu finalmente conseguir um tempinho, visitar meu namorado, porque suportar tudo isso já não seria fácil sem a saudade... E sem a abstinência sexual, claro.


Apesar de tudo, é uma sensação fantástica perceber que nem bem concluí uma tarefa e já existem tantas outras, cada vez mais urgentes e cada vez mais complexas, todas dependendo de mim, e eu não apenas dou conta de todas elas, mas ainda o faço com competência e eficiência de sobra.


São mais ou menos essas as razões de minha alegria: satisfação, realização pessoal, ter uma família que eu amo, as melhores amigas do mundo, um namorado lindo que continua me fazendo bem mesmo à distância, consciência do meu potencial, e, além de tudo isso, um motivo muito, muito especial.


O PASSARALHO DO CARINHO NÃO CANTA MAIS! Acabou o suplício das madrugadas primaveris, agora finalmente silentes, do jeito que eu teria sonhado se tivesse dormido.


Beijos!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Piada sem graça


Esta noite preciso lembrar-me de ir deitar antes das 2h54min. É esse o horário em que o passarinho psicótico começa a cantar. Já faz quase dois meses que o tormento começou. Comentei com minha mãe que era impossível dormir com aquele animal se esgoelando em frente à minha janela. Confiei na sabedoria de minha genitora sobre os mistérios da natureza quando ela me disse que devia ser uma fêmea no cio, chamando o seu parceiro. Logo o suplício deveria ter fim, portanto.


Nas noites que se seguiram, justamente naquele período de estresse de final de monografia, todas as noites eu, tomada de fúria cada vez maior, abria a janela e tentava descobrir em qual das árvores em frente ao edifício onde moro encontrava-se o amaldiçoado animal. Pensava eu: “qual o problema desses bichos? Por que não trepam de uma vez e calam o bico? Ou será que até entre os passarinhos está faltando macho em Curitiba?”


Passado todo esse tempo, já não creio mais na teoria do canto do acasalamento. Ou essa ave tem o período de cio mais longo do reino animal (insaciável!) ou - hipótese mais provável - ela não passa de mais uma artimanha do Cosmos naquele já há muito tempo revelado intento de testar minha sanidade e atazanar, ou seria mais apropriado dizer, espicaçar minha vida (algum leitor aí me acusa de paranóia? Hein? É isso? Paranóica é a mãe, viu? A sua, não a minha!).


Sim, só pode ser isso. Toda noite é a mesma coisa. Às 2h54min começa a apupada. Se você está imaginando o harmonioso canto dos pássaros, do tipo que comumente compõe o início de alguma faixa de um CD de relaxamento (a canção seguinte certamente começa com o som do mar, ou de uma cachoeira), pode esquecer. O animal não tem nada de zen. O alarme da minha garagem é mais melódico que esse bicho.


Já houve quem sugerisse, após saber do meu drama, o uso de um estilingue, espingarda ou qualquer coisa do gênero. Os ambientalistas que não me leiam, mas é óbvio que eu bem que gostaria de derrubar de uma vez por todas o ovíparo do galho em que ele se prostra todas as madrugadas com o incontestável objetivo de me torturar. O problema é descobrir qual é o galho.


Minha visão além do alcance não teve sucesso nessa tarefa, e o som produzido pelo animal é tão alto que não consigo identificar ao certo de que direção ele vem. Talvez se eu conseguir uma serra elétrica e derrubar logo o abacateiro, as duas palmeiras e os dois pinheiros a situação se resolva, mas sinto que posso ter problemas advindos de atitude tão radical... Não sei ao certo que tipo de problemas, mas possivelmente uma multa no condomínio, um processo judicial, uma prisão ou um internamento em hospital psiquiátrico.


Outra noite, pensei em simplesmente atirar pedras pela janela, a esmo. Evidentemente, jamais acertarei o alvo, mas talvez ele se assuste com o som do alarme do carro que eu fatalmente atingirei, e vá embora. Ou, com a minha sorte, talvez a passarinha assanhada pense que é o seu companheiro que finalmente responde ao seu chamado sexual, e cante com ainda maior vigor.


Talvez eu devesse simplesmente fazer como todos os outros moradores do prédio: dormir muito antes do início do insuportável crocitar, de modo a já ter atingido um estágio do sono em que o piado não mais possa me acordar. Entretanto, eu não vou ceder aos caprichos dessa ave insolente. Eu vou dormir quando eu quiser (e conseguir)!


Amanhã mesmo vou comprar tampões auriculares (num momento de desespero, quase meti pedaços de chicletes mascados nos ouvidos). E se isso não funcionar, talvez uma carabina.


Apenas me pergunto o motivo desse pássaro sem noção da realidade gralhar no meio da madrugada. Por que não faz como os outros de sua espécie e canta feliz ao romper da aurora? Por quê? Por quê?


Bem, já passam das duas, e ainda tenho que dar um jeito no meu quarto antes de dormir (parece que um ciclone passou por lá e devo demorar pra encontrar minha cama)... Só espero conseguir pegar no sono antes de, mais uma vez, atestar a infalível pontualidade do meu infortúnio de asas.


Uma boa noite para vocês.


Ps.: Depois de tanto falar da desagradável trilha sonora das minhas madrugadas, aqui vai uma dica excelente para quem gosta de boa música: visitem o blog do meu amor, Big Bad Music, e baixem os álbuns sensacionais que ele está disponibilizando. Eu recomendo.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Estressada, eu?

Estressada, eu?

Por pouco setembro não acaba sem que eu publicasse um texto sequer. É que durante este mês eu estive ocupada com a redação de um outro texto, de 80 páginas, sem contar os anexos, que mandei encadernar em quatro brochuras e uma capa cura, e entreguei nessa terça-feira na faculdade. A minha monografia, ou trabalho de conclusão de curso, pra quem preferir.

Eu realmente acredito nas pessoas que dizem que a vida fica mais fácil quando a gente se organiza, planeja etc. Acredito que os meus colegas que prestam atenção nas aulas o semestre todo e estudam diariamente não sofrem aquela pressão no dia da prova, tendo que perguntar de que se trata a tal disciplina, qual o nome do professor e onde fica minha sala. A vida deles é certamente menos estressante.

Não sei qual é o meu problema... Eu não produzo com tempo livre. Comecei (na teoria) a redigir minha monografia no ano passado. Foi no início do oitavo período que avisaram, em uma reunião à qual eu faltei, que até determinada data teríamos que entregar as primeiras 15 páginas do projeto de pesquisa. Alguém me perguntou, na manhã do dia da entrega, se eu havia feito. Claro que eu não tinha começado, mas resolvi deixar pra depois do almoço. Fiz em uma tarde.

No semestre seguinte (o primeiro do ano corrente), nem cheguei a abrir o arquivo. Perdi o prazo de entrega de propósito e tive que me rematricular. Neste semestre, as aulas começaram em agosto, eu só apareci na faculdade umas duas semanas depois (se eu nunca consegui ser muito dedicada, imaginem agora, no último período!), e alguém comentou sobre uma outra daquelas reuniões sobre monografia. Meu prazo definitivo era no fim de setembro! Então eu resolvi começar a escrever. No início de setembro.

Pelos arquivos que salvei, sei que em 23 de agosto eu tinha as mesmas 16 páginas do ano passado. Em 02 de setembro, tinha 35, sendo que as primeiras 16 foram praticamente descartadas (um lixo). Fiz uma pausa no trabalho pra passar uma semana em São Paulo com meu namorado. Em 18 de setembro, tinha 44 páginas. Em 20 de setembro, 56 páginas. Cinco dias depois, quando mandei encadernar, eram 102 páginas! Nas últimas 24 horas do prazo eu escrevi 3 capítulos e mudei de lugar vários outros, modificando o sumário inteiro e reescrevendo várias partes do texto.

Claro que, para alcançar esse resultado, eu passei uma semana quase sem dormir. Ia deitar entre 5h30min e 7h30min, e acordava às 9h. Eu era um zumbi. Um zumbi muuuito mal humorado.

As pessoas que me encontravam diziam: “fica calma, vai dar tudo certo”. FICA CALMA? Fica calma o ca*#%?o. Eu me estresso quando um corno filho de uma égua atrapalha o trânsito, sem conseguir decidir qual pista vai usar e, na dúvida, permanece em cima da faixa.

Eu fico nervosa quando pessoas param pra conversar em frente à escada da faculdade, impedindo a minha passagem. Fico bufando quando o povo se enrola e eu não consigo chegar depressa ao meu objetivo, seja ele qual for. Comentei isso com uma amiga outro dia. Eu não sou do tipo de pessoa que curte o caminho, observando a paisagem. Se eu quero chegar, eu quero chegar logo! E não saio de casa horas antes pra chegar pontualmente. Eu já conto com o fato de que vou chegar atrasada, mas pretendo ir correndo, sempre. Imaginem se durante a redação da minha monografia eu poderia ficar calma, tranqüila!

É triste admitir, mas eu sou uma pessoa estressada. Não tenho paciência pra lenga-lenga dos depressivos, do mesmo jeito que não tenho saco pros distúrbios da moda (transtorno bipolar, DDA, distimia, síndrome do pânico, DOC, TOC, blá blá blá). Como diz minha mãe (psicóloga), antigamente só se diagnosticava psicose. Agora você tem esse leque imenso de opções. Não que eu (ou minha mãe) esteja criticando o avanço da Psicologia e da Psiquiatria. Mas as pessoas parecem se sentir reconfortadas por receberem um rótulo qualquer que justifique suas doideiras (sem contar a imensa maioria que se auto-diagnostica pra usar a "deficiência" como sobrenome). "Ufa, isso tem explicação". Demonstram uma estranha satisfação em dizer: "Oi, eu sou a Fulana e sofro de síndrome do pânico". "Sou publicitário e tenho DDA". Uau, que legal. Meu nome é Oksana e pessoas me causam gastrite, mau humor e cefaléia.

Alguém pode me dizer que estresse é muito “anos 90”, mas tudo bem, não faço mesmo questão de acompanhar as tendências sintomáticas da humanidade. O mau que me aflige ainda é esse, e eu o alimento com a minha falta de aptidão para o planejamento, a organização e a tolerância. É a corda no pescoço que me inspira. O desespero me incentiva, e a última hora pra mim é tempo demais: 60 minutos!

Quem arca com as conseqüências é o meu pobre organismo sedentário... Encerrado o período de intenso e absoluto estresse, as olheiras parecem estar definitivamente impressas na minha face; só sinto sono durante o dia; minha coluna está destruída, e fui nocauteada por uma gripe selvagem. Mas, em compensação, já estou quase – QUASE – me readequando ao convívio social. Juro! Hoje eu nem mordi ninguém.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Viva, e muito.

Sim, estou viva ainda. Aliás, dia desses estava pensando na imortalidade virtual. Ou seja, a pessoa morre, mas o perfil dela continua lá no Orkut pra sempre, recebendo aqueles scraps toscos: “onde quer que esteja, saiba que estou com saudades”; escritos pelo pessoal que acredita em acesso à internet após a morte. Ou pior: “eu não te conhecia, mas desejo que descanse em paz”. Porque morrer não é empecilho pra dar início a uma nova amizade, certo?

Mas esse não era o assunto da pauta de hoje. Em primeiro lugar, quero dizer que a estratégia sórdida empregada no meu derradeiro post para atrair mais leitores tarados não obteve o sucesso esperado. É verdade que no dia seguinte à publicação do texto o número de acessos aumentou, mas ninguém chegou aqui procurando sexo e sacanagem. Óbvio, se você digitar palavras relacionadas ao tema no Google, vão aparecer milhões de sites antes do meu blog tão pobrezinho em matéria de perversões sexuais (ao contrário da minha mente... ops).

O forte do “Quem no Cosmos?” é mesmo “encoxadas no ônibus”. A expressão digitada assim, entre aspas, conduz a um resultado em que meu blog é o segundo colocado! E até uns dias atrás era o primeiro. Mas não vai ser hoje que vou saciar a lascívia dos maníacos do busão, com um relato imaginário em que a vítima encoxada por um desconhecido, contrariando todas as probabilidades, fica excitada em vez de irritada e indignada. Sério, esse povo precisa parar de ler/escrever contos eróticos e descobrir o que é sexo de verdade: uma relação em que duas pessoas adultas, de comum acordo, fazem somente o que querem, quando querem, do jeito que querem. Se a conduta sexual de alguém afeta negativamente a liberdade sexual de outrem, é definida como crime, e não mais preferência ou gosto pessoal.

Ah, sim, ia contar para vocês que ando ausente em razão da minha monografia, que por acaso trata de crimes sexuais... Claro que eu deixei pra última hora e agora tenho passado as madrugadas (e todos os momentos livres) diante do PC escrevendo, escrevendo, escrevendo.

Queria também dizer, mais uma vez, que amo demais as minhas amigas. Sem desmerecer os amigos, especialmente os pouquíssimos que me oferecem uma amizade constante e despretensiosa (Sinhoooo).

Mas a relação com amigas é diferente. Eu entendo cada uma delas, mesmo quando fazem coisas que eu não faria, porque a opção já me passou pela cabeça. Vivencio o sofrimento e a alegria delas. Fico sem dormir quando uma amiga engravida de um “ficante” e decide abortar, com o apoio da família. Fico apreensiva quando outra amiga engravida de um amigo e resolve ter o filho, com o apoio da família. Preocupo-me com minha amiga que está sem perspectivas. Choro quando uma amiga é internada para tratamento psiquiátrico, porque o mundo tem sido cruel com ela. Sinto medo quando minhas amigas tomam ecstasy, canso quando minhas amigas riem de coisas que não têm graça porque fumaram maconha, e me preocupo quando minha amiga bebe demais e apaga. Fico irritada e compro briga se um cara inconveniente dá em cima de amiga minha e não percebe quando começa a ficar desagradável. Fico feliz quando minha amiga começa a fazer o curso que tanto queria. Choro de emoção quando minha amiga é pedida em casamento. Comemoro o 10 que a minha amiga tirou na banca. Sorrio ao ver a foto do bebê da minha amiga e chamo minha mãe pra ver. Escuto com interesse as aventuras de cada final de semana. Torço pelo sucesso de cada romance que começa. Rio quando a amiga certinha consegue se soltar e fazer uma besteira. Fico feliz quando minha amiga telefona, em pleno domingo, avisando pra eu me vestir em 5 minutos e largar a monografia, porque isso é um seqüestro. Detesto os caras que fazem minhas amigas sofrerem. Adoro os encontros Fischers. Não entendo como minha amiga linda pode fazer tantos feios felizes. Fico intrigada quando o ex da minha amiga surge com lembranças do passado, mexendo com a cabeça dela quando ela finalmente está numa boa. Cuido da minha amiga que, quando bebe, esquece que não fuma, que não usa óculos e, se duvidar, esquece que ex é diferente de atual. Sinto saudades das amigas que não vejo há tempos. Sinto saudades das amigas que vi ontem à noite. Guardo os segredos delas, e elas guardam os meus. Divido minhas inseguranças com elas, e dou conselhos como se eu soubesse das coisas.

Amizade também é um jeito de amar.

Amo vocês!
Amiga (qualquer uma delas) em discussão imaginária com açougueiro intransigente:
_ Mas, moço, eu só quero a lingüiça, você não pode me obrigar a levar o porco inteiro!

Paciência.

quinta-feira, agosto 03, 2006

O que importa é o conteúdo (erótico)

Toda vez que acesso o Webstats sinto vontade de ser repetitiva e escrever mais um texto contando sobre as buscas toscas que trazem as pessoas igualmente toscas ao meu blog. É cada uma... Impressionante como “encoxadas no ônibus” é um assunto que continua despertando a curiosidade de alguém todos os dias. Os dementes devem ficar decepcionados quando clicam no link do “Quem no Cosmos?” e dão de cara com um texto romântico declarando meu amor pelo meu mamute. Essa semana teve um buscando “encoxadas e mãos na bunda dentro do ônibus”. E cada vez que eu escrevo essas palavras aparece mais gente, e assim o blog vai ficando mais popular.


Por isso resolvi escrever (sexo) esse texto recheado de (sacanagem) palavras-chave que farão (putaria) com que mais e mais leitores (tarados) cheguem até aqui! Afinal, não é só porque se tratam de maníacos sexuais que devo desprezá-los como público (safado).


E mais: o Google publica mensalmente (e também anal, digo, anualmente) as palavras (peladinhas) mais pesquisadas por país. A publicação (sem-vergonha) mais recente já está desatualizada, referindo-se ao mês de junho, mas tudo bem. Vou pornô, ou melhor, pôr no texto a seguir os termos mais buscados naquele mês (palavras em negrito). É evidente que vai ficar desprovido de sentido, mas servirá para testar se o número de acessos aumenta em razão dessa minha estratégia (safadinha) sórdida.


Que comece a palhaçada (sim, porque até agora era um texto muito sério).


A Copa do Mundo de 2006 foi uma decepção para cada um dos milhões de consumidores que não sabem o que fazer com a bandeira do Brasil de plástico comprada no camelô. Afinal de contas, somente em 2010 será necessário novamente exibir algum patriotismo. Mas nada se compara ao arrependimento das pessoas que deixaram de participar da festa junina para assistir aos jogos. Deixaram de comer pé-de-moleque pra ver perna-de-pau.


Especialistas consideram que Ronaldinho Gaúcho se comportou como um rebelde, só porque teve que passar o dia dos namorados sozinho. Enquanto isso, Britney Spears se recuperava de uma forte crise de gases. Durante uma entrevista coletiva, ela se limitou à seguinte declaração: “Oops, I did it again”.


Ronaldo, o “fenômeno”, parece ter tido problemas com a receita federal. Ao que tudo indica o gorducho continua preferindo a receita de virado de feijão que está na sua família há décadas.


Neste mês será aplicado o Enem 2006, e os internautas aguardam ansiosos pelo e-mail com as novas preciosidades escritas pelos cerumanos que participarão do exame, pois nessa terra ensi plantando tudo dá.


Estou com preguiça de inventar uma notícia para cada personalidade restante, então vou apenas anunciar o ménage a trois entre Avril Lavigne, Angelina Jolie e David Beckham! Chapados, ao som de Bob Marley! Um escândalo! Vocês viram as fotos? Não??? Nem o Bussunda.

(Um minuto de silêncio).

quarta-feira, junho 28, 2006

Webstats

Coisa que me diverte muito é checar no site de controle estatístico dos acessos ao blog (Webstats) o meio pelo qual os leitores encontram o “Quem no Cosmos?”. Além dos links em outros blogs e no orkut, muita gente chega através de sites de busca, procurando coisas absolutamente esdrúxulas. A idéia de publicar esse tipo de coisa não é nova nem minha, mas é divertida.

A seguir, para vosso deleite, exponho as pesquisas mais burlescas e proponho possíveis soluções aos dilemas dessa gente esquisita que aparece aqui buscando coisas inacreditáveis. Enjoy!

I. Pesquisas no MSN Search


a) “no mundo q vivemos, quem sou eu?”
(Respira fundo, Oksana)
Essa é mesmo uma questão fundamental. Fundamentalmente mal escrita. Mas o interessante mesmo é você perguntar isso para o MSN Search. Ainda se fosse para o Google, que tem a resposta de todas as perguntas...
Bem, o que importa é que você está se questionando!
Lamento apenas o fato de que o sistema de busca do MSN não seja deveras eficiente. Se o fosse, em resposta à sua pergunta, em vez de conduzi-lo ao meu blog, tê-lo-ia direcionado a um site sobre características das amebas.

b) “plano de aula com o tema olfato de 2ª serie”
Não estou entendendo... O tema é “olfato de 2ª série”? Ou o plano de aula é para a 2ª série? Estou perguntando porque tenho vários planos de aula nos arquivos do meu blog (antes que um imbecil comece a procurar: ironia, gente, ironia!).
De um modo ou de outro, você pretende dar aulas? Ah, a educação no Brasil é uma tristeza mesmo...

c) “texto falando do surgimento dos numeros mas q seja pequeno”
Ugh... OK, vamos lá.
Quando você digita os termos para busca, deve usar palavras que estejam contidas no texto que deseja, e não as características que ele deve ter. Por exemplo: se você quiser encontrar o Soneto da Fidelidade, pode digitar “de tudo ao meu amor serei atento”. Não adianta escrever “quero aquela poesia bonita que a minha namorada gosta”.
Na sua busca, bastava digitar “surgimento dos números”. Desnecessária a parte “texto falando do”. E completar a busca com “mas q seja pequeno” demonstra que além de preguiçoso você é muito, muito burro. E “números” tem acento.

d) “vaca devassa”
Ou o cara procura notícias sobre a ex-namorada (espero que não seja eu) ou esse link deve ajudá-lo.


II. Pesquisa no UOL Busca

a) “os decotes de luciana gimenez”
Procure no Google Imagens pelos termos “Luciana Gimenez”. É absolutamente dispensável que você escreva “decotes”. Se ela não estiver nua, vai estar de decote.

III. Pesquisas no Cadê

a) “quem foi as primeiras mulheres a trabalhar no mundo”
Primeiro: o verbo deve concordar com o sujeito. O correto seria: “quem FORAM as primeiras mulheres a trabalhar no mundo”. Nesse caso o sujeito e eu concordamos que você é estúpido. Quanto à sua dúvida, vejamos. As primeiras mulheres a trabalhar no mundo foram as primeiras mulheres do mundo. Sim, porque elas viviam com os primeiros homens do mundo, e homem dá um trabalho... Só quem tem um sabe.

b) “cara de quem joga lixo no chão”
É assim.

c) "quem faz monografia"
Geralmente é aquele pessoal que está concluindo um curso superior, sabe?

IV. Pesquisa no Yahoo Search


a) "ENCOXADAS NO ÔNIBUS"
Disgusting.
Óbvio que se trata de um pobre (de espírito!). Pra se excitar dentro de uma lata fétida entupida de assalariados, desempregados, aposentados, estudantes e estagiários (como a gente sofre), roçando numa pessoa que muito provavelmente só não vomita na sua cara porque está de costas, só pode ser pobre mesmo, em todos os sentidos.
Sempre peço a Deus que gente assim seja estéril. Eeewww pra você. E saia já do meu blog.


V. Pesquisas no Altavista

a) "quem são as forças cosmicas do universo?"
Como diria o Inri (ouçam a benção em todas as línguas, é muito bom! Eu particularmente adoro a versão em alemão), é o MEOO PFFUAAI!!!

b) "monografia do cemitério"
Éhm... Cuma?

VI. Pesquisas no Google


Finalmente! Não entendo esse povo que fica pesquisando nesses sites alternativos! Será que eles não sabem que o Google é o grande Oráculo, o Guia Espiritual, conhecedor de todos os mistérios e temas de trabalhos acadêmicos? Humpf.

a) "Segredo do Cosmos"
Sinto muito, mas não estou autorizada a revelá-lo a vocês, pífios mortais.

b) "origem da sífilis"
Bem, aí depende. Se você quer saber a origem histórica, leia o texto “Lé-ri-bi no Cosmos” (post do dia 17.01.2006). Mas se você deseja descobrir a origem da sua... Vai ter que dar uma analisada na sua listinha (ou listona, vai saber)... Só sei que não fui eu! Desde o Século XVII eu não pego Sífilis!

c) "Encoxadas no ônibus"
Mas você aqui de novo?

d) "nome verdadeiro de woopy goldberg"
É Caryn Johnson. Você talvez tivesse encontrado se procurasse direito: o correto é "Whoopi Goldberg", e não Woopy.

e) "brancona gostosa"
Sou eu no inverno. OK, OK, o ano inteiro. Não tenho culpa de ter esse corpão quase isento de melanina.

f) "as meninas de cosmos"
Estão por aí com os meninos de universo.

g) "caminhante do céu solar"
Não, não. Eu sou caminhante do céu PLANETÁRIO, não solar. E vermelho.

h) "fotos de hereges morrendo na fogueira"
Ah! Eu também adoro as fotografias que o pessoal tirava na Idade Média!

i) "historia da bauducco"
Bem, tudo começou em 1948, quando o Sr. Bauducco e sua família chegaram ao Brasil. Vai no site da Bauducco e clica em “História da Bauducco”.

j) "como se vas carros de controle remoto em casa"
Invelismente eu não sei como se vas, se não eu mesma vasia vários! Não deve ser muito vásil!

Ai, ai... Como é boa a sensação de auxiliar as pessoas!
Ah! Termino esse post com os meus sinceros votos de sucesso ao beu bais belhor abigo, o Sinho, que conseguiu vencer os grilhões do Dia da Marmota! Parabéns, Sinho!

sábado, junho 17, 2006

Olá! Seja bem-vindo(a)!

Não é que eu não tenha o que dizer, mas estou com muita preguiça de escrever. Peço que tenham paciência comigo, queridos leitores.


Daqui a pouquinho eu volto.


Beijos

sábado, junho 03, 2006

Do avesso

Discorro sem o menor entusiasmo sobre o uso abusivo do direito de propriedade e as sanções legais aplicáveis no direito de vizinhança, com as pernas e as costas doloridas das câimbras freqüentes e de passar horas sentada diante do PC em posições pouco ortodoxas (geralmente sentada sobre uma perna dobrada, ou, como agora, com as duas pernas sobre a cadeira, e um dos joelhos servindo de apoio ao queixo), cansada, estressada, preocupada com tantas coisas por resolver. Ouvindo blues, com vontade de comer alguma coisa e ao mesmo tempo lembrando que hoje comi demais. Sei que vou dormir muito pouco essa noite, que minha mãe vai me acordar cedo e que eu vou ter que sair em busca de caixas de papelão para a mudança. E que depois vou ter que, a contragosto, me aventurar entre todos os papéis, documentos, comprovantes de pagamento, anotações que juntei ao longo dos meros 13 meses que se passaram desde a derradeira mudança. Sei que preciso me desfazer de grande parte da papelada, e sei que vai ser extremamente tediosa a seleção do que é lixo e do que pode ainda ter alguma utilidade. E as roupas e sapatos, eu sei que não vão caber todos no armário do novo apartamento, e bem que gostaria de me desfazer de boa parte do que tenho, se ao menos eu pudesse adquirir coisas novas. Penso mais uma vez nas contas a pagar. Até agora não achei um comprador para o meu rim. E a prova de Civil me vem à mente. Como vou conseguir tirar a nota de que preciso sem ter ido a nenhuma aula? E ainda preciso de uma cama. E de botas, e de uma calça jeans. Mas antes seria bom pagar pelo menos a parcela mínima do cartão de crédito. Eu devia mesmo procurar um emprego de verdade. Embora eu goste tanto do meu trabalho e aprenda muito com ele. Preciso de dinheiro. Por outro lado, não gostaria de começar a trabalhar em outro lugar antes das minhas prováveis férias de julho, que pretendo passar integralmente com meu namorado. Tenho que pagar a primeira parcela da comissão de formatura (na qual eu entrei muito tardiamente) essa semana e, até agora, nem sinal de uma solução milagrosa. Lembro que preciso terminar o trabalho ainda hoje, e não devia estar escrevendo esse texto inútil agora. Meu namorado está doente (de novo) e eu queria estar com ele. Deitar junto dele, aquecê-lo, confortá-lo, cuidar dele pra me sentir melhor. Devíamos estar juntos sempre. Tantos casais se vêem diariamente e não merecem esse privilégio. Recordo de todas as vezes que meu chefe e todas as pessoas pra quem eu já trabalhei enalteceram a minha competência e a minha habilidade pra escrever, e vejo que todos esses elogios nunca fizeram diferença na minha conta bancária. Nada disso faz sentido. Parece que tudo o que eu quero está distante, inacessível, e uma avalanche de problemas desaba inopinadamente sobre mim.


Quando é que o meu dia vai chegar?

quinta-feira, junho 01, 2006

Gekkeimae kinchooshoo

Por razões que não cabem ser citadas aqui, desde o dia 9 de maio o meu relógio biológico não está funcionando perfeitamente. Digamos que eu tenha arrancado um dos ponteiros com os dentes, colocado as pilhas ao contrário, ou mesmo destruído as engrenagens a marteladas.

As leitoras do sexo feminino que fazem uso de pílula anticoncepcional sabem que ela deve ser tomada todos os dias no mesmo horário. Então. No mês de maio, tomei por acaso a primeira pílula da cartela às 3 da madrugada. E consegui manter esse horário até o último comprimido. Ontem. Porque nunca durmo antes das 3h. Isso apesar de acordar antes das 9h pra trabalhar, e ir todas as noites pra faculdade, que venho arrastando sem o mínimo de vontade.

É, eu durmo pouco, me alimento mal, não pratico exercícios físicos. É praticamente um milagre ser gostosa desse jeito.

Não creio que seja necessário expor minhas preocupações diárias com a falta de dinheiro, as faturas vencidas, os juros crescentes. Aposto que os meus leitores, todos milionários, não têm noção do que seja esse tipo de dificuldade, sendo portanto inútil a exposição de tais dramas financeiros. E penso ainda que, se eu tenho um rombo tão grande na minha conta, é porque eu tenho muito crédito. Isso me faz sentir mais importante (auto-ilusão).

Monografia, provas, trabalho, futuro, contas, mudança... Palavras inconvenientes flutuam em minha mente e eu tento afugentá-las, porque me perturbam.

De fato são poucas coisas que mantêm minha sanidade. Minhas amigas piradas, minha família e, especialmente, meu namorado. Ele é a minha prioridade, acima do meu cansaço, do meu sono, da minha fome. Por ele eu suporto essa rotina desregrada, os malefícios da falta de cuidado comigo mesma. E me sinto bem na maior parte do tempo. Por ele.

Mas em determinados dias simplesmente não dá.

Hoje acordei às 7h da manhã (embora tenha ido dormir, como sempre, depois das 3h). Fui para a faculdade. Pela primeira vez assisti a essa aula desde o início. Ela acaba às 9h20min, e eu costumo chegar às 9h10min para responder a chamada e ir embora. Descobri que a aula é boa, gostaria de ficar até o final, mas tinha outros compromissos. Voltando para casa, o Bichinho começa a ratear (igual ao Delúbio da Ratazana), e cheirar a borracha queimada. Levei meu irmão para a aula de Inglês e fui com Mommy até o mecânico e, adivinha? Sim, era vela! Igual ao Delúbio!

Levei Mommy ao trabalho dela e fui então deixar meu bebê (também conhecido como aparelho celular) na assistência técnica, porque ele também estava rateando. Depois de duas horas com a maldita senha derretendo na minha mão, finalmente fui atendida. Fui orientada a entrar no site da assistência daqui a 7 dias para ver qual é o prazo que ele vai demorar para ser consertado. Sim, tem um prazo pra eu descobrir o prazo.

Saí de lá e fui a duas lojas pesquisar preços de camas. Vou comprar uma cama nova e estou com preguiça de explicar porquê. E também vocês não têm nada a ver com a minha cama.

Fui então buscar uns documentos num lugar para tirar cópias autenticadas para Mommy. Cheguei ao cartório às 11h34min, e é claro que ele tinha fechado às 11h30min.

Voltei ao trabalho de Mommy para buscar a cadeira onde estou sentada agora (a antiga meio que se desfez de tão velha, e estávamos usando uma cadeira de praia com 3 almofadas diante do PC... patético).

Vim para casa almoçar e uma colega me lembrou no MSN do relatório da palestra da semana passada, que era pra entregar hoje. Bora fazer o relatório. Antes de sair de casa, uma olhadinha no orkut pra verificar o fã-clube do meu namorado se proliferando (praga) e se manifestando em Português pobre. Eu iria me sentir um pouco melhor nesse dia podre se mandasse a ignorante APA², mas ele me cobra autocontrole e insiste que é tudo muito respeitoso. Ah! E ele quer muito ganhar uma taqueira. Sim, eu surfei na tábua dos dez mandamentos, vaiei o sermão da montanha, chamei JC de cabeludo subversivo, enxuguei louça com o manto sagrado, so what?

Mommy ligou no celular do pequeno irmão semiletrado, que ele gentilmente me emprestou. Abre parênteses para apresentar o diálogo:

– Me dá o seu celular.
– Ah, mas e eu vou ficar sem?
– Você só usa o celular pra ligar pra mãe e azucrinar. Você pode fazer isso do orelhão, a cobrar.
– Mas hoje eu vou fazer trabalho na casa do meu amigoooo...
– Melhor ainda, usa o telefone do seu amigo pra azucrinar a mãe.
– Grnhrgrnhrghmr.

Fecha parênteses.

Mommy informou, ao telefone, que eu deveria pegar o trubisco que estava ao lado da mesa do PC e levar ao consultório do meu padrasto, pois ele precisaria do trubisco ainda hoje.

Fui novamente ao cartório para tirar as tais fotocópias autenticadas e depois me dirigi ao endereço que Mommy me deu, onde supostamente eu deveria encontrar o Cartório de Registro de Imóveis. Well, well, well. Parei o carro no estacionamento mais barato, caminhei ALGUMAS quadras e esperei uma vida pelo elevador do edifício. Tinha um velho tremendo (não, não estava frio, era Parkinson mesmo) diante da porta, e eu quase perguntei quantas décadas fazia que ele tinha apertado o botão. Enquanto aguardava impacientemente, me diverti horrores vendo o monitor da portaria, em que uma mulher, dentro do elevador, se arrumava diante do espelho. Cabelo pra lá, cabelo pra cá, ajeita o peito dentro do soutien, limpa o nariz, dá uma olhada na bunda pra ver se a calcinha está marcando, sem perceber a câmera e o simpático Smile sobre a famosa frase: “Sorria, você está sendo filmado”.

Três dias depois, cheguei ao 7º andar. Vazio. Nem uma cadeira, muito menos um cartório. Desisti do elevador e desci de escada. Perguntei ao porteiro (por que eu não fiz isso antes de subir? Ugh!) e ele me deu o novo endereço...

Voltei ao estacionamento e paguei os R$ 2,50 devidos pelo tempo de uma vida que eu levei para essa missão frustrada (viram como é barato? R$ 2,50 por uma vida). Fui até o local correto, e pedi a atualização da matrícula que Mommy precisava.

Fui então até o SESC fazer a matrícula de Mommy (ela de novo... O que a gente não faz por uma mãe?) no curso de informática. Dei 14 voltas no centro da cidade antes de me convencer de que não existia mesmo uma vaga na rua, e parei num estacionamento. Chegando ao SESC... Retire uma senha! ADORO SENHA! ADORO! ADORO! (Só um minutinho, vou buscar uma toalha. Sofri um breve ataque e babei um pouco no teclado)

Saí de lá às 17h35min. Tinha a missão quase impossível de atravessar a cidade para deixar os documentos numa imobiliária longe pra caraaaaa... mba, que fecha às 18h. Massssssssssss... Detalhe: quando saí de casa, com pressa e um pouquinhozinho irritadinha com as coisinhas que só acontecem na minha vidinha, esqueci-de-levar-o-trubisco.

Pilotei o Bichinho com tamanha impetuosidade que eu podia fácil, fácil protagonizar a seqüência de Velozes e Furiosos. Passei em casa, peguei o trubisco e voei para a imobiliária. Se Mommy me visse pilotando o Bichinho dela daquela maneira... Seria o fim de nossas aventuras juntos, né, Twingo?

Cheguei correndo com os papéis na mão, e consegui balbuciar dentre arfadas bronquíticas: “Er... Vocês já estão fechando?” Bem, a moça foi bem simpática e tirou a bolsa dela do ombro e reacendeu a luz para receber os meus documentos... Ufa.

Levei o trubisco para o meu padrasto e fui para a faculdade (de novo!!!).

No caminho, engarrafamento do cacete, gente me fechando, comecei a me estressar, e quando o 3º imbecil tentou entrar na minha frente (sem pedir! Estúpido!), acelerei, ele me xingou... Som no último, nem ouvi.

Sinal aberto pra mim, e os malditos pedestres (frangos de Atari) atravessando na maior tranqüilidade. Eu só vendo que o sinal ia acabar fechando e eu estaria ali no meio do cruzamento, por culpa daquelas criaturas bestiais. Alheio às minhas preocupações com o trânsito, o velhote ia bem faceiro quando abri o vidro e gritei: “Tá com pressa pra morrer, vovô?” Com pressa ele devia estar mesmo, porque saiu correndo.

Na faculdade, o professor não cobrou o relatório que eu me matei pra fazer à tarde e disse que a presença era coletiva. DAVA PRA ME AVISAR ANTES DE EU IR ATÉ LÁ?

Claaaro que antes de voltar para casa, com o corpo inteiro dolorido, com câimbra na perna de tanto dirigir (já posso virar taxista), estressada, com a mesma roupa o dia inteiro, tive que buscar o pequeno semiletrado na casa do amigo.

Percebam a ironia: hoje eu não fui trabalhar. ISSO supostamente foi o meu dia de folgaaaa.

Embora meu corpo exausto só pedisse cama, mesa e banho (não nessa ordem), num esforço sobre-humano eu vim ver se o namorado estava online. Não podia cobrar que estivesse, já que deixei um scrap dizendo que estava muito cansada e não ia rolar skype, e depois é que mudei de idéia (saudades).

O recado dele é que está pregado e já foi deitar. Acredito que ele tenha acordado às 13h55min, mas à meia noite ele está pregado. Tadinho. E eu agora perdi o sono (acho que essa tela brancona do Word fez isso). E não comi nada porque não tenho forças pra abrir a geladeira. Pelo menos banho eu tomei.

Diariamente somos expostos a pequenos acontecimentos desagradáveis, e é normal que saibamos contornar tais situações sem sofrer um surto psicótico.

Mas alguém sabe me explicar PORQUE COMIGO ACONTECE TUDO NO MESMO DIA? E logo em que dia?!!!

Talvez vocês não tenham se dado conta desse detalhe, mas lá no 2º parágrafo eu disse que tomei ontem a última pílula da cartela. Não é necessário medir os meus níveis de progesterona para entender, apenas leia as três letras na minha testa: TPM.

“Há casos de homicídio, suicídio e até infanticídio (matar os próprios filhos) por parte de mulheres que estavam nesta fase. Em alguns casos, a lei pode levar em consideração este fato e reduzir a pena da criminosa³”.

Se você pudesse me ver agora, de calça de pijama, moletom vermelho e abraçada a um coelho de pelúcia, poderia até ficar enternecido com a imagem. Não se engane. Estou estrangulando o animal (desisti de arrancar as orelhas. Malditos brinquedos resistentes).

1 TPM em japonês. Não, não tem um motivo especial pra escolher TPM em japonês como título, mas eu vi aqui e gostei da idéia de dizer que "Não estou louca, apenas estou de Gekkeimae kinchooshoo, oras."

2 APAp*taquepariu.

3 Fonte: http://www.ipcdigital.com/portugues/cultura/550/index8.shtml

segunda-feira, maio 29, 2006

Por que eu amo minhas amigas


Não ia publicar isso. Em princípio, esse texto deveria ser lido apenas pelas personagens dos acontecimentos a seguir narrados. Mas a Ciça pediu pra eu publicar, e eu faço tudo pra vê-la feliz. Porque a Ciça é uma criatura mágica pra mim. Uma fada. Ciça Fadinha. Sim, eu escrevi esse parágrafo inteiro só pra fazer essa piada.


Eu, Ciça e Paula, assistindo a um filme (Casanova) na casa da Lê. Uma cena mostra um gordão nu da cintura pra cima, com toda aquela banha exposta em camadas sobrepostas.


Letícia se manifesta:


– Argh, eu jamais conseguiria ficar com um gordo. Acho que se eu casasse com um cara e ele engordasse eu nunca mais faria sexo.


Ciça completa o raciocínio:


– Com ele, né?


Chega um amigo pra pegar um convite pra festa das meninas, e explicamos pra ele que não tem nada demais acontecendo, estamos apenas as quatro amontoadas no pequeno sofá pra ver o filme e “não repare no espartilho em cima da mesa”.


Antes de acabar o filme concluímos que o Casanova era o ancestral do MacGyver.

Mais tarde, as quatro dentro do carro da Lê, paramos num semáforo (fechado, é claro) e um psicótico pára atrás de nós e começa a buzinar alucinadamente. Sem parar. Por minutos intermináveis, aquele homem buzinando sem nenhuma razão aparente. E mostrando AQUELE dedo pra gente.


A Paula se estressa, resmungando como de costume e ameaçando descer do carro e chutar a porta (ou a cara) daquele louco. Eu, reagindo de forma muito mais normal, começo a gritar que odeio buzina, proferir impropérios contra o imbecil, inflamando mais a Paula ao concordar com os planos dela: “Vamos, vamos, vamos! Quero socar esse feladaputa!!! Vamos, Paulaaaa!!! Vai ser tão legal!” A Ciça fica confusa, sem saber se dá início a uma de suas típicas reações autistas (balançar o corpo pra frente e pra trás repetindo: “buzina... buzina... buzina...”) ou se é mais adequado se unir à ação ofensiva intentada por mim e pela Pequena. A Letícia pensa em chorar, mas consegue com muito custo manter o autocontrole e, principalmente, nos manter dentro do carro.


Mas teria sido bem mais divertido se a gente descesse e desse uma sova naquele maníaco da buzina. Ou se, ao menos, a Paula chutasse a porta dele repetidamente enquanto eu gritava: “ODEIO BUZINAAAAA”, a Ciça se balançava e a Lê chorava... Imagina a cena? Ah, imprimir um pouco de surrealismo ao dia dos demais transeuntes não seria nada mal.


Seguimos em frente, livres do idiota. Eu e a Paula ainda lamentando: “Ah, ia ser tão legal se a gente descesse do carro... Perdemos essa oportunidade. Na próxima a gente já sabe o que fazer.” De repente a Letícia sugere (por que, mesmo? Não lembro!) que nós talvez estivéssemos mortas, vivendo num universo paralelo, como a menina de algum filme. É natural as pessoas sugerirem esse tipo de coisa, afinal. Eu ameaço chorar se ela não concodar que eu estou viva e NESSE universo, sim.


Deparamo-nos com uma moto, ou melhor, um daqueles triciclos enormes, e a Lê exclama: “Olha, o Mad Max!” O cara levava uma loira na garupa, e a Ciça pensou que a mulher estivesse pilotando: “Não, é A Mad Max!” O detalhe é que a loira estava com as duas mãos no cabelo, e antes que a Ciça pudesse completar a frase “ah, pensei que fosse ela que...” eu disse: “Aham, e ela pilota sem as mãos!!!”. A Paula: “Não, Ci, você está confundindo, esse é o Mad Max, não o MacGyver”. E eu: “Nem o Casanova”.


Por fim, paramos o carro próximo à Blockbuster e, enquanto eu, a Ci e a Paula ríamos de alguma outra bobagem, a Letícia sai descalça pra devolver o DVD na locadora...


Enquanto não formos todas internadas, continuo acreditando que somos geniais.

Amo vocês, suas malucas.

Beijos da normalzinha.

sexta-feira, maio 05, 2006

Olha eu aqui!

Olha eu aqui!



Pra quem anda preocupado ou revoltado com o meu sumiço, e também pra quem nem tinha reparado que eu sumi: estou viva! Ausentei-me da vida cibernética porque estava ocupada sendo feliz na vida real.


E agora não é que me falte assunto pra escrever, mas penso que seria medíocre qualquer tentativa de transpor em palavras a felicidade plena que eu descobri...


Entretanto, depois de tamanha displicência com meus prezados leitores, estou sendo punida, cruelmente castigada pelas misteriosas forças universais da internet, as mesmas que operam a mensagem de “bad, bad server, no donut for you”. Todas as máquinas do mundo se rebelaram contra mim.


O lixo que eu tenho lá em casa e que costumo chamar de “PC” daria um ótimo peso de papel. Embora não tenha mais de DOIS MESES de idade, e o Padrasto ainda esteja pagando as primeiras parcelas, o trambolho já deu muito mais problema que a máquina antiga, que me acompanhou por tantos anos. Um dia era a internet que não conectava, depois um programa que não abria, depois ele reiniciava automaticamente ad infinitum até eu me irritar e desligar da tomada, depois o teclado travava, e tinha que desplugar e plugar novamente, em seguida o mouse travava, até que desconectar os cabos já não resolvia, e só dava mesmo pra desligar a máquina pelo modo ignorante (um chute na fonte acompanhado de xingamentos) e, por fim, nada mais funciona.


Aqui no trabalho, ontem precisei reiniciar a máquina cerca de 15 vezes entre as 9h45min (horário em que eu cheguei) e as 10h45min (horário em que eu fui embora). De que adianta eu ficar aqui se o computador não funciona? O pior é que nós, estagiários (essa sub-raça mal-remunerada e vilipendiada, desprezada, desvalorizada, desamparada, menosprezada, desdenhada, depreciada, aviltada e todos os demais sinônimos que alguém puder imaginar) desta nobre seção do Poder Judiciário paranaense, não temos a senha de acesso para logar nas máquinas, de modo que, cada vez que esse troço trava e tenho que reiniciar, eu preciso chamar um funcionário do cartório pra digitar a senha dele.


E O QUE É INFINITAMENTE PIOR: A POLÍTICA DE UTILIZAÇÃO DA REDE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA É EXTREMAMENTE EFICIENTE! Todos aqueles sites comumente utilizados por gente desocupada pra acessar coisas proibidas e páginas bloqueadas, aqui não funcionam. Sabe todos os serviços de messenger online, desde os mais famosos (e-messenger, msn2go, webmessenger) até a última alternativazinha (Mastline, WBMSN, MSN Anywhere, Piglet IM, iloveim, Centova, Meebo)? TODOS BLOQUEADOS!


Sabe os proxys pra acessar o Orkut? TUDO BLOQUEADO! Malditos técnicos de informática... Até sinto falta do Cegonha (era o cara que controlava os ânimos de todas as máquinas no escritório que eu trabalhava, e evitava que elas se rebelassem. Ah! E liberava o orkut e o msn quando eu pedia fazendo beicinho).


Na faculdade o controle não é assim tão rígido, ainda consigo acessar uma coisinha ou outra (melhor não revelar como), o Orkut eu até abro, mas não consigo entrar (precisa desabilitar os cookies e eu não consigo com a senha de usuária).


Em resumo: como as minhas habilidades de hacker não vão além dos segredinhos revelados em fóruns na internet que qualquer retardado pode achar no Google (inclusive os retardados que promovem o suporte técnico e bloqueiam o meu acesso no trabalho e na faculdade), me ferrei!


Não tenho acesso ao Orkut! Nem ao MSN, nem ao Skype, nem nada que realmente interesse num computador. Estou isolada virtualmente! Longe do meu namorado, de TPM, sem a diversão cibernética, num frio do cacete (meus dedinhos estão semi-congelados no teclado agora)... Combinação terrível.


Fiquei tão deprimida que ontem fui às compras... Argh! Master Card e Visa são sucursais do inferno, companhias satânicas administradas diretamente pelo Cão. Só isso explica o fato de elas darem crédito materializado numa lâmina plástica a uma perdulária como eu.


Voltei pra casa cheia de sacolas e dívidas. E com uma vontade imensa de entrar no MSN...

quinta-feira, abril 13, 2006

Minhas mulheres

No mesmo dia em que escrevi o texto do meu derradeiro post, antes de eu publicá-lo e mesmo comentar o assunto com alguém, recebi por e-mail um texto escrito pela minha big sista Letícia.
Impossível não notar a sintonia entre nossos pensamentos. Resolvi publicar aqui o que ela escreveu por dois motivos: primeiro porque acho injusto um texto tão bom ser reservado às poucas privilegiadas destinatárias do e-mail dela. O segundo é porque muitos dos meus 12 leitores (aê, tá aumentando!) não conhecem a Lê (muito azar de vocês), e alguns dos que conhecem não sabem que além de todos os predicados da moça (se eu fosse homem juro que entrava na fila de pretendentes) ela ainda tem a capacidade de expressar por meio de palavras escritas a sua percepção fantástica e sensível de coisas que a maioria dos seres supostamente pensantes nem se dá conta.
Assim, devidamente autorizada pela autora, compartilho com vocês um texto dela que é uma das pessoas que eu mais amo e admiro nessa vida. Um pouquinho de Letícia pra vocês.


Minhas mulheres


Hoje queria falar às mulheres. Às minhas mulheres, minhas amigas, minhas irmãs (atuais ou futuras). Acho que não há uma que esteja satisfeita com os relacionamentos atuais. Será epidêmico? Será fruto de um desvio (ou anomalia já dominante) da biologia? What the fuck is happening?


Nós alcançamos todos os campos antes considerados masculinos, ainda dominamos a casa e fizemos tudo de salto alto. Como não dizer que somos superiores? E, ainda assim, é cansativo, inevitavelmente doloroso, ver tantas mulheres – minhas mulheres – inteligentes, trabalhadoras, bonitas e desafiadoras, tão incompletas! No fundo, permanecemos românticas: à espera daquele que será divertido sem ser galinha, inteligente sem ser pedante, bonito sem arrogância... Que nos proporcionará aventuras inusitadas dentro de uma segurança inabalável.


Não é tão difícil. A fórmula para o coração de uma mulher é simples e já foi mais que divulgada em comédias românticas e livros de auto-ajuda: faça-a especial. E aqui não valem as receitas prontas, rosas vermelhas em dias de briga, um jantarzinho no lugarzinho de sempre, um ovinho na Páscoa. Estes clichês até podem ajudar de vez em quando, mas se você não a surpreender, um dia ela descobrirá que você só é mais um ator, recitando uma peça relida milhares de vezes. Uma mulher espera que, às vezes, um homem a faça sentir que tudo pára porque ela passa em sua vida. E - esta é a parte mais incrível - isso pode ser sim transmitido com apenas um olhar.


Infelizmente, a realidade não parece muito propensa para olhares. Não os deste tipo. Parece só haver os pesares das que já procuraram (ou até acharam ter encontrado) um brilho único para si.


É verdade, é menos doloroso achar o equilíbrio, ficar dormente com a realidade, se importar um pouco menos, voar mais baixo. Mas a visão a 10 cm do chão nunca é tão bela quanto das nuvens... E toda mulher sabe disso. Ela se adapta porque não lhe restam opções. E então ela joga, beija um, se expõe, diz que não mais se importa, beija o amigo do “um”, bebe e se caleja dos sentimentos que um dia quis. Mas eu sei que por trás de toda essa cortina de decepção, ainda existe a menina à espera.


Pelo menos hoje eu tenho certeza de que tenho muito dessas meninas comigo. Às vezes sofrendo. Às vezes sorrindo. Mas todas estão ao meu lado quando a aventura não chega e a segurança esvai-se em poucos segundos. Thanks God for all of you.

terça-feira, abril 11, 2006

Equilíbrio senil

Dentro de mim costumava morar uma menina. Insegura como toda menina, requeria cuidados, carinho, atenção. Era também possessiva. Todo mundo sabe que é na infância que valoramos com máxima intensidade o pronome possessivo na primeira pessoa do singular. Tudo é meu. Se estiver no chão, é meu. Na minha mão? É meu. Na sua mão? É meu. Eu gosto? É meu. Era preciso ser muito paciente com a menina.


Por outro lado, ela era intensa. Sua inocência consistia no dom de confiar, de acreditar. Ela nunca mentiu, por isso não cogitava que pudessem mentir para ela. Mentir pra quê?


Ela era autêntica, original. Não sofria do mau que assola a maior parte da população mundial: todos querem ser iguais. Enquanto os outros desprezam a diferença, a menina sempre fugiu da mesmice. Ela era única.


E apaixonada. A paixão é um salto no escuro, requer uma dose de ingenuidade. A menina era ingênua o suficiente pra brincar com o perigo, confiante. Sua entrega desconhecia limites. E ela não temia a queda, porque tinha asas.


Não sei dizer ao certo se aquilo era coragem ou imprudência. Encarava os oponentes sem receio, porque sabia que podia com eles. Os únicos seres que poderiam, se quisessem, ferir a menina, eram aqueles que ela amava. E por que eles fariam isso?


A voz trêmula me perguntou, e eu não soube responder. A decepção era o monstro no armário da menina... Assustada, ela se escondeu tão bem, que a falta de qualquer vestígio me faz temer que ela tenha ido embora de vez.


Maturidade não depende da quantidade de anos que você viveu, mas da bagagem de experiência que adquiriu nesse tempo. E o sofrimento potencializa o aprendizado. Temo chegar aos trinta anos com a sabedoria de uma bisavó.


Caminho sem pressa rumo ao equilíbrio. Chega de sobressaltos e palpitações. Quanto mais baixas forem minhas expectativas, menores as chances de sofrer surpresas desagradáveis. Se as alegrias forem menos intensas, as tristezas também assim serão. Quanto menos me importo, menos dor eu sinto. Alerto, entretanto: me conformo com o nada, mas se for me oferecer algo, saiba que não me contento com pouco.


Escolho o tépido, o monótono, o insípido, o uníssono, o menos arriscado.


Não me faça mais sofrer.


Sinto falta das minhas asas.

sábado, abril 08, 2006

Sua vida é resultado das escolhas que você faz

Certamente, pensar e sentir é uma alternativa melhor do que repensar e ressentir.

Adiante. Faltando inspiração para um texto que vos incite a reflexão, relato trechos de diálogos felizes do meu dia. :D

Hoje, no bar:

_ Você está com uma cara ótima, pensei que ia te encontrar cortando os pulsos.

_ Ah, então você devia ter me visto à tarde. Mas depois tudo melhorou. Não tive cabeça pra estudar, cheguei atrasada na faculdade, e ainda fui tirar cópia de um texto que um colega disse que dava pra consultar na prova. Não sabia qual era o texto, na dúvida xeroquei os 3 menores dos 4 que estavam na pasta do professor. Cheguei à sala 20 minutos atrasada. Descobri que a prova era em dupla, e eu não tinha alguém pra fazer par comigo. O professor desfez um trio e mandou a menina sobressalente se unir a mim. Fiquei sabendo, então, que o texto certo era aquele 4º, o maior, único que eu não xeroquei. E a sobressalente também não tinha xerocado (nem lido, é claro). Consegui um texto emprestado com uma nerds boazinha, fui localizando as respostas e a minha parceira foi redigindo (ela quis, e eu não estava em condições de argumentar). Nem li o que ela escreveu. E, apesar de termos iniciado a prova com meia hora de atraso, fomos a primeira dupla a terminar... Isso não deve ser bom sinal.

_ Tá, e o que isso tem a ver com você não querer mais cortar os pulsos?

_ Ah, sei lá, isso me fez sentir bem!

(As pessoas me olham de modo estranho)

Mais tarde, no carro da Ciça:

_ É, amiga... Não é fácil mesmo esse negócio de gostar de homem. Mas, imagine: uma discussão de relacionamento entre lésbicas deve ser insuportável! As duas partes sensíveis, choronas... Sem contar que relação sexual de lésbica é uma seqüência interminável de preliminares!

E, no mais, esse post é um agradecimento às minhas melhores amigas (se você não é uma delas pode parar de ler aqui).

Graças a vocês eu não sou a pessoa depressiva e insuportável que eu poderia ser.

Não há tristeza que subsista a nossa união.

Amo vocês.

segunda-feira, abril 03, 2006

Planos? Blah

Plano do dia: concretizar algum dos meus planos. Qualquer um deles. Estudar para as provas dessa semana. Terminar a petição pra aula de amanhã. Ler um texto pra quarta-feira. Verificar o preço e, talvez, até me matricular na academia. Mandar ajustar minhas calças (emagreci 8 kg e elas estão todas enormes). Fazer minha monografia. Terminar os livros que larguei na metade. Secar o cabelo. Visitar a amiga, conforme prometi. Preencher o cadastro de voluntária e enviar pra assistente social do orfanato. Pagar minhas contas vencidas (com que dinheiro? Hummm... Acho que já sei porque elas estão vencidas). Levar uns sapatos pra consertar. Trocar meu presente de aniversário no shopping. Comprar o presente de formatura da minha amiga (eu disse “comprar”? É que ainda não me conformei com a condição de falida). Ir ao PROCON reclamar da Brasil Telecom (I hate Brasil Telecom). Terminar este texto.


Tantos detalhes práticos que eu preciso acertar, tantos assuntos que preciso resolver, tantas tarefas a realizar. A simples menção da praticidade me altera o humor. Sou símbolo da abstração. Ícone da metafísica. Meu corpo só não flutua pra não chamar a atenção. Meus cuidados se direcionam ao etéreo, ao que não se vê. Minha satisfação independe do concreto. Minha felicidade se faz feito colcha de retalhos: fotografias, memórias, canções, palavras, desejos, sentimentos recíprocos, promessas que não precisam ser pronunciadas. Projetos vagos. Não consigo enxergar além de duas semanas adiante. É o que me basta, por ora.


Não tenho tempo para o que é necessário. Urgências não me comovem, menos ainda me desesperam. Aguardo impassível uma solução extraordinária para os meus problemas. Eu sei que ela surgirá. E será mesmo de minha autoria e responsabilidade, mas precisa de tempo e espaço para fluir. Minha solução é inspiração.


Vou secar o cabelo.

sábado, março 18, 2006

A pequena Oksana


Durante muito tempo a estrutura familiar que eu conhecia (eu e minha mãe) foi tão equilibrada e segura que, não fossem pelos “presentes” de Dia dos Pais que eu precisei fazer nas aulas de educação artística (cartões, chaveiros, porta-copos e outras inutilidades que meu tio acabou ganhando), eu provavelmente não teria percebido que o “normal” era viver na mesma casa que a mãe E o pai. Vivemos muito bem só nós duas, até minha mãe se casar com meu PAIdrasto, o que não foi de todo ruim, exceto pelo trauma de que eu não pude mais dormir com ela. Quatorze anos de relacionamento depois (12 de casamento), eles se separaram, e hoje sou mais feliz porque, morando apenas com minha mãe e meu pequeno irmão semiletrado, posso andar de calcinha e soutien pela casa.


A minha lembrança mais antiga é um tanto embaraçosa e eu não conto pra ninguém. Tinha dois anos de idade, usava fraldas, tinha lindos cabelos cacheados, e isso é tudo que direi sobre o assunto.


Lembro-me de poucas coisas daquela época: eu brincando no balanço no parquinho, a casa da vizinha em frente ao meu condomínio (se não me engano ela tinha duas filhas um pouco mais velhas que eu, e havia uma banheira no quintal onde nós três brincávamos), o apartamento da vizinha que tinha um fedor insuportável de urina, e o dia em que a filhinha dela me mostrou o penico debaixo da cama: obviamente estava cheio. O remanescente das minhas memórias de antes dos 5 anos de idade foi forjado de fotografias e relatos de minha mãe. Como quando ela chegava do trabalho e encontrava a filha da vizinha calçando meus tênis novos, e ao me cobrar uma explicação, ouvia: “Mas mãe, eu ainda tenho meus tênis velhos, e ela não tinha nenhum”. E tantas vezes mamãe teve que bater na porta da vizinha explicando que eu, aos 3 anos de idade, não tinha autonomia para decidir o que fazer com as roupas, sapatos e brinquedos que ela havia acabado de comprar para mim, de modo que tais bens tinham que ser devolvidos. Bom seria se eu tivesse conservado aquele ânimo desapegado até a idade adulta.


Não me lembro também do Rafael Rodrigues, mas pelo que mamãe me conta, ele foi meu primeiro amor. As “tias” da escolinha “Estrela de Mel” chamaram minha mãe pra ver a gente andando de mãos dadas e dizendo “eu te amo” um pro outro. E ele usava óculos.


E minhas conversas com espíritos (ou amigos imaginários, para os céticos) que assombravam minha mãe.


- Com quem você está falando, menina?
- Com a vó. Ela disse pra você não se preocupar que ela só veio ver como a gente está (minha avó faleceu quando eu tinha um ano e uma semana de vida).


Afirmava cheia de convicção: “Mãe, eu sei que você é minha mãe, mas antes eu tinha uma outra mãe, pai e irmãos. E eu era homem. Morri no mar e os peixes me comeram”.


Passava horas, dias brincando sozinha. Não havia universo que minha imaginação não alcançasse. O instinto maternal exacerbado já era evidente: adorava brincar com minhas 10 bonecas, e quando minha mãe dizia pra eu brincar com apenas uma de cada vez, e não bagunçar a casa inteira, eu explicava que era impossível. Como eu poderia escolher um de meus filhos e abandonar os nove restantes? Ela, como mãe, teria que entender. E entendia.


Adorava brincar de heroína, protagonizando aventuras dramáticas em que a minha cama era um bote salva-vidas de um navio que havia naufragado, e eu passava dias à deriva, sofrendo todas as privações, cercada de tubarões que esperavam que alguém caísse da pequena embarcação durante as tempestades. Claro que eu não estava sozinha no bote, meus 10 filhos estavam comigo.


Tinha ainda uns bonecos em miniatura, com os quais eu construía a vida de uma cidade. Quando outra criança vinha brincar comigo, acabava se entretendo com a vida que eu criava, em vez de brincar com os bonequinhos que eu havia emprestado pra que fizesse o seu próprio bairro. Aquilo me irritava. “Ei, cuida da sua vida!” Até hoje sinto que algumas pessoas gostam mais de observar a vida alheia do que de viver a sua.


Ah! E eu chorava demais. Ainda choro, é verdade, mas agora eu me escondo pra fazer isso. Segundo minha mãe, eu fui um bebê fofinho (goooorda) e tranqüilo, a única no berçário da maternidade que, em vez de chorar, observava tudo ao redor com os olhinhos cheios de interesse. Mas depois de uns 5 anos, eu chorava pra tudo. Pedia um copo d’água chorando. E quando mommy já estava quase surtando, me fechava no quarto e dizia: “a porta não está trancada, quando você quiser sair, é só parar de chorar e abrir a porta”. Eu passava a tarde inteira chorando no quarto pra não dar o braço a torcer, e pra mostrar a dimensão exata do meu sofrimento.


Adorava andar de bicicleta. Uma Caloi Ceci azul (eu era a única menina que não gostava de rosa), com cestinha. Ganhei no meu aniversário de 5 anos. Ou foi no Natal? Hum, não lembro. No mesmo dia ganhei o Felipe, o meu filho preferido, que tinha dois dentinhos.


Tirar as rodinhas da bicicleta foi a glória. O primeiro tombo feio foi aos 6 anos, e meu joelho conserva as cicatrizes até hoje. O segundo foi aos 7 anos, e um dos meus dentes da frente (já tinha alguns dos permanentes) é levemente torto por causa disso.


À noite, eu dormia quase sempre com minha mãe, porque a cama dela era bem melhor que a minha. Dormia sempre virada para ela, porque tinha medo de olhar pra porta e ver alguém lá. E eu jurava que, no momento exato em que eu fechava os olhos, formava-se ao redor da cama um fosso repleto de animais e monstros terríveis, crocodilos gigantes, dragões, prontos pra devorar meu pé caso eu o deixasse pra fora. Se eu abrisse os olhos, obviamente eles desapareciam. Quando precisava ir ao banheiro durante a noite (só quando precisava mesmo, segurava até não agüentar mais, acho que é por isso que até hoje minha bexiga é tão obediente) ficava em pé em cima da cama e saltava o mais longe que podia. Ainda acredito nos monstros, mas hoje sei que eles são humanos e realmente atacam quando estou desprevenida.


Outra crença no mínimo interessante que eu tinha era a seguinte: quando minha mãe ficava muito irritada comigo, eu supunha que ela tivesse sido abduzida (embora eu ainda não conhecesse esse termo na época) e substituída por um alienígena vestido num disfarce idêntico ao corpo da minha mãe. Eu não podia deixar que ela soubesse que eu sabia o seu segredo, caso contrário – lógico – me mataria.


Se eu fosse, quando criança, personagem de novela, seria uma daquelas crianças-prodígio, chatíssimas, que adoram conversar feito adulto. Recordo de algumas situações, festas, eventos, em que, enquanto as outras crianças corriam ao redor da casa, subiam nas árvores, brincavam de esconder, eu ficava sentada no meio de uma rodinha de adultos falando sem parar, e todos me olhavam encantados. Depois diziam pra minha mãe como eu era inteligente. A diretora, na primeira série, chamou minha mãe na escola e disse que eu já era alfabetizada (aprendi a ler e escrever sozinha com os livrinhos que mamãe me dava... Não tinha paciência pra esperar que ela lesse pra mim) e já sabia todo o conteúdo programático daquele ano, então se minha mãe assinasse um tal documento eu passaria direto pra segunda série. Eu fiquei excitadíssima. Minha mãe, psicóloga, explicou à diretora que eu precisava conviver com crianças da minha idade e que não era certo pular etapas. E ainda deu uma bronca na mulher por ter me contado a “novidade” antes de conversar com ela. Continuei na primeira série, frustrada. Incomodando a professora. Enquanto os coleguinhas demoravam a aula toda pra copiar o que estava escrito no quadro, eu fazia o mesmo em 5 minutos e começava a agitar. Então ela passava palavras difíceis pra que eu procurasse o significado no dicionário. Humpf.


Na segunda série a professora organizou um “Concurso de verbos” e eu fui a única que ficou empolgada com a competição. Conjugava todos com uma facilidade incrível (decorar a tabuada, em compensação, me matava), e ao final de uma semana, eu era a única que não tinha cometido nenhum erro. O prêmio era passar um final de semana com a professora. Sim, hoje pareceria castigo, mas naquele tempo a professora era o máximo. Ela me disse que em 2º lugar tinha ficado a fulaninha (uma que gostava de se gabar porque a avó tinha sido diretora do colégio e não passava um dia sem comentar o quanto foi legal sua viagem pra Disney), e que, se eu quisesse, ela poderia ir junto comigo. A decisão era minha. Passei dois dias pensando e concluí que, se ela não sabia conjugar os verbos corretamente, ela que ficasse em casa abraçada com o seu Mickey enquanto eu passeava com a professora. Esta, por sua vez, ficou preocupada com meu comportamento egoísta e conversou com minha mãe a respeito. Cada um com seus problemas, não é mesmo?


Costumava dizer, lá pelos 7 anos de idade, que o transporte rodoviário era um problema grave no Brasil. Que aumentava o custo dos produtos e destruía as estradas. Por que não investiam nas ferrovias, afinal?


Tinha 8 anos quando foi editada a Lei dos Crimes Hediondos. A indignação da população diante do cometimento de determinados crimes motivou o legislador a promulgar tal aberração, que especificou os crimes mais repudiáveis dentro do ordenamento jurídico e, com o fim ilusório de inibir a sua prática, determinou novas penas e majorou outras. Eu ainda não tinha uma década de vida, mas me parecia evidente que o criminoso, antes de praticar o delito, não parasse pra pensar nas conseqüências, na pena à qual seria condenado e nas condições precárias que enfrentaria na prisão, destituído de sua liberdade, família, dignidade etc. “Hum... Homicídio qualificado, pena de 12 a 30 anos... Muita coisa. Melhor eu não matar esse cara por motivo torpe, fútil, ou por meio cruel, ou dificultando sua defesa, nem tampouco para assegurar a execução de outro crime. Se eu conseguir matar o feladaputa sem nenhuma das qualificadoras eu pego homicídio simples, a pena é de 6 a 20 anos... Acho que dá pra encarar”. E atira.


Eu nunca tinha visitado uma cadeia, mas, de ouvir dizer, eu sabia que o sistema não ressocializava ninguém (usando mais uma vez termos que eu não conhecia na época, mas o sentido já era claro). Sabia também que a maior parte dos presos já havia sido condenada muito antes de cometer qualquer crime. Condenada à marginalidade, à falta de oportunidade, ao analfabetismo, ao preconceito. Não que isso justifique atos criminosos, mas com que moral o mesmo Estado que não proporciona condições dignas de sobrevivência a todos os cidadãos vem agora lançar o nome do cara ao rol de culpados e seu corpo cansado a um cemitério de gente viva? Eu sabia, sempre soube que anos dentro de uma prisão, especialmente nas condições penitenciárias brasileiras, somente serviria pra tornar uma pessoa muito pior do que ela era antes. Com 8 anos de idade, eu era a menininha petulante que dizia: “Essa lei não vai dar certo”. Praticamente uma profecia (vejam-se os índices crescentes de criminalidade e os depoimentos recentes da própria Glória Perez, autora de novelas que, traumatizada pelo homicídio de sua filha, que com certeza deve ter sido muito mais relevante que todos os homicídios de pobres que acontecem diariamente nos botecos, articulou uma campanha nacional para que fosse incluído no rol dos crimes hediondos o homicídio qualificado, lacuna que foi suprida pela promulgação da Lei n. 8.930/ 94, que alterou o texto original da lei. Hoje Glória afirma que não acredita mais na justiça do Brasil).


Na faculdade conheci alguns conceitos e estudos realizados por caras realmente geniais como Zaffaroni e Alessandro Baratta, que me fizeram perceber mais uma coisa elementar: se o indivíduo já era considerado anti-social antes de sua prisão, de que forma excluí-lo da sociedade pode cumprir a função de ressocializar? É utópico pensar em ressocialização quando nunca houve a socialização. O objetivo – de quase impossível execução – deveria ser então o de transformar os perniciosos valores do condenado em valores proveitosos para a sociedade. Como? Isso eu ainda não descobri, mas tenho minhas visões fantásticas ainda sem possibilidade de aplicação prática. Ainda.


Considero o meu primeiro beijo o marco de passagem da infância para a próxima fase de minha vida, muito mais tortuosa. Foi ali que meus sonhos românticos adolesceram e eu me tornei ainda mais arrogante e intragável. Se a minha infância teve fim, portanto, aos onze anos de idade, me assusta perceber que nos 13 anos que se seguiram eu aprendi tão pouco, de modo que todo o conhecimento que adquiri serve apenas para reiterar as minhas crenças infantis. Ou eu era muito esperta naquela época ou sou muito estúpida agora. Ou os dois.

sexta-feira, março 17, 2006

Acontece nas piores famílias

Determinados acontecimentos são capazes de modificar a nossa perspectiva diante da vida. Ou melhor, são capazes de modificar a MINHA perspectiva diante da vida. Sejamos justos: existem pessoas cuja perspectiva (ou falta dela) permaneceria a mesma depois de uma conversa esclarecedora a respeito dos mistérios universais com o próprio Criador.


Quem conhece apenas a superfície da minha personalidade – o raciocínio ligeiro, as opiniões contumazes, o humor sagaz – talvez não perceba, mas eu sou, antes de tudo, uma observadora. Investigadora de detalhes ridículos, alguém diria. A verdade, entretanto, é que muito pouco escapa aos meus radares. Parte do que me foge o faz por minha própria vontade, porque não saberia lidar com a descoberta. Jogo ao limbo do subconsciente o que me faria sofrer deliberadamente.


E aqui do meu observatório particular eu vejo tanto, que pouco me consterna. Segredos sórdidos não me assustam. Não condeno comportamentos que o senso comum reprovaria. Compadeço-me com facilidade e me coloco no lugar do “outro” com enorme facilidade.


Mais uma vez o egocentrismo me conduz a um texto autobiográfico (é sério mesmo que o universo não gira em torno do meu piercing do umbigo? Posso confiar nessa informação? OK), mas acredito que de alguma forma mágica a qualquer momento encontrarei o gancho pra chegar ao assunto do qual realmente quero tratar, seja lá qual for. Vou fazer o possível pra escrever a próxima frase sem a palavra “eu” (não contemos o sujeito oculto, por gentileza).


Sei o quanto são irritantes as coisas óbvias, mas preciso escrever isso pra fazer sentido o que virá depois: problemas todos nós temos. Inexiste ser humano que não tenha vivenciado um drama particular, que não tenha sofrido um trauma ao qual pode atribuir, se desejar, todos os equívocos cometidos posteriormente. Pais ausentes, pais violentos, pais repressores, pais super-protetores. Más companhias, a perda de um ente querido, uma gravidez inesperada, um aborto. Solidão, falta de dinheiro, má sorte, fracasso no amor, traições, decepções. Quem aí NÃO consegue acrescentar diversos itens à lista?


O que me intriga é a imprevisibilidade do resultado. Nascer numa favela, filho de uma prostituta e de pai desconhecido, crescer em meio ao tráfico de drogas e ver os irmãos morrerem cedo é um prato cheio pra formar um delinqüente. Mas e se esse cara cresce, estuda, e começa a prestar auxílio comunitário, constitui família e trabalha honestamente em busca do sucesso? Sorte? Não sei. É indiscutível que o sofrimento tem o condão de amadurecer as pessoas, e enfrentar as vicissitudes como desafios – superáveis – e utilizar o aparato de que dispõe – cérebro, mãos, pernas, sentimentos, desejos – pra se tornar uma pessoa melhor não devia ser exceção.


Hoje eu sei que a infelicidade é o primeiro passo para a insanidade. A questão é que, enquanto grande parte das pessoas convive com o sofrimento, se conforma, transforma e sobrevive, tem gente que simplesmente não consegue se libertar da dor, e após algum tempo (não existe medida certa) a realidade se torna demasiadamente insuportável. Não sei a quem devo agradecer pelo fato de ter driblado os meus momentos infelizes e mantido a dignidade, a ética e a sanidade todas as vezes em que precisei me reerguer depois de uma queda, mesmo naquelas motivadas por uma rasteira. A Deus; à minha mãe (pilar da minha família e da minha própria existência); aos meus amigos; a mim? Trabalho de equipe, certamente.


A impotência diante do sofrimento alheio me maltrata demais... Não se trata de um sentimento de bondade extraordinário, e sim de um ego inflamado que não suporta o fato de não poder realizar grandes feitos.


Como encarar a triste notícia de que amigos meus não conseguem subjugar seus problemas e fazem crescer gradativamente a barreira que ergueram entre si e o restante do mundo? Por que eu não consigo ensinar alguém a simplesmente... superar?

segunda-feira, março 06, 2006

This place is empty without you...

Ignorando a premissa básica de que eu não conheço as respostas, insisto em me autoquestionar a todo tempo. A única possível explicação que me ocorre é que a minha capacidade de raciocínio, bem como de espargir idéias desconexas e, ainda sim, dotadas de alguma coerência, me causa intensa admiração narcisista. A questão fundamental é que, por mais rasas que sejam as minhas compreensões, ainda assim atingem um grau de sagacidade situado numa freqüência tão elevada que a maior parte dos seres supostamente pensantes que me cercam não ousa pensar em captar. Contentam-se com o humor evidente e escancarado que lanço como migalhas aos tolos esfomeados, que gargalham com toda força de seus espíritos ignóbeis.


Participei uma vez de um exercício com pessoas que conviveram comigo por uns 5 dias seguidos: formado um círculo, cada um recebeu uma folha de papel com o seu nome, que foi passada de mão em mão. Em poucas palavras, cada componente do círculo escreveu a sua impressão acerca do dono do nome escrito na parte superior do papel.


Completada a volta, recebi minha folha. Alguns me definiram como a pessoa mais engraçada do universo. Outros como mal-humorada, estressada, rabugenta. Uns dois ou três como peituda. Excetuando-se as obviedades, percebi que a proporção dos que me taxaram de mal-humorada era exatamente igual ao número de pessoas que eu, se fosse um pouquinho mais indelicada, teria classificado como toscas, ignorantes, débeis.


O que os parvos e cidadãos medianos estão longe de perceber é que o que eles chamam de rabugice é justamente o meu deleite, é o humor cáustico que só pode agradar àqueles que se despem da hipocrisia do politicamente correto. Não faço apologia à crueldade desmedida, creio apenas que engolir o riso diante do tombo alheio não faz de alguém um ser mais refinado, mas sim recalcado.


Aqueles cujas antenas são capazes de captar a freqüência que eu emito devem saber do que eu falo. A jornada dos seres pensantes é sempre um tanto solitária. Já cogitei a possibilidade de me submeter a uma leucotomia e unir-me ao rebanho incapaz de contestar, inovar ou mesmo peneirar uma informação antes de absorver como verdade absoluta qualquer notícia pronunciada pelo William Bonner. A alma inquieta dos altercadores obviamente reconhece muito mais mazelas na humanidade do que jamais imaginarão os que simplesmente se submetem, como plâncton lançado ao movimento das marés.


Desde a mais tenra idade eu tenho vivido paradoxalmente só em meio à profusão de anencéfalos e analfabetos funcionais. Conquistei algumas amizades de seres capazes de distinguir em mim tanto mais do que o evidente sarcasmo, mais do que a idéia tão equivocada que o grosso dos conhecidos e convites aceitos no orkut faz de mim.

Certamente a culpa é minha, visto que buscando me defender da realidade lancinante que fere demais a minha natureza extremamente sensível eu mesma ergui uma máscara e construí um personagem mais facilmente adaptável aos padrões do senso comum.


Reservo, entretanto, um prêmio de valor inestimável àquele que tiver a habilidade e se dedicar ao empenho de descobrir a complexidade dos muitos eus que me habitam. Que não se compadeça da minha fragilidade diante da frieza do mundo real, mas sim se enterneça com a compaixão que eu nutro mesmo pelos mais abomináveis, a quem é custoso denominar de “semelhantes”, mas o parco conhecimento das fraquezas humanas me leva a reconhecê-los como tal. Que não se assombre com a objetividade dos meus atos e desejos, por vezes confundida com deselegância, e sim compreenda a desnecessidade de circunlóquios e subterfúgios quando o propósito é claro. Que, por outro lado, esbanje competência para tergiversar por horas, pelo simples prazer de aplicar a diálogos prolixos e isentos de objetivo o conhecimento semi-inútil da existência das aliterações, elipses, metonímias, silepses e anacolutos. Que não se aborreça demais com minhas carências e inseguranças, nem tampouco abuse da facilidade de serenar minhas inquietudes com palavras doces e pequenos gestos despretensiosos de carinho. Que, ao se apaixonar pela acidez de meus comentários, não se decepcione ao descobrir algo de melífluo em minha personalidade.


Aproxima-se o dia 12 de março, meu vigésimo quarto aniversário (como é bom ser mulher e não ter nenhum problema com o número 24), e sinto-me razoavelmente confortável sendo Oksana, feliz com a probabilidade de ter ainda muito tempo para me livrar dos incontáveis defeitos, mesmo aqueles aos quais me afeiçoei tanto, e aperfeiçoar minhas características mais louváveis, muitas delas desprezadas pelas pessoas que, ainda bem, eu desprezo. Uma avalanche de incertezas me faz crer que o dinamismo da vida, o movimento constante de pensamentos é o que conduz, ainda que lentamente, à verdade. À tal felicidade que, desconfio, deve ser absolutamente diversa desse modelinho que eu tenho em mente. Fora das novelas, seriados, comédias românticas e relatos “verídicos” nas Seleções do Reader's Digest, não conheço nenhum caso de pessoas que tenham tido sucesso nessa empreitada. Mas não quero deixar de acreditar. Quero unir minha voz ao coro das canções tolas de amor...

Vinte e quatro anos buscando alguém que valesse uma lágrima de saudade, uma vontade descontrolada, a coragem de arriscar, o frio na barriga, o medo de não ser nada disso, a adrenalina pulsando, pungindo, as noites mal-dormidas, a falta de apetite. A certeza infundada de que cada reencontro compensará mil despedidas, o desejo de lutar contra evidências, de encarar o desconhecido, de não temer nada exceto a prostração. Acho que encontrei. Quantos de vocês, leitores, adorariam trocar essa apatia constante com sabor de falta de perspectiva pela aflição de uma paixão violenta e arrebatadora? Devo ser, portanto, contrariando qualquer mínima evidência de lógica, alvo de inveja, pelo simples fato de que estou sofrendo. Só porque alterno momentos de aparente autismo (sorriso abestalhado e olhar perdido no infinito, balançando o corpo lentamente) com outros em que o andar sorumbático e o olhar macambúzio evidenciam que nada pode suprir uma determinada ausência... Quem entende os anseios humanos, afinal?


Beijos.


Ps.: Dia 12, domingo, hein? Ai de quem esquecer.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

E, no fim, tudo dá certo.

Não gosta de texto grande? Vai ler gibi no banheiro!

Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006. Pretendia acordar cedo e tomar uma série de providências necessárias para a viagem, porém, as usual, fiquei até altas horas da madrugada conversando com não me lembro quem via MSN, e não consegui acordar antes das 10h30min. No restante da manhã eu passei por momentos de tensão e ansiedade, tentando previamente me lembrar de todas as coisas que fatalmente faltariam na minha mochila. Trabalhei durante a tarde e pedi pro chefinho (o mais compreensivo do mundo) pra sair mais cedo, pedido que foi, como sempre, deferido.

O ônibus da excursão deveria sair da frente do Teatro Guaíra às 19 horas, mas um atraso de duas horas e meia permitiu que eu fosse antes à casa da Lu (a uma quadra dali), checasse o orkut, conversasse via MSN com algumas pessoas e escrevesse um post medíocre. Na hora de voltar, uma tempestade desabou sobre minha cabeça e eu cheguei ao ônibus encharcada.

Iniciada a viagem, logo vi que o meu desejo de desmaiar na poltrona e só acordar no Rio de Janeiro seria dificultado de todas as formas possíveis pelos roqueiros que infestavam o ônibus. Todos vestidos de preto, camisetas de banda, alguns poucos com aparência (e odor) de quem não tomava banho há dias. Consumindo muito álcool e cannabis, ao som de ACDC e coisas do gênero. Meu padrasto (que foi junto comigo e é, provavelmente, a pessoa mais empolgada do universo) em poucos minutos estava amicíssimo daquela horda de arruaceiros, que entoavam gritos de “GOSTOSA! GOSTOSA! GOSTOSA!” quando eu cruzava o corredor pra ir ao banheiro.

Como diriam os locutores das propagandas do Shoptime, “E NÃO É SÓ ISSO!!!” Ligando agora mesmo você ainda leva inteiramente grátis um motorista de ônibus sobressalente, carioca, acadêmico de Ciência Política, com o dom de (como todo carioca) falar até você surtar e começar a bater a cabeça na parede. Num momento de distração dele (enquanto tagarelava pra outra pessoa), simulei um ataque de narcolepsia e adormeci instantaneamente. Acordei com ele colocando uma camiseta entre minha cabeça e a janela, muito atencioso, mas fingi que não vi. Continuei babando. Umas 3 horas depois eu acordei com um solavanco do ônibus e aí, já era. Começou a falar de novo e não parou nunca mais. No fim da viagem me pediu em casamento. Normal, acontece sempre.

Eu nunca tinha estado no Rio, então prestei bastante atenção à paisagem e, realmente, é uma cidade linda. O pessoal da excursão tinha uma bandeira, ou pelo menos era assim que eles chamavam o lençol azul amarrado num bambu que carregavam pra onde fossem. Obviamente, o artifício tinha a função de evitar que alguém se perdesse. Bem, pra mim não funcionou. Estávamos eu e meu padrasto caminhando logo atrás da bandeira, quando demos uma paradinha. “Compra uma camiseta pra mim, compra, compra, compra”, pedi. Padrasto comprou, enquanto eu observava a bandeira se afastando. Aquele era o momento exato em que devíamos nos reunir ao grupo, mas Padrasto preferiu escolher uma camiseta pra ele também, depois óculos de R$ 5,00, depois tirar fotos etc. Enfim, creio que não preciso nem dizer qual foi o resultado.

O Zé Carioca, organizador da excursão, deixou o número do telefone de sua irmã, que mora no Rio, para o caso de uma emergência. Sim, era uma emergência, eu estava perdida com meu padrasto em Copacabana. Telefonei, e devo dizer que não fiquei muito contente quando ela me perguntou onde o Zé estava. Hey, essa pergunta deveria ter sido feita por mim! E respondida por ela! Diante da total falta de perspectivas, resolvi ir com Padrasto procurar um restaurante pra almoçarmos, porque aqueles espetinhos de carnes duvidosas, os ingredientes para os hot dogs expostos naquele calorão e os enormes salsichões grelhados vendidos a cada 5 metros não me apeteceram nem um pouco. Depois de devidamente alimentados, andamos ainda durante horas...

Conversei por telefone com a Tati algumas vezes, e ela estava a caminho para me encontrar. Telefonei mais uma vez pra irmã do Zé (o nome dela também é Tatiana), e dessa vez ela já sabia onde eles estavam: no posto 9 de Ipanema. Andei cerca de uma vida e meia pra chegar até lá e, antes da bandeira azul, encontrei a Tati, que passou o resto do final de semana me aturando. Santa paciência!

Quando o pessoal da excursão cansou da praia, eu tive a doce ilusão de que retornaríamos a Copacabana, onde em poucas horas aconteceria um show de certa banda internacional que, afinal, não era o motivo pelo qual eu passei umas 15 horas dentro daquele ônibus? Hum, acho que sim. Mas os planos do restante da excursão eram outros, e ficamos por lá mais um tempo. Muito contrariada, fiquei assistindo ao desfile de um bloco de pré-carnaval, que em nada ajudou a melhorar meu humor.

Quando eles resolveram finalmente mover seus traseiros fétidos em direção a Copacabana, a Tati me avisou que iria antes à casa de seu amigo Luciano tomar um banho. Fui com ela, porque banho depois de um dia inteiro camelando sob sol escaldante é realmente uma oferta irrecusável. Depois fomos nós duas caminhando rumo à areia de Copacabana, onde 1,3 milhão de pessoas se aglomerava pra assistir ao show dos vovôs do rock’n’roll, os Pedras Rolantes. Os telefones celulares se revoltaram, como sempre fazem nas ocasiões de grande tumulto em que você mais precisa localizar as pessoas, então ficamos só eu e Tati. Depois de muito esforço, uma longa caminhada, algumas inconvenientes encoxadas, muito suor de muita gente (vou ali vomitar e já volto), encontramos um lugar em que podíamos enxergar o palco, o telão, e até o Mick Jagger com cerca de 2,5 cm de altura. E valeu muito, muito a pena ter visto os caras, sexagenários, depois de décadas do trinômio sexo-drogas-rock’n’roll, fazendo um show alucinante, reunindo na platéia diversas gerações de fãs.

Terminado o show, foi aquela dificuldade pra reencontrar o povo da excursão, depois fomos eu, Padrasto e Tati até o ônibus (em Botafogo) pegar minha mochila. Então me despedi da excursão e fui pra casa de Tati. Dormi às 5h, e pouco depois das 10h acordei por causa do calor... Curitibana, sabe como é?

À tarde Tati pretendia descansar, depois do show ao qual ela foi só por minha causa, mas é claro que eu não deixei. Meu talento pra chantagem emocional a convenceu a sair comigo pra tomar água de coco num quiosque na beira da praia... Valeu Tati, pela hospitalidade, pelo carinho, pela amizade... Depois fomos ao Shopping Rio Sul (quem acha que eu aproveitei pra fazer umas comprinhas põe o dedo aqui), onde eu finalmente conheci a sedentária Dani, minha irmãzinhauummmmmm... De brinde ela me trouxe a Ratinha e Râma (ou melhor, eles a trouxeram, porque tirar a chaveirinho de casa não é tarefa das mais fáceis). Gente, que coisa meiga eu, Dani e A.M. juntas! Quanta bondade nestes corações! Nossas conversas pareciam um especial de fim de ano, com aqueles votos de esperança, paz... Uma candura. E o Râma se divertindo horrores...

Depois de me levarem pra passear no carro quente da Ratazana (uma bênção, porque minhas pernas já não respondiam mais aos meus estímulos) e me apontarem uma série de pontos turísticos de Niterói, fomos ao Mac Donald’s. Ah! Fiquei triste por não ter conhecido Giseli (Dani ficou com preguiça de teclar os números do telefone).

Já na casa de Dani (que como todo carioca possui o dom de falar até você aprender a responder “aham” mesmo quando já está sonhando e babando no travesseiro), fui super bem recebida, a família dela é muito fofa, especialmente a pequena Gabi, sobrinha da Dani.

Desde a nossa primeira conversa via MSN eu tive a certeza de que a Dani era uma pessoa que valeria a pena conhecer. Um verdadeiro achado na vastidão da internet. Durante meses eu me referi a ela dizendo: “Hoje eu estava conversando com minha amiga Dani”, porque o fato de não tê-la visto pessoalmente até então não era de forma alguma empecilho pra eu considerá-la alguém importante pra mim. De verdade. Alguém cuja opinião sempre me interessa, cuja “crueldade” para com os seres desafortunados, privados de mentes brilhantes como as nossas, sempre me encantou. Quando eu finalmente tive a oportunidade de abraçar a pequenina criatura que apareceu de sandália de plataforma pra não se sentir tão diminuta, senti que tudo aquilo que eu previa era verdade. A pequena hobbit é mesmo uma amigona (no sentido figurado), e conta a favor dela ainda o fato de que a distância jamais nos impediu de estabelecer os laços de uma amizade sincera... Bendita seja a internet!

Bem, quando finalmente a Dani parou de falar, falar e falar, eu consegui dormir umas 4 horinhas. Acordei, tomei café, juntei os trapinhos e ela me acompanhou até a rodoviária. Havia comprado na noite anterior a passagem pra SP, para as 8 horas. Graças ao trânsito tranqüilo do local, e também porque, como diz minha irmãzinha, “todo castigo pra pobre e corno é pouco”, é óbvio que eu perdi o ônibus. Consegui trocar a passagem (depois de desenvolver uma úlcera e em seguida ter meu estômago auto-fagocitado diante da apatia dos funcionários da maldita empresa) para o ônibus das 9h22min. Vejam, o ônibus das 8h já havia saído quando eu cheguei na rodoviária às 8h10min. Mas o das 9h22min ficou lá enrolando por 25 minutos! Sim, o universo conspira sempre a meu favor! E NÃO É SÓ ISSO!!! O das 8 chegou a São Paulo às 13h30min, o das 9h22min, em compensação, chegou perto das 16h!

No caminho recebi uma mensagem no celular, da minha amiga que iria me buscar de carro na rodoviária, avisando que não ia mais e que era pra eu pegar um táxi. É nessa hora que cai o raio na minha cabeça? Não, AINDA não.

Tive então que deixar a minha mochila de 3 toneladas no “Malex“ da rodoviária, porque não ia ter como atravessar a cidade e assistir ao show do U2 com aquele trambolho nas costas. Conheci no ônibus um pessoal que também estava indo ao show e “me ofereci” pra ir com eles. Pegamos então dois metrôs, e o povo ainda ia pegar um ônibus. Ocorre que... Sim, tem mais um pequeno probleminha... Só eu mesmo. Esqueci o ingresso pro show do U2 em Curitiba. Percebi isso na sexta, no ônibus a caminho do Rio. Aí liguei pra Ciça (amor, sempre me salvando), e ela pegou na minha casa e levou pra SP na segunda-feira, quando foi para o show. O detalhe é que quando eu cheguei à rodoviária em Sampa, a Ciça já estava entrando no Morumbi, de modo que eu precisava chegar lá antes de o estádio lotar e ela não poder mais sair do lugar pra me entregar o ingresso. Abandonei então os novos amigos (Bruno, Bruno, Jordana, Marcos e a 3ª Tatiana carioca que conheci nessa viagem) e peguei um táxi. A corrida custou quase o preço da passagem Rio-SP.

Chegando ao Morumbi, mais uma surpresinha agradável do destino: a revolta dos celulares, mais uma vez. Não havia jeito de falar com Ciça, Double ou quem quer que fosse. Contei, de novo, com a solidariedade de um estranho: o Daniel, segurança que estava na entrada, verificando o desespero estampado em minha face, pegou o nº da Ciça e passou horas tentando ligar do celular dele, enquanto me dizia: “Calma, a gente vai conseguir”... Creio que as forças cósmicas destinadas a transformar minha vida numa série de acontecimentos dramáticos se distraíram por alguns segundos e eu consegui avisar a Ci que eu estava na porta arrancando os cabelos. Eeeeeeeeee!!! Antes tarde do que nunca, entrei e me uni aos meus amigos, pertinho do palco.

Putz, eu nem gostava muito de U2, e gastei uma fortuna do ingresso apenas com o vil objetivo de matar de inveja os fãs que não conseguiram comprar... Mas devo admitir, o show foi incrível, e o Bono é uma graça mesmo. Mereceu quase 4 linhas desse meu texto colossal. OK, admito: chorei durante “Pride (In the name of love)”.

Depois do show, mais notícias boas. Não tinha onde ficar. Na casa do irmão de uma amiga não havia cama disponível (fiquei com vergonha de dizer que qualquer tapete estava bom). Sugeriram que eu voltasse na van com meus amigos que fizeram bate-e-volta, e eu disse que a minha mochila estava na rodoviária, e a van não poderia passar por lá, totalmente fora de caminho. Uma criatura insensível disse que pegaria minha mochila e devolveria pra mim quando voltasse a Curitiba, lá por quarta-feira.

OK, PÁRA TUDO. Será que ninguém percebeu que eu tinha uma razão forte pra querer ficar? Sim, uma razão específica, cujo número de telefone estava na agenda do meu celular que – preciso dizer? – ESTAVA SEM BATERIA!!! Oh, céus! Não me atrevo a perguntar “o que mais pode me acontecer?”, com medo de uma fenda gigantesca se abrir na terra e me engolir em questão de segundos.

Mais uma vez foi a Ciça quem me salvou: o celular dela (ou melhor, do irmão dela, porque o dela foi furtado recentemente) também é Nokia, e a Nokia é uma abençoada marca de aparelhos celulares cujas baterias e carregadores são geralmente compatíveis, mesmo em modelos diferentes! Telefonei pra minha “reason to stay”, combinamos um ponto de encontro, anotei o telefone na minha mão muuuito rapidamente porque as pessoas que me dariam carona estavam sumindo na multidão, devolvi a bateria do celular pra Ciça e peguei a minha, aquele peso morto. Chegando ao local marcado, telefonava e... nada. Sim, anotei o nº errado. Então me atirei sob um caminhão que passava e estou publicando esse texto por intermédio da Woopy Goldberg.

Supliquei às forças do universo: por favor, só um pequeno auxílio, uma mínima esperança, um motivo pra eu não acreditar que sou a pessoa mais desafortunada da face da Terra... Apertei o botão “liga” do meu celular apenas por força do hábito... Já havia tentado isso tantas vezes, inutilmente... E eis que... TCHARAMMMMM!!! Uma luz! No fim do túnel? Não, na tela do meu aparelho! Ligou! É um milagre! Eu sou, sim, filha Dele!!!

E foi assim que eu consegui a façanha de me tornar a hóspede felizarda do melhor dos anfitriões do mundo, que, durante algumas das melhores horas da minha vida até hoje, me deu casa, comida, roupa lavada, uma toalha de rosto pra eu me secar depois do banho, dentre outros benefícios inenarráveis... Ele é indiscutivelmente lindo e – juro, sem hipocrisia – essa é a menos relevante de suas virtudes. Muito mais que o Mick Jagger e o Bono Vox, foi ele quem fez todas as vicissitudes enfrentadas serem quase nada diante da expectativa de, simplesmente, estar com ele novamente (DJ, play that song, please...).

Meu ternurinha-cult, seja bem-vindo a minha vida.

Beijos