quarta-feira, março 18, 2009

Oksana e a natureza: uma história de amor

O e-mail da agência de turismo prometia um final de semana "em contato com a natureza”. Recomendava que os aventureiros levassem roupas confortáveis, dois pares de tênis (um para o uso normal e outro para molhar), mochilas pequenas, porque o espaço na Van é reduzido, em relação a um ônibus.

Ao fim de uma semana foda pra caralho levemente cansativa, na noite de sexta-feira, tratei de responder todos os scraps de aniversário de forma individualizada, tomar banho, comer, descansar, mandar um e-mail para a professora elogiando a aula de Atualidades no meu curso, resolver palavras cruzadas, enfim, fazer todo o possível para protelar ao máximo a divertidíssima tarefa de organizar mentalmente a lista de itens imprescindíveis e, mais legal ainda: localizá-los no mundo físico e transpô-los para o interior da mala.


Isso tudo terminou por volta das duas horas da manhã. Preparei-me, então, para maravilhosas 3 horas de sono, que quase nem chegaram a ser perturbadas pelo pessoal animado que ia ou voltava da Woods, com o som ligado no último: “Eu vou fazer um leilão... Quem dá mais pelo meu coração?”. Ah, desgraça, se eu tivesse a chance, cravaria uma estaca no peito dessa besta e ela não teria mais o bem a ser leiloado. O trem (cujos trilhos passam a uma quadra de minha residência) também me proporcionou momentos de súbita agitação, com sua discreta buzina soando e ensurdecendo a população num raio de 10 km. Para concluir, um simpático pernilongo me elegeu como refeição da noite. Formidável.


Com o habitual bom humor matinal realçado pelas experiências tão agradáveis da noite, saltei da cama às 5 horas da madrugada, cantarolando e dando bom dia ao sol. Ou melhor, à lua, já que o sol ainda nem tinha aparecido.


Já no confortável veículo que nos conduziria ao nosso fatídico destino, eu e meu namorado descobrimos, cheios de alegria, que os bancos em que nos sentamos, os últimos da Van, além de terem um espaço diminuto para as pernas, eram os únicos que não reclinavam. E o ângulo formado entre o assento e o encosto deixava nossos narizes mais próximos dos nossos joelhos do que gostaríamos. Mas, antes que pudéssemos saltitar de emoção, os amigos sentados à nossa frente reclinaram seus bancos e esmagaram nossas patelas. Algo me dizia que aquela viagem de 215 km seria, de certo modo, a mais longa da minha vida.


Quando já havíamos perdido a fé na humanidade e as esperanças de sair dali com a capacidade de locomoção intacta, eis que surgiram pessoas com um resquício de bondade em seus corações que, quando paramos na beira da estrada para um lanche, propuseram-se a trocar de lugar conosco pelo que restava da viagem. Desconfio, porém, que aquele ato de generosidade não teria acontecido se não fosse o desconhecimento, a ingenuidade daquelas pessoas. É que elas não imaginavam o quanto os tais bancos se assemelhavam a instrumentos de tortura medievais, e pensavam que nossas feições de agonia tinham um quê de exagero. Bem, agora elas já sabem...


Chegamos, enfim, ao Parque Estadual do Guartelá. Segundo informação obtida num site de ecoturismo, “existem duas opções de trekking pelo parque: uma trilha que leva ao mirante, e outra que visita as inscrições rupestres. Esta última precisa ser agendada com antecedência no Centro de Visitantes, pois é uma trilha longa, com algumas restrições”. Adivinha qual nós fizemos? As duas.


As paisagens são realmente incríveis (sem ironia). Não cheguei a examinar minuciosamente as tais inscrições rupestres. Digamos que meu interesse pelos rabiscos ficou um tanto reduzido quando soube que deveria subir numa enorme rocha desprendida do chão e à beira de um precipício para vê-los de perto. Mesmo de longe, deu pra ver que o pessoal pré-histórico por aquelas bandas não tinha vocação alguma para a arte. A gente esperando um desenho do Piteco abatendo um Pterossauro, fazendo uma fogueira e tal. Maior decepção. Por outro lado, a inscrição na pedra de um nome feminino (Silvia, Priscila, sei lá), demonstra que até hoje ainda circulam pela região criaturas bastante primitivas.


Enquanto caminhávamos por horas a fio em meio a tanta pedra e mato, lembrei-me do e-mail da agência e fiquei me perguntando quanto tempo poderia demorar ainda para chegar à natureza prometida. Cheguei a perguntar para uma das moças que trabalham no parque se estávamos no caminho certo, pois já estava começando a duvidar de que nosso guia sabia para onde estava nos levando. Não é possível que a natureza seja tão longe, pensava. A moça pareceu não me compreender. Realmente esse pessoal é muito despreparado.


Agora entendo porque muito mais pessoas vão ao shopping do que à natureza: é mais perto, não tem insetos e ainda há escadas e esteiras rolantes, além de que a praça de alimentação oferece opções mais ricas em sabor e gordura trans do que a provisão de frutas, barrinhas de cereais, biscoitos e misto frio fornecida pela agência.


A grande armadilha dessas trilhas ecológicas é que você acaba se distraindo com as lindas paisagens, o canyon imponente, a flora exuberante, a fauna extraordinária (um grupo de punks tatuados da cabeça aos pés se banhava alegremente nas águas geladas), e, quando menos percebe, é hora de voltar, encarando uma subida de 1.251.364.897.654.321.259.000 km até chegar à entrada do parque. É nítida a sensação de que tem um filho de uma quenga adicionando mais uma reta à estrada depois de cada curva vencida.


Já nesse ponto, garganta seca como se tivesse tomado um balde de areia, pulmão virando do avesso, pernas bambas, eu amaldiçoava o momento em que tive a idéia de comentar, tanto com minha melhor amiga, quanto com meu namorado, que achava que seria super legal sair da rotina e encarar um final de semana de intensas aventuras, que eu só não iria mesmo por falta de grana. Ao que os dois se mancomunaram e resolveram o problema, dando-me a viagem de presente. de aniversário Bem, agora preciso esperar até o ano que vem para comentar com eles que seria super legal fazer uma série de sessões de fisioterapia para conseguir voltar a caminhar, pra ver se eles me dão de presente, hehehe.


Mas, calma, pessoal. Devagar com o andor. A essa altura os músculos das minhas pernas, virilha, quadril, pés, costas já estavam praticamente inutilizados. Enfim, grupos musculares que eu nem sabia que existiam haviam despertado numa dor aguda. Massss... Meus braços ainda estavam bem. O que significa, é claro, que era chegada a hora do rafting.


O rio era bastante tranqüilo, com poucas corredeiras. Traduzindo: remamos pra caramba.


Depois de tudo isso, rodamos por algum tempo, com nossas roupas encharcadas, dentro da Van com o ar condicionado ligado na temperatura Sibéria, o que colaborou bastante para assolar a resistência do meu pobre organismo maltratado e surrado.


Na chácara onde ficava a nossa pousada, deparamo-nos, após um banho quente, com aquele céu estrelado que só existe no interiorzão (shopping 1 x natureza 1). Aí rolou aquele jantarzinho básico: arroz, feijão, farofa, carne, salada, tudo com o incomparável tempero de panelas de ferro, fogão à lenha, aquela coisa rural, sabe? Bem light. E o pratinho delicado que se assemelha à refeição de um estivador, claro.


Depois, Andrea, a italiana que fazia parte de nossa excursão – simpaticíssima e que, morando no Brasil há apenas dois meses, já fala português melhor do que muitos brasileiros que conheço – nos ensinou um jogo de baralho chamado Buongiorno Signor. Segundo suas palavras: “fica mais divertido quando tem álcool”. Não seja por isso. Servimos os copos com a pinga curtida dentro de vasilhames com frutas e começamos o jogo. A pessoa que perdia, em cada rodada, tinha que tomar um gole da cachaça. O pessoal começou a me acusar de perder de propósito, mas eu juro que os reflexos lentos eram fruto do cansaço.


Como era de se esperar, formou-se uma rodinha em torno de um violão. Fugi quando alguém sugeriu Eduardo e Mônica (hoje, quatro dias depois, devem estar chegando perto da última estrofe, quando Eduardo fica careca, Mônica fica gorda, os dois vão pra pqp, têm 12 filhos, e param de encher o saco).


Alguns aventureiros saíram ainda à noite para ver a cachoeira, que dizem ser uma visão belíssima à luz da lua. Preferi acreditar na opinião alheia e curtir o visual do meu travesseiro, abraçada ao meu gatinho, coisa linda demais.


No domingo, cedinho, meu amor me acorda feliz e sorridente, todo carinhoso. Ainda bem que ele tem bom humor que basta para os dois. Enquanto isso, arrastei-me para fora da cama e segui para o café da manhã, sorumbática.


Não deu nem tempo de digerir o queijo branco e o bolo, já estávamos encarando uma trilha tenebrosa morro acima. O único jeito para erguer uma das pernas para alcançar o alto de mais uma pedra era alçá-la com o auxílio das duas mãos. E assim, consegui chegar, chorando, ao alto da cachoeira do Puxa Nervos, para fazer o cascading (rapel na cachoeira). De pronto, todos os integrantes da excursão compreenderam o conteúdo psicológico daquela trilha: era tão sofrido subir por ali que qualquer pessoa concluía, de imediato, ser mais fácil encarar o medo e se atirar lá de cima amarrada a uma corda do que se estropiar morro abaixo.


Os guias, então, mostraram as diversas cordas, mosquetões, equipamentos e procedimentos de segurança que tornavam o esporte mais seguro do que jogar xadrez com uma velhinha. Dadas todas as instruções, a idéia era nos convencer de todas as formas possíveis que a única forma de algo dar errado é, basicamente, se acontecer um terremoto ou se a pessoa for atingida por um raio durante a descida. Ainda assim, olhar lá de cima e visualizar, 45 metros abaixo, as formações rochosas pontiagudas, é algo que faz todo mundo repensar. Será que eu preciso mesmo fazer isso? O que eu estou querendo provar, afinal? Onde fica a saída de emergência? Enfim, essas coisas.


Tínhamos direito a descer duas vezes, mas todo mundo, ao chegar lá em cima, decidiu que abriria mão da segunda descida. Chegado o grande momento, lá fomos eu e meu delícia, conduzidos pelo guia que nos pareceu mais confiável. Depois que ele contou que resgatou uma moça de 130 kg que desmaiou no meio de uma cachoeira de 85 m, desceu com ela e nadou até a margem, concluí que se ele deu conta da gorda, não seria eu um problema pra ele. Olhei para o resto do pessoal e pensei: podem ir com o rapaz ali que ele parece ser bem confiável, mas eu só desço com o Rambo aqui.


Depois dos primeiros passos desajeitados, o resto é só alegria, o visual é maravilhoso, a sensação é incrível. Chegando lá embaixo, imediatamente decidimos (assim como todo o resto do pessoal) que iríamos de novo. Nessa segunda vez rolou até beijo na boca debaixo da cachoeira, nas alturas, em meio aos vários arco-íris que se formavam à nossa volta.


Voltamos à pousada para mais uma refeição básica – o pessoal perguntou se eu tinha trazido o equipamento necessário para escalar meu prato.


Em seguida, a última atividade do final de semana, preparada especialmente para destruir os únicos músculos que ainda permaneciam intactos: a cavalgada.


O pessoal foi montando nos bichinhos, e eu ali, esperando algum moço me ajudar a subir em algum animal. Claro que eu devia ter desconfiado que havia algo errado com a Palusa, a última égua que sobrou, com um ar cansado e o olhar perdido no horizonte. Já pra começar, explicaram-me que ela não atendia aos comandos do mesmo jeito que os outros eqüinos, tinha uma manha pra ela entender o esquema das curvas e tal.


Bem, lá fomos nós. Aos poucos o pessoal foi se afastando, lá na frente. E eu tentando entrar num entendimento com a Palusa. Não queria partir para a agressão, como sugeria o guia, então tentei de todas as formas chegar a uma composição amigável. Mas a Palusa ia se arrastando, coitadinha. Até que simplesmente parou. Cheguei a cogitar a hipótese de terem me enganado e entregue uma mula, agora empacada. Mas o mistério logo se desfez, quando eu ouvi um “ploft” lá na traseira. Conversei com a Palusa: “Ah, entendi o problema. Comeu demais no almoço, né? Tudo bem, eu te entendo. Mas agora que você se livrou desse peso extra, vamos andar, ok?”


Ok nada. A Palusa continuava naquela indisposição. O guia acabou confessando que a Palusa estava com as patas sensíveis, por ter andado num tipo de solo ao qual não estava habituada, mas que o problema dela era mesmo preguiça, e eu devia chibatá-la com a corda pra que ela andasse. Ah, tá, olha a minha cara de pessoa que fica maltratando um pobre animal ferido! A essas alturas fiquei tão comovida que pensei em descer e levar a Palusa nas costas, coitadinha.


O consolo é que a guia da excursão, Claudinha, estava num desacordo maior ainda com seu cavalo Vassoura. Indignada, reclamava que o Vassoura era um tarado e só queria cheirar o traseiro dos outros animais em vez de andar. A Regina, montando o voluntarioso Rochinha, só faltava andar para trás. Assim, eu não fiquei totalmente abandonada com a Palusa.


Chegamos, então, a outra cachoeira localizada dentro dos limites da chácara. Claro que algumas pessoas não resistiram e arrancaram as roupas para se atirar naquela água deliciosa – um grau centígrado a menos e passaria ao estado sólido. Eu preferi ficar do lado de fora sendo atacada por insetos mutantes que se alimentam, inclusive, de repelente.


Na volta, troquei de veículo com a Aline, parceira de excursão que estava um pouco apavorada com a desenvoltura da égua que montava. Disse adeus à Palusa, recomendei que se cuidasse e não pisasse onde não devia. Voltei com a Lupita, égua cheia de vida e de gases. Cada passo era um flato. Imagina o que era o animal trotando? Praticamente uma metralhadora.


Enfim, despedimo-nos das paisagens bucólicas, do aroma do campo (longe da Lupita, por favor), do céu claro de estrelas e retornamos à civilização.


Na segunda-feira pela manhã, levantei da cama perguntando se alguém havia anotado a placa do caminhão que me atropelara. Isso antes de levar o maior susto do mundo com a cara da criatura que surgiu no meu espelho, pálida, descabelada, com olheiras mais profundas do que nunca (Será um panda? Um guaxinim? A Gretchen?).


O couro cabeludo ardendo, torrado do sol, lindas marquinhas de um bronzeado uniforme (marquinha de top, de blusa, de short), nariz descascando, marcas de picadas de insetos – parecendo rodelas de pepperoni –, o pescoço, os ombros, todas as vértebras, o quadril, as pernas, os glúteos, os pés, os braços e – por fim – a cabeça extremamente doloridos, as roupas que um dia foram brancas, agora marrons. A pergunta ecoava na cabeça: “por quê? Por quê?”. E o pior de tudo, o mais inexplicável, o mais absurdo de toda a situação, é a animação diante do novo e-mail da agência, prometendo um final de semana ainda mais radical... I must be out of my mind.

sexta-feira, março 13, 2009

Ufa, passou.

Mais um ano de vida, então, se passou. É impressão minha ou fazer aniversário vai ficando cada vez mais sem graça (pra dizer o mínimo)?

O meu aniversário foi o mais depressivo dos últimos dias, ganhou até do Natal. Impressionante. Nessa sexta-feira, 13, saí de casa feliz e sorridente, cantando alto no carro e até me maquiei. Ontem eu simplesmente não conseguia parar de chorar, sem qualquer razão aparente, e precisei mentir pra todo mundo que estava passando por uma crise de rinite. Vai entender.


Talvez o motivo seja a expectativa de que o “meu” dia seja especial, do começo ao fim, e de repente não passa de un jueves cualquiera, de trabajo y aburrimiento (estou estudando espanhol, agora agüenta).


Para ser totalmente sincera, o dia até que começou bem. Não, não houve entrega de flores nem telefonemas carinhosos logo cedo, mas minha amada mãezinha e meu já não tão pequeno irmão semiletrado adentraram meus aposentos com um apetitoso bolo de mousse de chocolate, com sete velinhas acesas (mãe, obrigada por me poupar das outras 20 e do risco de um incêndio no meu quarto). Super fofos, cantaram parabéns, e o semi aproximou o bolo de meus olhos semicerrados para que eu apagasse as velinhas. Assoprei com toda a força de meu bafo ânimo matinal, apaguei três. Com a voz cavernosa, grunhi um “ajudaê”, e meu irmão apagou as demais.


Ao levantar, encontrei a mesa repleta de guloseimas que mamãe, muito sagaz, havia comprado no dia anterior e cuidadosamente ocultado de minhas vistas. Doces, salgados, pãezinhos, capuccino, tanta coisa que nem dava para experimentar tudo numa única refeição.


Em seguida, fomos para a aula de espanhol (mamãe é minha colega). Ao final, a professora cantou cumpleaños feliz para mim, hahaha.


Já no escritório, apenas as castas menos favorecidas, assim como os intocáveis (estagiários), lembraram-se de me felicitar. A classe dominante apenas me dirigiu a palavra para estabelecer tarefas (desconto para o chefinho que estava viajando).


Esperava um almoço especial, com a presença de várias pessoas queridas. Mas as pessoas queridas têm compromissos, precisam fechar negócios, atender clientes, fazer audiências, e os malditos chefes belgas não têm noção de fuso horário, enfim. Mas o Sinho, a Ci e a Paulinha conseguiram se juntar a mim para a comilança.


Algumas pessoas más esqueceram da data, em compensação, outras que eu nem esperava lembraram. Mas também não dá pra reclamar, porque já fiz a festa no domingo, dia 09, e um monte de gente me deu parabéns adiantados.


À noite, depois que os (dois) colegas mais chegados no meu curso me parabenizaram, fiquei ouvindo o super desenvolto professor de Direito Empresarial discorrer sobre títulos de crédito. Tentei cortar os pulsos com uma caneta rosa, sem sucesso. Mandei uma mensagem para meu príncipe encantado, que logo veio em meu socorro, não num cavalo branco, mas num carro prata (ufa, bem mais rápido).


Na presença dele, a tristeza se dissipou, dando lugar a momentos deliciosos como sempre. Dirigindo pra casa, porém, voltou o nó na garganta e as lágrimas vertiam inexplicável e incessantemente.


Ao chegar em casa, aquela melancolia aguda foi amenizada pelos vários recadinhos no orkut, alguns meigos, outros discretos, e uns hilários que me arrancaram gargalhadas. Concluí que se eu tivesse acesso ao orkut no escritório minha vida seria mais feliz. Além disso, perderia menos tempo procurando proxys de acesso (que não funcionam, droga).


Ainda antes de dormir, à meia-noite, minha colega Shudra telefonou-me de São Paulo e ficou matraqueando por quase 30 minutos até que eu adormeci com o aparelho celular colado à orelha. Ufa, acabou o aniversário.


Quando a gente é criança, nossa família faz questão de incentivar nosso egocentrismo nato, fazendo-nos crer que o dia de nosso aniversário é o mais especial do ano. Não é à toa que criança sempre faz questão de assoprar as velinhas, até na festa dos outros. A gente fica mal acostumada.


Aí crescemos e tentamos nos habituar à realidade insossa de que é só mais um dia, igual a todos os outros, e o mundo está ocupado demais pra se dar conta da nossa carência.


É possível também que o motivo de tanta aflição seja justamente a idade, o fato de restar tão pouco de meus vinte e poucos, de ser gente grande, pagar até pelo meu próprio bolo e não ter colo pra correr quando dá esse nó na garganta... :’(


Ou talvez a culpa seja toda da minha mãe, que, 27 anos depois do meu nascimento, ainda faz questão de fazer o dia começar como se fosse realmente só meu. Obrigada, mãezinha...


Hoje, sexta-feira, 13, além da amiga monstra ter telefonado logo cedo tentando um perdão pelo esquecimento (estou examinando ainda), rolou toda uma comoção aqui no escritório porque a colega Shudra denunciou a falta de consideração das pessoas ao meu chefinho. Daqui a pouco vai rolar um bolo. Pago por mim, claro.


E amanhã cedinho parto de Curitola rumo a um final de semana adventure que ganhei de presente de meus amores – Lê e Dé. Com certeza vai ser bom esse contato íntimo com a natureza pra recarregar as baterias. Só fiquei meio chateada com o aviso de que não poderei usar bijoux, acessórios e trajes decentes. Em vez disso, cara limpa, roupas confortáveis e tênis.


Em primeiro lugar, “roupa confortável” é um conceito muito relativo, né não? Eu, por exemplo, sinto-me muito confortável num terninho bem cortado, um vestido acinturado, os meus lindos peep toe de verniz vermelho, enfim. Mas então quer dizer que não se faz rafting de escarpin? Não rola um vestidinho retrô no cascading? Tô chocada. E o povo ainda tem coragem de chamar a natureza de mãe... Vê se mãe de verdade faz distinção entre as filhas chiquérrimas e as ripongas?


Hunf.

quarta-feira, março 04, 2009

Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida...

Hey, pípou, how u doin?


Quem leu o derradeiro post sabe que eu ando tentando abraçar o mundo, e a consequência (ih, ah lá: sem trema! É, gente, estou me entregando) mais direta disso é o meu corpinho dolorido que sente. Sim, porque o mundo é enoooorme, e não é fácil assim conquistá-lo de uma só vez.


Então. Aí o que acontece é que eu tenho sofrido muito e dormido pouco – porque a agenda lotada reserva pouquíssimas horas para essa bobagem que é o sono – e mal. São tantas e tantas preocupações rondando essa mente atordoada que eu passo algumas horas me virando na cama como se ela estivesse coberta de pregos e eu fosse um faquir meio gordinho, sabe como?


Essa noite resolvi investir numa solução fácil sugerida por duas amigas: um fantástico item farmacológico que, segundo elas, faz uma criatura humana (esse blog não apoia testes em animais) adormecer em poucos minutos. E o melhor é que elas me asseguraram que eu acordaria numa boa e não passaria o dia todo feito uma letárgica abobalhada.


Vamos aos resultados: primeiro que eu não adormeci em poucos minutos. Fiquei ali algum tempo com meu pequeno cérebro tentando resistir bravamente àquele agente intruso que queria colocá-lo em stand-by. Enfim, o efeito demorou, mas chegou. O barulho da rua não me incomodou, nem o excesso de calor, nem acordei às 4h30min da manhã pensando nas contas vencidas e olhando em volta na penumbra à procura de algum objeto que possa ser vendido no Mercado Livre.


O único problema ocorreu quando meu celular gentilmente me despertou hoje pela manhã, e eu decidi reprogramá-lo para uma soneca de uns 60 minutinhos, mas simplesmente não conseguia abrir meus olhinhos. Complicado. As pálpebras superiores estavam pesando uns 80kg cada uma e, como eu não estou habituada a praticar musculação ocular, senti uma certa dificuldade.


Vencido esse momento de crise, consegui de alguma forma surpreendente chegar ao escritório e passar as últimas horas tentando fazer algo que preste, mas meu pequeno cérebro continua se recusando a voltar à atividade.


O mais impressionante de virar uma letárgica abobalhada após a ingestão de um RELAXANTE MUSCULAR é o fato de continuar com dores musculares, né não?


Mudando um cadinho de assunto, sabe que dia tá chegando? Hein? Hein? O do meu vigésimo sétimo aniversário. Escrito assim por extenso dá uma noção mais real do tamanho da coisa.


A cada ano que passa, aquela crise pré-aniversarial aumenta um pouco mais. O dia vai se aproximando e, não sei se é o inferno astral, se é a consciência da velhice ou o que, mas rola uma melancolia inevitável. Não dá vontade nenhuma de organizar uma festa, fazer reservas, convidar pessoas, blá blá blá. Por outro lado, é evidente que se eu deixar passar em branco e as pessoas não adivinharem milagrosamente os meus anseios secretos por um pouco de atenção, é bem possível que essa doce melancolia se transforme numa depressão profunda e suicida ou numa fúria incontrolável e homicida.


Mas também faz um tempo que eu tenho pensado que festas de aniversário parecem meio bobas. Qual é o sentido de comemorar um dia que acontece todo ano independentemente da minha vontade? "Eeeeeeeee, parabéns, mais 365 dias, hein?" Uma coisa é quando a pessoa tem lá seus 90 anos de idade, aí sim, rola um “parabéns, escapou da Dona Morte por mais um ano, hein, seu velho malandro?”.


Em contrapartida, paro pra pensar nesse trânsito insano, na poluição, no calor duzinfernos, no estresse, na falta de educação das pessoas, na gordura trans, no mau olhado, nas dores musculares, na automedicação, no excesso de trabalho, no formol na cabeça (viva a escova progressiva), na violência urbana, nos agrotóxicos, na TV aberta, nas pessoas sórdidas que colocam drogas onde a gente menos espera (acho inclusive que colocaram drogas no meu relaxante muscular)... São tantos os perigos que enfrentamos diariamente que, de fato, sobreviver nesse mundão é uma vitória que merece ser celebrada.


Pensando nisso enquanto espalho um gel creme de diclofenaco dietilamônio nos meus ombros doloridos (agora que eu entendo aquela nostalgia do Casimiro de Abreu), decidi: vou sim comemorar o meu aniversário. Só não sei quando, já que quinta-feira (dia 12) terei aula de espanhol, depois trabalho e por fim aula sei lá do que na pós. E também não dá pra ser no final de semana posterior, já que estarei viajando (presente da e do ). Então acho que vou deixar para o ano que vem. Brincadeira. Vai ter que ser nesse final de semana, embora não seja tão legal comemorar antecipadamente (vai que por algum motivo eu não chego lá). Também não sei onde, porque aquela preguiça de telefonar, fazer reservas, convidar pessoas, enfim, permanece. Saiba, portanto, que nesse final de semana, em algum horário, em algum lugar, estarei festejando mais um ano de vida e esperando por você, viu? Se sua bola de cristal falhar e rolar um desencontro, vale pelo menos um recadinho, um telefonema, um scrap, uma mensagem de fumaça, um e-mail, um presente, um SpaceFox Sportline Vermelho, essas coisas.


12 de março, ok?


Beijo, outro, tchau.