segunda-feira, novembro 03, 2008

Ex-tiqueta

Posso considerar que sempre tive sorte com meus ex-namorados. Não enquanto eles eram namorados, mas depois que se tornaram ex, mesmo. Tive os chorões, os arrependidos, os insistentes, os cafajestes que continuavam jurando amor eterno quando já flertavam em outras paragens. Alguns não desistem nunca. Juro que um ou outro, vez em quando, ainda faz tentativas lamentáveis de reaproximação. Seis, sete, oito anos depois do fim! Há apenas um de quem eu poderia ser amiga, mas nossos breves e raros encontros são sempre estranhos, meio desconfortáveis. Do restante, não guardo mágoa, e desejo que sejam felizes. Bem longe de mim. Em geral, todos foram muito gentis e, mais cedo ou mais tarde, fizeram por mim o melhor que um cara pode fazer por sua ex-namorada: desaparecer da vida dela.

Muita gente não tem essa sorte. Que o diga a pobre Eloá. É mesmo assustador pensar que a menina, por um tempo razoável, confiou naquele cara. Que ele conhecia a família, os amigos dela, e eles pensavam que o conheciam. E, de repente... Todo mundo descobre, do pior jeito possível, que ele é um psicótico. Há alguns anos, a jornalista Sandra Gomide também teve o mesmo fim trágico porque o ex não conseguiu se conformar com a rejeição.

Felizmente, eu jamais presenciei um caso tão patológico, mas vi (e ainda vejo) várias pessoas que conheço sofrerem com os desvarios de ex-namorados e ex-namoradas.

Não acho impossível existirem grandes amizades entre ex-namorados, mas considero pouco provável que nenhuma das partes confunda as coisas em algum momento. Ou mesmo que a "amizade" não passe de pretexto para a reaproximação. De qualquer forma, acredito que a regra básica a ser seguida seja a civilidade. Ninguém deve ser obrigado a saltar de alegria ao rever alguém que foi cirurgicamente removido de sua vida. Feito um tumorzinho. Mas hostilidades são desnecessárias na maior parte dos casos.

Tenho uma amiga que, ao longo do relacionamento, ouviu o namorado dizer que a amava apenas uma ou duas vezes. Depois que terminaram, ele passou a dizer diariamente. Descobriu, um pouco tarde, depois de fazê-la sofrer até a superação de todos os limites aceitáveis (e alguns inaceitáveis), que ela é a mulher da vida dele. É isso que ele anuncia, entre lágrimas e soluços, para todos os conhecidos do ex-casal. Por sorte, nesse tempo, ela descobriu que ele não é nem de longe o homem da vida dela.

Mais revoltante que o tipo "lerdo", é o caso do o ex-namorado covarde. Tenho uma amiga que várias vezes foi maltratada pelo ex, em público. O cara teve mil ataques de ciúmes, afastou-a de todos os amigos homens, fez com que ela perdesse desde baladas e encontros com as amigas até eventos importantes (formatura de amigos, por exemplo) porque ele não podia ir e não permitia que ela fosse sozinha. Irritava todo mundo com sua insuportável mania de tirar vantagem e querer se dar bem em todas as situações. Sem perceber, minha amiga, antes tão forte e decidida, começou a perder a personalidade por causa de um cara que - pasmem - ela nem sequer amava. Nada disso foi suficiente pra ela colocar um ponto final na história. Até que descobriu que estava rolando o maior clichê de todos os tempos. O exagero de desconfiança dele acontecia pelo motivo clássico: ele era infiel. Não satisfeito com a dor que causou, usou mais um clichê: colocou a culpa nela, que supostamente não o tratava com o carinho que ele merecia. Claro que ele não tinha alternativa, como, por exemplo... Ahmmm... Deixa eu pensar... TERMINAR COM ELA! Não, não, ele tinha que ser o maior idiota do mundo, envergonhá-la diante de todas as pessoas que ela conhece e ficar com uma baranga. E a culpa, claro, é da minha amiga. Não bastasse isso tudo, ele não se conforma com o fim (por certo que ainda não a magoou o suficiente).

O ex de uma outra amiga merece, no mínimo, um prêmio por sua infinita criatividade, não podemos deixar de reconhecer. Desde que o namoro acabou (porque ele fez tudo que podia pra isso acontecer), já tentou das formas mais variadas convencer minha amiga de que é o cara certo pra ela: abordagens românticas, violentas, inconvenientes, desagradáveis, racionais, sutis, exageradas, patéticas, dignas de pena, detestáveis. Sempre que a gente pensa que ele não tem mais o que inventar, ele nos surpreende. É incrível.

Não são raros os ex-namorados vingativos. Já vi vários que, após serem rejeitados, fizeram de tudo para reconquistar quem os desprezou somente para, em seguida, terminar o namoro. Um trabalhão desses por causa de orgulho ferido... Vai entender. Pior ainda são aqueles que infernizam, que não suportam a idéia de que o(a) ex possa ser feliz com outra pessoa. Ou mesmo sem outra pessoa.

Houve uma época em que todos os caras que eu conhecia estavam traumatizados com uma ex-namorada. O primeiro, depois de totalmente embriagado, disse-me que, com a ex, descobriu que existem dois tipos de mulheres no mundo, as vagabundas e as que voam. E convidou-me pra ir à casa dele. Claro, por que eu não iria, Príncipe Encantado??? Por incrível que pareça, preferi ir voando pra minha casa. Sozinha.

Depois conheci outro que, enquanto viajava a trabalho, a ex, por meio de recadinhos discretos escritos em cor-de-rosa no Orkut, ameaçava invadir o apartamento dele para pegar as coisas dela, e chamava de "putas barangas" todas as mulheres que deixavam recado pra ele.

O caso mais assustador foi uma que, conhecendo a senha do ex, acessou a conta do celular dele na internet, telefonou para todos os números mais discados, e aqueles em que uma voz feminina atendeu à ligação foram escolhidos para receberem mensagens ameaçadoras. Ela gostou tanto de mim que quase todas as manhãs telefonava para o meu celular e ficava quietinha, só pra ouvir minha voz. Chegou a criar uma conta no Messenger com o nome do ex para falar comigo. Medo.

Ah, sim, tenho uma amiga que precisou sumir da cidade por uns dias, quando o ex começou a publicar ameaças contra ela na internet. E outra, cujo ex faz referências jocosas ao fim do relacionamento em seu perfil no Orkut. Houve também um cara que, quando percebeu que a minha amiga não estava mais a fim dele, começou a persegui-la, observá-la escondido, ficar de tocaia em frente à casa dela. E quem consegue entender os caras que telefonam mil vezes, você não atende, e então eles ligam de um número desconhecido? Será tão difícil captar a mensagem?

Bem, podem não ser exatamente pshyco killers, talvez não cheguem a Lindembergs e Antonios Marcos Pimenta Neves, mas ninguém pode negar que essa gente é maluca. Porque só malucos aparecem sem ser convidados, pedindo outra chance quando já tiveram tantas, jurando arrependimento, com lágrimas de desespero e culpa, trazendo alianças (!), dizendo que querem casar (!), ignorando totalmente os créditos finais passando na tela. E às pessoas que cedem a chantagens emocionais, que se comovem com as lágrimas de crocodilo, que possuem um estoque infinito de chances adicionais (em desfavor do respeito próprio), um alerta: antes de se revelarem homicidas, os exemplos supracitados não passavam de ex-namorados rejeitados e inconformados como o seu. O limite entre uma coisa e outra pode ser uma linha tênue.


Não pode ser tão difícil entender, pode? Move on, people. Move on!