sexta-feira, setembro 29, 2006

Estressada, eu?

Estressada, eu?

Por pouco setembro não acaba sem que eu publicasse um texto sequer. É que durante este mês eu estive ocupada com a redação de um outro texto, de 80 páginas, sem contar os anexos, que mandei encadernar em quatro brochuras e uma capa cura, e entreguei nessa terça-feira na faculdade. A minha monografia, ou trabalho de conclusão de curso, pra quem preferir.

Eu realmente acredito nas pessoas que dizem que a vida fica mais fácil quando a gente se organiza, planeja etc. Acredito que os meus colegas que prestam atenção nas aulas o semestre todo e estudam diariamente não sofrem aquela pressão no dia da prova, tendo que perguntar de que se trata a tal disciplina, qual o nome do professor e onde fica minha sala. A vida deles é certamente menos estressante.

Não sei qual é o meu problema... Eu não produzo com tempo livre. Comecei (na teoria) a redigir minha monografia no ano passado. Foi no início do oitavo período que avisaram, em uma reunião à qual eu faltei, que até determinada data teríamos que entregar as primeiras 15 páginas do projeto de pesquisa. Alguém me perguntou, na manhã do dia da entrega, se eu havia feito. Claro que eu não tinha começado, mas resolvi deixar pra depois do almoço. Fiz em uma tarde.

No semestre seguinte (o primeiro do ano corrente), nem cheguei a abrir o arquivo. Perdi o prazo de entrega de propósito e tive que me rematricular. Neste semestre, as aulas começaram em agosto, eu só apareci na faculdade umas duas semanas depois (se eu nunca consegui ser muito dedicada, imaginem agora, no último período!), e alguém comentou sobre uma outra daquelas reuniões sobre monografia. Meu prazo definitivo era no fim de setembro! Então eu resolvi começar a escrever. No início de setembro.

Pelos arquivos que salvei, sei que em 23 de agosto eu tinha as mesmas 16 páginas do ano passado. Em 02 de setembro, tinha 35, sendo que as primeiras 16 foram praticamente descartadas (um lixo). Fiz uma pausa no trabalho pra passar uma semana em São Paulo com meu namorado. Em 18 de setembro, tinha 44 páginas. Em 20 de setembro, 56 páginas. Cinco dias depois, quando mandei encadernar, eram 102 páginas! Nas últimas 24 horas do prazo eu escrevi 3 capítulos e mudei de lugar vários outros, modificando o sumário inteiro e reescrevendo várias partes do texto.

Claro que, para alcançar esse resultado, eu passei uma semana quase sem dormir. Ia deitar entre 5h30min e 7h30min, e acordava às 9h. Eu era um zumbi. Um zumbi muuuito mal humorado.

As pessoas que me encontravam diziam: “fica calma, vai dar tudo certo”. FICA CALMA? Fica calma o ca*#%?o. Eu me estresso quando um corno filho de uma égua atrapalha o trânsito, sem conseguir decidir qual pista vai usar e, na dúvida, permanece em cima da faixa.

Eu fico nervosa quando pessoas param pra conversar em frente à escada da faculdade, impedindo a minha passagem. Fico bufando quando o povo se enrola e eu não consigo chegar depressa ao meu objetivo, seja ele qual for. Comentei isso com uma amiga outro dia. Eu não sou do tipo de pessoa que curte o caminho, observando a paisagem. Se eu quero chegar, eu quero chegar logo! E não saio de casa horas antes pra chegar pontualmente. Eu já conto com o fato de que vou chegar atrasada, mas pretendo ir correndo, sempre. Imaginem se durante a redação da minha monografia eu poderia ficar calma, tranqüila!

É triste admitir, mas eu sou uma pessoa estressada. Não tenho paciência pra lenga-lenga dos depressivos, do mesmo jeito que não tenho saco pros distúrbios da moda (transtorno bipolar, DDA, distimia, síndrome do pânico, DOC, TOC, blá blá blá). Como diz minha mãe (psicóloga), antigamente só se diagnosticava psicose. Agora você tem esse leque imenso de opções. Não que eu (ou minha mãe) esteja criticando o avanço da Psicologia e da Psiquiatria. Mas as pessoas parecem se sentir reconfortadas por receberem um rótulo qualquer que justifique suas doideiras (sem contar a imensa maioria que se auto-diagnostica pra usar a "deficiência" como sobrenome). "Ufa, isso tem explicação". Demonstram uma estranha satisfação em dizer: "Oi, eu sou a Fulana e sofro de síndrome do pânico". "Sou publicitário e tenho DDA". Uau, que legal. Meu nome é Oksana e pessoas me causam gastrite, mau humor e cefaléia.

Alguém pode me dizer que estresse é muito “anos 90”, mas tudo bem, não faço mesmo questão de acompanhar as tendências sintomáticas da humanidade. O mau que me aflige ainda é esse, e eu o alimento com a minha falta de aptidão para o planejamento, a organização e a tolerância. É a corda no pescoço que me inspira. O desespero me incentiva, e a última hora pra mim é tempo demais: 60 minutos!

Quem arca com as conseqüências é o meu pobre organismo sedentário... Encerrado o período de intenso e absoluto estresse, as olheiras parecem estar definitivamente impressas na minha face; só sinto sono durante o dia; minha coluna está destruída, e fui nocauteada por uma gripe selvagem. Mas, em compensação, já estou quase – QUASE – me readequando ao convívio social. Juro! Hoje eu nem mordi ninguém.