quarta-feira, julho 18, 2007

Porque eu gosto dos gordinhos

Sim, existe uma explicação, e ela tem muito mais a ver com aspectos comportamentais do que físicos.

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que NÃO, eu não tenho nenhuma tara por obesidade mórbida, não me sinto atraída por dobras de Sharpei e nem tampouco sonho ser esmagada por um corpanzil no estilo bigorna. Ocorre que, de fato, não me incomodo com uma barriguinha moderada, um par de coxas roliças, ou uma borda extra de catupiry (aquela gordurinha na cintura, sabe?)...

O primeiro passo pra eu me interessar por um homem é que exista atração física, o que não significa, necessariamente, que ele tenha de ser bonito. Vários caras se encaixam no conceito “sexy ugly” (quem já viu o filme “Beijando Jessica Stein” sabe do que se trata, e caras como Steven Tyler, Jack Nicholson e Mick Jagger são grandes exemplos), mas não é disso que o texto se trata. De qualquer forma, eu acho que todos os gordinhos pelos quais eu já me interessei são bonitos, e essa opinião já foi muitas vezes confirmada até por amigas que preferem os sequinhos.

O que importa mesmo é que não me ligo em beleza pronta, de capa de revista. Nunca gostei de homens muito musculosos, especialmente quando passam do limite e ficam desproporcionais, com ombros e braços enormes que fazem a cabeça parecer minúscula. Especialmente quando converso com um deles e concluo que o cérebro também é minúsculo. Ainda mais quando imagino (ou constato) que toda a obsessão em manter a barriga de tanquinho provavelmente é uma forma de tentar compensar um pênis minúsculo.

De qualquer jeito, meu nível de atração por homens pelos quais eu efetivamente me apaixonei nunca foi superficial, de modo que sempre houve uma série de qualidades levadas em maior consideração do que a forma física.

Até os detalhes que me prendem a atenção, fisicamente falando, que são olhos, boca e braços, têm uma razão subjetiva para me atrair. Gosto de olhos doces, que me observem com carinho. Gosto da boca pelo jeito de sorrir e, óbvio, de beijar. E dos braços pela forma como me sinto neles.

De acordo com estudiosos do comportamento humano, mulheres excessivamente preocupadas com a própria imagem acabam se tornando superficiais, ao passo que homens acometidos pela mesma inquietação tornam-se narcisistas.

Representando a sabedoria popular, amigos meus que já foram pra cama com mulheres muito perfeitinhas dizem que elas mandam mal porque não conseguem relaxar, têm medo de suar, de bagunçar o cabelo, de ficar numa posição que de alguma forma desvalorize seus pontos fortes, de aparecer uma celulite ou uma estria contra a luz.

Já o problema do sexo com homens que se acham perfeitos acontece quando a mulher representa um papel coadjuvante na relação. Ou seja, o cara só não trepa consigo mesmo por impossibilidade concreta: duro não dobra e mole não chega. A maior parte das mulheres normais (excluídas, portanto, as masoquistas e, por conseqüência, as tolas apaixonadas por imbecis) se sente muito melhor quando tem não somente o corpo, mas também o ego acariciado por um homem que sabe fazê-la se sentir a mulher mais linda do mundo. Sim, por incrível que pareça, isso é bem mais gostoso do que uma maratona com um cara vaidoso, apaixonado por si mesmo, querendo provar que é um atleta sexual, e que mantém a luz acesa não pra poder ver a parceira, mas pra que ela possa vê-lo.

Do mesmo jeito que a Síndrome do Patinho Feio fez de mim uma mulher espetacular, porque me obriguei a desenvolver virtudes que me destacassem além do físico, homens que não têm na própria aparência a garantia de sucesso no mercado geralmente têm algo mais a oferecer, algo que acaba sendo muito mais interessante.

Se eu não acho que seja possível a combinação entre estética e inteligência? Eu sei que é. Mas todo mundo tem defeitos, e aqueles que insistem em aparentar perfeição (e fazem uso de subterfúgios diversos para ocultar dos outros o que não toleram em si mesmos) costumam ser insuportavelmente chatos. Já imaginou um homem que não permite que a namorada toque em seus cabelos por causa do gel? Cafuné proibido? Que desgraça!

Dia desses, eu estava num bar, ficando com um cara que me olha de um jeito que adoro, tem um beijo delicioso, e em cujos braços eu me sinto muito, muito bem, e avisei: “Ih, baguncei todo seu cabelo e não sei mais arrumar”, e ele respondeu, com os olhos doces e o sorriso lindo de sempre: “Não faz mal”. E nem sequer fez menção de ajeitar as madeixas, ou correr em direção a um espelho. Preferiu continuar me beijando. Eu achei lindo demais! Macho demais! Claro que também ajuda o fato de ele ter cabelo bom e não precisar de gel.

Além disso, podem me chamar de preconceituosa, mas, em minha opinião, certas características masculinas não devem ser abandonadas. Eu sei que o mundo está virado, que as coisas estão a cada dia mais estranhas, mas de repente você se apaixona por um metrossexual e, quando se dá conta, está dividindo com o moço até o esmalte de unha.

Agora repare no comportamento dos gordinhos: se não cozinham, pelo menos sabem fazer churrasco; detonam alimentos pouco ou nada saudáveis servidos em porções de boteco pra acompanhar a cervejinha, e não têm frescura com comida. Pra mim, uma das coisas mais broxantes num homem é vê-lo separar coisas no prato, “ui, cebola não, ervilha não, cenoura não”. E cara que tem problema com cores? “Não como nada que seja verde”... Ah, mas é uma moça! E a fobia de açúcar? “Oh, céus, isso não tem sabor de aspartame... Argh, será açúcar? Nããão!!!”. Contar calorias é coisa pra gorda neurótica, homem que é homem não sabe a diferença entre light e diet.

Resumindo: eu acho que os gordos são mais másculos.

Os gordinhos são, além de tudo, mais divertidos. Claro que existem exceções, mas eles costumam ser do tipo de gente que não se leva tão a sério, que sabe rir de si mesma, que não se preocupa se vai sair bem na foto. Não ficam fazendo pose. Não têm vergonha de tirar a roupa na sua frente porque engordaram 500 gramas. Você nunca se sente na obrigação de encolher a barriga na frente deles. Eles não condenam uma mulher pelo tamanho do prato dela. Quando praticam exercícios físicos, o fazem com o objetivo de ter mais saúde, não pela estética pura e simples.

É óbvio que também devem existir magrinhos machos de verdade, sem frescura, divertidos, desencanados da própria aparência, e, ainda assim, bonitos.

Mas o abraço de um gordinho é sempre muito mais gostoso.