sexta-feira, novembro 04, 2005

Demorou mas voltei

E o que a gente faz quando o passado bate à nossa porta trazendo consigo uma bagagem de doces lembranças de um futuro que não chegou a existir? Por mais que eu tenha superado, por mais que as causas impeditivas sejam aparentemente intransponíveis e eu mesma duvide, na maior parte do tempo, de algum resquício de desejo em mim, não há como negar que algo aqui dentro se reacende com cara de esperança. Não sou de ferro né? A única coisa que me conforta nessa história toda é perceber, ainda que tardiamente, que eu não pirei sozinha. Que não foi, como algumas pessoas quiseram me convencer, uma ilusão, um amor platônico, um devaneio de mulher carente. Algo de verdadeiro e muito intenso existiu entre nós, não é verdade? Algo que marcou em você tanto quanto marcou em mim, e permanecemos assim, na lembrança um do outro, como um sonho bom que a gente acorda na melhor parte, depois volta a dormir e não consegue mais sonhar de novo. É muito bom saber dessa estranha ligação que ainda nos une depois de tanto tempo, que sinto que de alguma forma sempre vai haver entre nós... Mesmo que a gente ignore, que a gente finja, que a gente lute. Tem gente que passa a vida tentando encontrar esse sentimento, essa conexão que a gente alcançou em uma noite de conversa da melhor qualidade, que a gente fortaleceu com o beijo mais apaixonado do mundo, que a gente alimentou com orgasmos sincronizados, que a gente desperdiçou num até logo que não teve mais volta, numa manhã cinzenta, debaixo de chuva, ouvindo a música que ainda ia virar sucesso. Eu vivo repetindo que nada acontece por acaso, não sei se é porque eu acredito ou porque quero me convencer disso. Será mesmo que estaríamos juntos até hoje se você não tivesse ido? Ou será que você ia descobrir o quanto eu sou chata na TPM, o quanto detesto ser contrariada, e como é grande a minha falta de habilidade pra lidar com críticas? Será que você ia se cansar das minhas manias, ia odiar assistir a seriados e comédias românticas comigo, e eu ia perder a paciência com você tirando sarro do meu time? Será que eu ia deixar de aturar as músicas que você curte, e que você não ia suportar a idéia de me ver dançando funk? Será que você ia achar que minhas amigas só saem pra caçar homem e eu ia achar seus amigos uns bêbados gordos insuportáveis? Será que eu ia cansar das suas lamúrias e você ia se frustrar por não encontrar apoio em mim? Será que você morreria de ciúmes dos meus amigos, ou que eu me afastaria de meus amigos por sua causa e me sentiria, sem eles, incompleta? Será que a gente ainda ia procurar um ao outro na cama depois de uma briga boba porque eu te chamei de velho? Será que nosso amor sobreviveria à rotina? Será que o que nem tempo nem distância foram capazes de apagar esmoreceria diante das mazelas do dia-a-dia? Ou será que a gente ia continuar conseguindo superar todas as dificuldades só pelo fato de saber o quanto é difícil (ia dizer impossível, mas quero crer que não seja) encontrar um encaixe tão perfeito, de corpo, de alma, de risos, de formas de pensar, de mãos, de jeitos de amar? Creio que não chegaremos a descobrir. Nossos caminhos se distanciaram demais, e hoje você não pode abandonar tudo o que há de certo e concreto na sua vida em razão de um “será?”... Eu mesma não arcaria com as conseqüências, é responsabilidade demais pra se embasar num “talvez”. Mas... No fim de todas as nossas tristes conclusões existe sempre um “mas”... Seguido de frases vagas, clichês (se tanta gente usa, deve haver alguma razão)... Nunca se sabe... O mundo dá voltas... A gente não sabe o dia de amanhã... Não cuspa pra cima... Nunca diga nunca... Tudo pode ser... Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.