domingo, dezembro 25, 2005

Desventuras em série

Há alguns dias fui tomada por uma estranha ansiedade, uma sensação incômoda e difícil de explicar. Estou achando que a tal crise de final de ano é coisa de adulto, e que até o ano passado eu ainda era criança. Penso que a nossa cultura de comemorar o início de cada ano, somada à rigidez dos prazos aos quais a nossa rotina está atrelada, faz com que eu (e a maioria das pessoas, imagino) enxergue cada um desses ciclos de 365/366 dias como o prazo que eu tenho pra concluir os projetos iniciados. Assim, quando se aproxima o fim do prazo (lá pela metade de dezembro), vai surgindo um desespero por saber que não vai mesmo dar tempo de fazer tudo a que me propus desde janeiro: emagrecer, guardar dinheiro, ser mais organizada, pagar minhas contas etc.
E à medida que esse desespero aumenta (com o passar dos dias de dezembro), mais e mais eu desejo ardentemente que chegue o novo ano. Porque assim o prazo se renova: tenho doze meses pra emagrecer, guardar dinheiro, ser mais organizada, pagar minhas contas e ainda, quem sabe, conhecer alguém legal, sossegar um pouco, diminuir o ritmo de baladas, dar um rumo pra minha vida profissional etc.
Acaba logo 2005!
Esse ano não foi dos melhores pra mim. Desventuras em série não foi só o nome de um filme muito chato que vi com o Sinho e a Bibi num dia em que pretendíamos assistir ao Closer, mas a sessão estava esgotada. Não. Desventuras em série foram a definição da sucessão dos meses de 2005 pra mim. Não foi de todo ruim, é claro. Fiz novas amizades e estreitei os laços com pessoas por quem tenho o maior apreço. Descobri que trabalhar é legal (desde que em doses homeopáticas). Desenvolvi mais e mais o meu dom da versatilidade, de me adaptar aos mais diversos ambientes, mantendo assim amizades com pessoas que não têm absolutamente nada a ver umas com as outras. Fui a lugares onde toca hip hop, samba, pagode, funk, rock, jazz, psy, house, forró, country, sertanejo(!), MPB e até axé (ugh). Aprendi algo sobre tolerância, que é o recurso que me resta quando não consigo mudar o que detesto numa pessoa. E como sempre, percebi que toda experiência é válida, e que na pior das hipóteses um dia eu vou rir disso tudo. Aliás, percebi que as situações mais desagradáveis se transformam, superado o trauma, nas melhores piadas. Evidente que, para tanto, o sarcasmo impiedoso é imprescindível.
Pra que essas valiosas lições de vida pudessem enriquecer minha experiência, aconteceram coisas que me fizeram sofrer, chorar, desesperar, desacreditar, perder a confiança, me estressar, engordar, me indignar, me humilhar, errar, pedir perdão, perdoar, esquecer, me perder e reencontrar o caminho... Hoje já posso rir de quase tudo isso. Quase.
A ceia de Natal desse ano representou exatamente esse espírito de fim de ano: foram inúmeros preparativos – compras, presentes, um exagero de comida, roupa de Papai Noel etc – para a família se reunir por algumas horas em que cada um desejava mais do que tudo ir pra sua própria casa (com exceção da anfitriã, que só desejava que todos fossem embora e, de preferência, alguém ajudasse com a louça suja antes). Aquela balbúrdia, barulheira, crianças correndo, gritando, gargalhando, chorando, brinquedos eletrônicos made in China tocando musiquinhas insuportáveis...
E a hora que acaba... É um alívio! Num episódio de “Grey’s Anatomy” que eu vi ontem, a Meredith conclui dizendo algo assim: “Por que a gente continua martelando a própria cabeça? Porque quando a gente pára é tão bom!”... Não há nada tão reconfortante quanto o silêncio da madrugada depois de uma noite em que tantos sons de diferentes vozes e instrumentos e aparelhos disputam espaço em nossas mentes...
Esse ano eu insisti muitas vezes em padrões de comportamento que me conduziram invariavelmente à culpa e ao sofrimento. Sei exatamente como evitar tão indesejáveis resultados. Por que, então, me privar da solução? Por que não faço o que é melhor pra mim?
Dessa vez, só pra variar, resolvi começar a transformar minha vida aos pouquinhos, nada de radicalismo. Decidi que vou respeitar mais as minhas escolhas, e me afastar de quem se recusar a fazer o mesmo, ainda que isso signifique diminuir o contato ou até cortar relações com pessoas de quem eu gosto. E comecei isso antes do ano acabar. Não é minha promessa de ano novo. Não é uma meta da qual eu posso desistir em fevereiro, em pleno carnaval. Não é um objetivo: é uma necessidade. Antes de agradar a quem quer que seja, vou cuidar de me fazer feliz.
A minha providência de hoje nesse sentido foi deixar minhas amigas de lado, por mais que eu quisesse vê-las. Resolvi que não ia me dispor a programas furados, cansativos e desgastantes apenas pela companhia delas, ainda que eu quisesse muito dar um abraço em cada uma delas. Mas não a qualquer preço, não em qualquer lugar e sob quaisquer circunstâncias. Não se não fosse legal pra mim. Mesmo estando na rua, com dinheiro no bolso e dirigindo um veículo automotor com combustível suficiente pra alguma aventura maluca que elas inventassem.
Optei pela simplicidade de uma conversa boa com um grande amigo. E voltei pra casa satisfeita.
Não vou mentir e dizer que não alimento a ingênua expectativa de que as coisas serão melhores no próximo ano, mesmo que racionalmente eu saiba que não há fundamento lógico que justifique essa crença. Sim, eu tenho aqui comigo muitos sonhos, e espero de verdade poder realizar o máximo possível deles no próximo ano. Mas acima de tudo, o que espero pra 2006 é acertar nas minhas escolhas. Porque o futuro é sempre um infinito de possibilidades, e isso é assustador, mas ao mesmo tempo maravilhoso.
Desejo um Natal iluminado e que todos sejam felizes em 2006!
Beijos