segunda-feira, março 06, 2006

This place is empty without you...

Ignorando a premissa básica de que eu não conheço as respostas, insisto em me autoquestionar a todo tempo. A única possível explicação que me ocorre é que a minha capacidade de raciocínio, bem como de espargir idéias desconexas e, ainda sim, dotadas de alguma coerência, me causa intensa admiração narcisista. A questão fundamental é que, por mais rasas que sejam as minhas compreensões, ainda assim atingem um grau de sagacidade situado numa freqüência tão elevada que a maior parte dos seres supostamente pensantes que me cercam não ousa pensar em captar. Contentam-se com o humor evidente e escancarado que lanço como migalhas aos tolos esfomeados, que gargalham com toda força de seus espíritos ignóbeis.


Participei uma vez de um exercício com pessoas que conviveram comigo por uns 5 dias seguidos: formado um círculo, cada um recebeu uma folha de papel com o seu nome, que foi passada de mão em mão. Em poucas palavras, cada componente do círculo escreveu a sua impressão acerca do dono do nome escrito na parte superior do papel.


Completada a volta, recebi minha folha. Alguns me definiram como a pessoa mais engraçada do universo. Outros como mal-humorada, estressada, rabugenta. Uns dois ou três como peituda. Excetuando-se as obviedades, percebi que a proporção dos que me taxaram de mal-humorada era exatamente igual ao número de pessoas que eu, se fosse um pouquinho mais indelicada, teria classificado como toscas, ignorantes, débeis.


O que os parvos e cidadãos medianos estão longe de perceber é que o que eles chamam de rabugice é justamente o meu deleite, é o humor cáustico que só pode agradar àqueles que se despem da hipocrisia do politicamente correto. Não faço apologia à crueldade desmedida, creio apenas que engolir o riso diante do tombo alheio não faz de alguém um ser mais refinado, mas sim recalcado.


Aqueles cujas antenas são capazes de captar a freqüência que eu emito devem saber do que eu falo. A jornada dos seres pensantes é sempre um tanto solitária. Já cogitei a possibilidade de me submeter a uma leucotomia e unir-me ao rebanho incapaz de contestar, inovar ou mesmo peneirar uma informação antes de absorver como verdade absoluta qualquer notícia pronunciada pelo William Bonner. A alma inquieta dos altercadores obviamente reconhece muito mais mazelas na humanidade do que jamais imaginarão os que simplesmente se submetem, como plâncton lançado ao movimento das marés.


Desde a mais tenra idade eu tenho vivido paradoxalmente só em meio à profusão de anencéfalos e analfabetos funcionais. Conquistei algumas amizades de seres capazes de distinguir em mim tanto mais do que o evidente sarcasmo, mais do que a idéia tão equivocada que o grosso dos conhecidos e convites aceitos no orkut faz de mim.

Certamente a culpa é minha, visto que buscando me defender da realidade lancinante que fere demais a minha natureza extremamente sensível eu mesma ergui uma máscara e construí um personagem mais facilmente adaptável aos padrões do senso comum.


Reservo, entretanto, um prêmio de valor inestimável àquele que tiver a habilidade e se dedicar ao empenho de descobrir a complexidade dos muitos eus que me habitam. Que não se compadeça da minha fragilidade diante da frieza do mundo real, mas sim se enterneça com a compaixão que eu nutro mesmo pelos mais abomináveis, a quem é custoso denominar de “semelhantes”, mas o parco conhecimento das fraquezas humanas me leva a reconhecê-los como tal. Que não se assombre com a objetividade dos meus atos e desejos, por vezes confundida com deselegância, e sim compreenda a desnecessidade de circunlóquios e subterfúgios quando o propósito é claro. Que, por outro lado, esbanje competência para tergiversar por horas, pelo simples prazer de aplicar a diálogos prolixos e isentos de objetivo o conhecimento semi-inútil da existência das aliterações, elipses, metonímias, silepses e anacolutos. Que não se aborreça demais com minhas carências e inseguranças, nem tampouco abuse da facilidade de serenar minhas inquietudes com palavras doces e pequenos gestos despretensiosos de carinho. Que, ao se apaixonar pela acidez de meus comentários, não se decepcione ao descobrir algo de melífluo em minha personalidade.


Aproxima-se o dia 12 de março, meu vigésimo quarto aniversário (como é bom ser mulher e não ter nenhum problema com o número 24), e sinto-me razoavelmente confortável sendo Oksana, feliz com a probabilidade de ter ainda muito tempo para me livrar dos incontáveis defeitos, mesmo aqueles aos quais me afeiçoei tanto, e aperfeiçoar minhas características mais louváveis, muitas delas desprezadas pelas pessoas que, ainda bem, eu desprezo. Uma avalanche de incertezas me faz crer que o dinamismo da vida, o movimento constante de pensamentos é o que conduz, ainda que lentamente, à verdade. À tal felicidade que, desconfio, deve ser absolutamente diversa desse modelinho que eu tenho em mente. Fora das novelas, seriados, comédias românticas e relatos “verídicos” nas Seleções do Reader's Digest, não conheço nenhum caso de pessoas que tenham tido sucesso nessa empreitada. Mas não quero deixar de acreditar. Quero unir minha voz ao coro das canções tolas de amor...

Vinte e quatro anos buscando alguém que valesse uma lágrima de saudade, uma vontade descontrolada, a coragem de arriscar, o frio na barriga, o medo de não ser nada disso, a adrenalina pulsando, pungindo, as noites mal-dormidas, a falta de apetite. A certeza infundada de que cada reencontro compensará mil despedidas, o desejo de lutar contra evidências, de encarar o desconhecido, de não temer nada exceto a prostração. Acho que encontrei. Quantos de vocês, leitores, adorariam trocar essa apatia constante com sabor de falta de perspectiva pela aflição de uma paixão violenta e arrebatadora? Devo ser, portanto, contrariando qualquer mínima evidência de lógica, alvo de inveja, pelo simples fato de que estou sofrendo. Só porque alterno momentos de aparente autismo (sorriso abestalhado e olhar perdido no infinito, balançando o corpo lentamente) com outros em que o andar sorumbático e o olhar macambúzio evidenciam que nada pode suprir uma determinada ausência... Quem entende os anseios humanos, afinal?


Beijos.


Ps.: Dia 12, domingo, hein? Ai de quem esquecer.