sexta-feira, fevereiro 24, 2006

E, no fim, tudo dá certo.

Não gosta de texto grande? Vai ler gibi no banheiro!

Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006. Pretendia acordar cedo e tomar uma série de providências necessárias para a viagem, porém, as usual, fiquei até altas horas da madrugada conversando com não me lembro quem via MSN, e não consegui acordar antes das 10h30min. No restante da manhã eu passei por momentos de tensão e ansiedade, tentando previamente me lembrar de todas as coisas que fatalmente faltariam na minha mochila. Trabalhei durante a tarde e pedi pro chefinho (o mais compreensivo do mundo) pra sair mais cedo, pedido que foi, como sempre, deferido.

O ônibus da excursão deveria sair da frente do Teatro Guaíra às 19 horas, mas um atraso de duas horas e meia permitiu que eu fosse antes à casa da Lu (a uma quadra dali), checasse o orkut, conversasse via MSN com algumas pessoas e escrevesse um post medíocre. Na hora de voltar, uma tempestade desabou sobre minha cabeça e eu cheguei ao ônibus encharcada.

Iniciada a viagem, logo vi que o meu desejo de desmaiar na poltrona e só acordar no Rio de Janeiro seria dificultado de todas as formas possíveis pelos roqueiros que infestavam o ônibus. Todos vestidos de preto, camisetas de banda, alguns poucos com aparência (e odor) de quem não tomava banho há dias. Consumindo muito álcool e cannabis, ao som de ACDC e coisas do gênero. Meu padrasto (que foi junto comigo e é, provavelmente, a pessoa mais empolgada do universo) em poucos minutos estava amicíssimo daquela horda de arruaceiros, que entoavam gritos de “GOSTOSA! GOSTOSA! GOSTOSA!” quando eu cruzava o corredor pra ir ao banheiro.

Como diriam os locutores das propagandas do Shoptime, “E NÃO É SÓ ISSO!!!” Ligando agora mesmo você ainda leva inteiramente grátis um motorista de ônibus sobressalente, carioca, acadêmico de Ciência Política, com o dom de (como todo carioca) falar até você surtar e começar a bater a cabeça na parede. Num momento de distração dele (enquanto tagarelava pra outra pessoa), simulei um ataque de narcolepsia e adormeci instantaneamente. Acordei com ele colocando uma camiseta entre minha cabeça e a janela, muito atencioso, mas fingi que não vi. Continuei babando. Umas 3 horas depois eu acordei com um solavanco do ônibus e aí, já era. Começou a falar de novo e não parou nunca mais. No fim da viagem me pediu em casamento. Normal, acontece sempre.

Eu nunca tinha estado no Rio, então prestei bastante atenção à paisagem e, realmente, é uma cidade linda. O pessoal da excursão tinha uma bandeira, ou pelo menos era assim que eles chamavam o lençol azul amarrado num bambu que carregavam pra onde fossem. Obviamente, o artifício tinha a função de evitar que alguém se perdesse. Bem, pra mim não funcionou. Estávamos eu e meu padrasto caminhando logo atrás da bandeira, quando demos uma paradinha. “Compra uma camiseta pra mim, compra, compra, compra”, pedi. Padrasto comprou, enquanto eu observava a bandeira se afastando. Aquele era o momento exato em que devíamos nos reunir ao grupo, mas Padrasto preferiu escolher uma camiseta pra ele também, depois óculos de R$ 5,00, depois tirar fotos etc. Enfim, creio que não preciso nem dizer qual foi o resultado.

O Zé Carioca, organizador da excursão, deixou o número do telefone de sua irmã, que mora no Rio, para o caso de uma emergência. Sim, era uma emergência, eu estava perdida com meu padrasto em Copacabana. Telefonei, e devo dizer que não fiquei muito contente quando ela me perguntou onde o Zé estava. Hey, essa pergunta deveria ter sido feita por mim! E respondida por ela! Diante da total falta de perspectivas, resolvi ir com Padrasto procurar um restaurante pra almoçarmos, porque aqueles espetinhos de carnes duvidosas, os ingredientes para os hot dogs expostos naquele calorão e os enormes salsichões grelhados vendidos a cada 5 metros não me apeteceram nem um pouco. Depois de devidamente alimentados, andamos ainda durante horas...

Conversei por telefone com a Tati algumas vezes, e ela estava a caminho para me encontrar. Telefonei mais uma vez pra irmã do Zé (o nome dela também é Tatiana), e dessa vez ela já sabia onde eles estavam: no posto 9 de Ipanema. Andei cerca de uma vida e meia pra chegar até lá e, antes da bandeira azul, encontrei a Tati, que passou o resto do final de semana me aturando. Santa paciência!

Quando o pessoal da excursão cansou da praia, eu tive a doce ilusão de que retornaríamos a Copacabana, onde em poucas horas aconteceria um show de certa banda internacional que, afinal, não era o motivo pelo qual eu passei umas 15 horas dentro daquele ônibus? Hum, acho que sim. Mas os planos do restante da excursão eram outros, e ficamos por lá mais um tempo. Muito contrariada, fiquei assistindo ao desfile de um bloco de pré-carnaval, que em nada ajudou a melhorar meu humor.

Quando eles resolveram finalmente mover seus traseiros fétidos em direção a Copacabana, a Tati me avisou que iria antes à casa de seu amigo Luciano tomar um banho. Fui com ela, porque banho depois de um dia inteiro camelando sob sol escaldante é realmente uma oferta irrecusável. Depois fomos nós duas caminhando rumo à areia de Copacabana, onde 1,3 milhão de pessoas se aglomerava pra assistir ao show dos vovôs do rock’n’roll, os Pedras Rolantes. Os telefones celulares se revoltaram, como sempre fazem nas ocasiões de grande tumulto em que você mais precisa localizar as pessoas, então ficamos só eu e Tati. Depois de muito esforço, uma longa caminhada, algumas inconvenientes encoxadas, muito suor de muita gente (vou ali vomitar e já volto), encontramos um lugar em que podíamos enxergar o palco, o telão, e até o Mick Jagger com cerca de 2,5 cm de altura. E valeu muito, muito a pena ter visto os caras, sexagenários, depois de décadas do trinômio sexo-drogas-rock’n’roll, fazendo um show alucinante, reunindo na platéia diversas gerações de fãs.

Terminado o show, foi aquela dificuldade pra reencontrar o povo da excursão, depois fomos eu, Padrasto e Tati até o ônibus (em Botafogo) pegar minha mochila. Então me despedi da excursão e fui pra casa de Tati. Dormi às 5h, e pouco depois das 10h acordei por causa do calor... Curitibana, sabe como é?

À tarde Tati pretendia descansar, depois do show ao qual ela foi só por minha causa, mas é claro que eu não deixei. Meu talento pra chantagem emocional a convenceu a sair comigo pra tomar água de coco num quiosque na beira da praia... Valeu Tati, pela hospitalidade, pelo carinho, pela amizade... Depois fomos ao Shopping Rio Sul (quem acha que eu aproveitei pra fazer umas comprinhas põe o dedo aqui), onde eu finalmente conheci a sedentária Dani, minha irmãzinhauummmmmm... De brinde ela me trouxe a Ratinha e Râma (ou melhor, eles a trouxeram, porque tirar a chaveirinho de casa não é tarefa das mais fáceis). Gente, que coisa meiga eu, Dani e A.M. juntas! Quanta bondade nestes corações! Nossas conversas pareciam um especial de fim de ano, com aqueles votos de esperança, paz... Uma candura. E o Râma se divertindo horrores...

Depois de me levarem pra passear no carro quente da Ratazana (uma bênção, porque minhas pernas já não respondiam mais aos meus estímulos) e me apontarem uma série de pontos turísticos de Niterói, fomos ao Mac Donald’s. Ah! Fiquei triste por não ter conhecido Giseli (Dani ficou com preguiça de teclar os números do telefone).

Já na casa de Dani (que como todo carioca possui o dom de falar até você aprender a responder “aham” mesmo quando já está sonhando e babando no travesseiro), fui super bem recebida, a família dela é muito fofa, especialmente a pequena Gabi, sobrinha da Dani.

Desde a nossa primeira conversa via MSN eu tive a certeza de que a Dani era uma pessoa que valeria a pena conhecer. Um verdadeiro achado na vastidão da internet. Durante meses eu me referi a ela dizendo: “Hoje eu estava conversando com minha amiga Dani”, porque o fato de não tê-la visto pessoalmente até então não era de forma alguma empecilho pra eu considerá-la alguém importante pra mim. De verdade. Alguém cuja opinião sempre me interessa, cuja “crueldade” para com os seres desafortunados, privados de mentes brilhantes como as nossas, sempre me encantou. Quando eu finalmente tive a oportunidade de abraçar a pequenina criatura que apareceu de sandália de plataforma pra não se sentir tão diminuta, senti que tudo aquilo que eu previa era verdade. A pequena hobbit é mesmo uma amigona (no sentido figurado), e conta a favor dela ainda o fato de que a distância jamais nos impediu de estabelecer os laços de uma amizade sincera... Bendita seja a internet!

Bem, quando finalmente a Dani parou de falar, falar e falar, eu consegui dormir umas 4 horinhas. Acordei, tomei café, juntei os trapinhos e ela me acompanhou até a rodoviária. Havia comprado na noite anterior a passagem pra SP, para as 8 horas. Graças ao trânsito tranqüilo do local, e também porque, como diz minha irmãzinha, “todo castigo pra pobre e corno é pouco”, é óbvio que eu perdi o ônibus. Consegui trocar a passagem (depois de desenvolver uma úlcera e em seguida ter meu estômago auto-fagocitado diante da apatia dos funcionários da maldita empresa) para o ônibus das 9h22min. Vejam, o ônibus das 8h já havia saído quando eu cheguei na rodoviária às 8h10min. Mas o das 9h22min ficou lá enrolando por 25 minutos! Sim, o universo conspira sempre a meu favor! E NÃO É SÓ ISSO!!! O das 8 chegou a São Paulo às 13h30min, o das 9h22min, em compensação, chegou perto das 16h!

No caminho recebi uma mensagem no celular, da minha amiga que iria me buscar de carro na rodoviária, avisando que não ia mais e que era pra eu pegar um táxi. É nessa hora que cai o raio na minha cabeça? Não, AINDA não.

Tive então que deixar a minha mochila de 3 toneladas no “Malex“ da rodoviária, porque não ia ter como atravessar a cidade e assistir ao show do U2 com aquele trambolho nas costas. Conheci no ônibus um pessoal que também estava indo ao show e “me ofereci” pra ir com eles. Pegamos então dois metrôs, e o povo ainda ia pegar um ônibus. Ocorre que... Sim, tem mais um pequeno probleminha... Só eu mesmo. Esqueci o ingresso pro show do U2 em Curitiba. Percebi isso na sexta, no ônibus a caminho do Rio. Aí liguei pra Ciça (amor, sempre me salvando), e ela pegou na minha casa e levou pra SP na segunda-feira, quando foi para o show. O detalhe é que quando eu cheguei à rodoviária em Sampa, a Ciça já estava entrando no Morumbi, de modo que eu precisava chegar lá antes de o estádio lotar e ela não poder mais sair do lugar pra me entregar o ingresso. Abandonei então os novos amigos (Bruno, Bruno, Jordana, Marcos e a 3ª Tatiana carioca que conheci nessa viagem) e peguei um táxi. A corrida custou quase o preço da passagem Rio-SP.

Chegando ao Morumbi, mais uma surpresinha agradável do destino: a revolta dos celulares, mais uma vez. Não havia jeito de falar com Ciça, Double ou quem quer que fosse. Contei, de novo, com a solidariedade de um estranho: o Daniel, segurança que estava na entrada, verificando o desespero estampado em minha face, pegou o nº da Ciça e passou horas tentando ligar do celular dele, enquanto me dizia: “Calma, a gente vai conseguir”... Creio que as forças cósmicas destinadas a transformar minha vida numa série de acontecimentos dramáticos se distraíram por alguns segundos e eu consegui avisar a Ci que eu estava na porta arrancando os cabelos. Eeeeeeeeee!!! Antes tarde do que nunca, entrei e me uni aos meus amigos, pertinho do palco.

Putz, eu nem gostava muito de U2, e gastei uma fortuna do ingresso apenas com o vil objetivo de matar de inveja os fãs que não conseguiram comprar... Mas devo admitir, o show foi incrível, e o Bono é uma graça mesmo. Mereceu quase 4 linhas desse meu texto colossal. OK, admito: chorei durante “Pride (In the name of love)”.

Depois do show, mais notícias boas. Não tinha onde ficar. Na casa do irmão de uma amiga não havia cama disponível (fiquei com vergonha de dizer que qualquer tapete estava bom). Sugeriram que eu voltasse na van com meus amigos que fizeram bate-e-volta, e eu disse que a minha mochila estava na rodoviária, e a van não poderia passar por lá, totalmente fora de caminho. Uma criatura insensível disse que pegaria minha mochila e devolveria pra mim quando voltasse a Curitiba, lá por quarta-feira.

OK, PÁRA TUDO. Será que ninguém percebeu que eu tinha uma razão forte pra querer ficar? Sim, uma razão específica, cujo número de telefone estava na agenda do meu celular que – preciso dizer? – ESTAVA SEM BATERIA!!! Oh, céus! Não me atrevo a perguntar “o que mais pode me acontecer?”, com medo de uma fenda gigantesca se abrir na terra e me engolir em questão de segundos.

Mais uma vez foi a Ciça quem me salvou: o celular dela (ou melhor, do irmão dela, porque o dela foi furtado recentemente) também é Nokia, e a Nokia é uma abençoada marca de aparelhos celulares cujas baterias e carregadores são geralmente compatíveis, mesmo em modelos diferentes! Telefonei pra minha “reason to stay”, combinamos um ponto de encontro, anotei o telefone na minha mão muuuito rapidamente porque as pessoas que me dariam carona estavam sumindo na multidão, devolvi a bateria do celular pra Ciça e peguei a minha, aquele peso morto. Chegando ao local marcado, telefonava e... nada. Sim, anotei o nº errado. Então me atirei sob um caminhão que passava e estou publicando esse texto por intermédio da Woopy Goldberg.

Supliquei às forças do universo: por favor, só um pequeno auxílio, uma mínima esperança, um motivo pra eu não acreditar que sou a pessoa mais desafortunada da face da Terra... Apertei o botão “liga” do meu celular apenas por força do hábito... Já havia tentado isso tantas vezes, inutilmente... E eis que... TCHARAMMMMM!!! Uma luz! No fim do túnel? Não, na tela do meu aparelho! Ligou! É um milagre! Eu sou, sim, filha Dele!!!

E foi assim que eu consegui a façanha de me tornar a hóspede felizarda do melhor dos anfitriões do mundo, que, durante algumas das melhores horas da minha vida até hoje, me deu casa, comida, roupa lavada, uma toalha de rosto pra eu me secar depois do banho, dentre outros benefícios inenarráveis... Ele é indiscutivelmente lindo e – juro, sem hipocrisia – essa é a menos relevante de suas virtudes. Muito mais que o Mick Jagger e o Bono Vox, foi ele quem fez todas as vicissitudes enfrentadas serem quase nada diante da expectativa de, simplesmente, estar com ele novamente (DJ, play that song, please...).

Meu ternurinha-cult, seja bem-vindo a minha vida.

Beijos