sábado, junho 03, 2006

Do avesso

Discorro sem o menor entusiasmo sobre o uso abusivo do direito de propriedade e as sanções legais aplicáveis no direito de vizinhança, com as pernas e as costas doloridas das câimbras freqüentes e de passar horas sentada diante do PC em posições pouco ortodoxas (geralmente sentada sobre uma perna dobrada, ou, como agora, com as duas pernas sobre a cadeira, e um dos joelhos servindo de apoio ao queixo), cansada, estressada, preocupada com tantas coisas por resolver. Ouvindo blues, com vontade de comer alguma coisa e ao mesmo tempo lembrando que hoje comi demais. Sei que vou dormir muito pouco essa noite, que minha mãe vai me acordar cedo e que eu vou ter que sair em busca de caixas de papelão para a mudança. E que depois vou ter que, a contragosto, me aventurar entre todos os papéis, documentos, comprovantes de pagamento, anotações que juntei ao longo dos meros 13 meses que se passaram desde a derradeira mudança. Sei que preciso me desfazer de grande parte da papelada, e sei que vai ser extremamente tediosa a seleção do que é lixo e do que pode ainda ter alguma utilidade. E as roupas e sapatos, eu sei que não vão caber todos no armário do novo apartamento, e bem que gostaria de me desfazer de boa parte do que tenho, se ao menos eu pudesse adquirir coisas novas. Penso mais uma vez nas contas a pagar. Até agora não achei um comprador para o meu rim. E a prova de Civil me vem à mente. Como vou conseguir tirar a nota de que preciso sem ter ido a nenhuma aula? E ainda preciso de uma cama. E de botas, e de uma calça jeans. Mas antes seria bom pagar pelo menos a parcela mínima do cartão de crédito. Eu devia mesmo procurar um emprego de verdade. Embora eu goste tanto do meu trabalho e aprenda muito com ele. Preciso de dinheiro. Por outro lado, não gostaria de começar a trabalhar em outro lugar antes das minhas prováveis férias de julho, que pretendo passar integralmente com meu namorado. Tenho que pagar a primeira parcela da comissão de formatura (na qual eu entrei muito tardiamente) essa semana e, até agora, nem sinal de uma solução milagrosa. Lembro que preciso terminar o trabalho ainda hoje, e não devia estar escrevendo esse texto inútil agora. Meu namorado está doente (de novo) e eu queria estar com ele. Deitar junto dele, aquecê-lo, confortá-lo, cuidar dele pra me sentir melhor. Devíamos estar juntos sempre. Tantos casais se vêem diariamente e não merecem esse privilégio. Recordo de todas as vezes que meu chefe e todas as pessoas pra quem eu já trabalhei enalteceram a minha competência e a minha habilidade pra escrever, e vejo que todos esses elogios nunca fizeram diferença na minha conta bancária. Nada disso faz sentido. Parece que tudo o que eu quero está distante, inacessível, e uma avalanche de problemas desaba inopinadamente sobre mim.


Quando é que o meu dia vai chegar?