quinta-feira, junho 01, 2006

Gekkeimae kinchooshoo

Por razões que não cabem ser citadas aqui, desde o dia 9 de maio o meu relógio biológico não está funcionando perfeitamente. Digamos que eu tenha arrancado um dos ponteiros com os dentes, colocado as pilhas ao contrário, ou mesmo destruído as engrenagens a marteladas.

As leitoras do sexo feminino que fazem uso de pílula anticoncepcional sabem que ela deve ser tomada todos os dias no mesmo horário. Então. No mês de maio, tomei por acaso a primeira pílula da cartela às 3 da madrugada. E consegui manter esse horário até o último comprimido. Ontem. Porque nunca durmo antes das 3h. Isso apesar de acordar antes das 9h pra trabalhar, e ir todas as noites pra faculdade, que venho arrastando sem o mínimo de vontade.

É, eu durmo pouco, me alimento mal, não pratico exercícios físicos. É praticamente um milagre ser gostosa desse jeito.

Não creio que seja necessário expor minhas preocupações diárias com a falta de dinheiro, as faturas vencidas, os juros crescentes. Aposto que os meus leitores, todos milionários, não têm noção do que seja esse tipo de dificuldade, sendo portanto inútil a exposição de tais dramas financeiros. E penso ainda que, se eu tenho um rombo tão grande na minha conta, é porque eu tenho muito crédito. Isso me faz sentir mais importante (auto-ilusão).

Monografia, provas, trabalho, futuro, contas, mudança... Palavras inconvenientes flutuam em minha mente e eu tento afugentá-las, porque me perturbam.

De fato são poucas coisas que mantêm minha sanidade. Minhas amigas piradas, minha família e, especialmente, meu namorado. Ele é a minha prioridade, acima do meu cansaço, do meu sono, da minha fome. Por ele eu suporto essa rotina desregrada, os malefícios da falta de cuidado comigo mesma. E me sinto bem na maior parte do tempo. Por ele.

Mas em determinados dias simplesmente não dá.

Hoje acordei às 7h da manhã (embora tenha ido dormir, como sempre, depois das 3h). Fui para a faculdade. Pela primeira vez assisti a essa aula desde o início. Ela acaba às 9h20min, e eu costumo chegar às 9h10min para responder a chamada e ir embora. Descobri que a aula é boa, gostaria de ficar até o final, mas tinha outros compromissos. Voltando para casa, o Bichinho começa a ratear (igual ao Delúbio da Ratazana), e cheirar a borracha queimada. Levei meu irmão para a aula de Inglês e fui com Mommy até o mecânico e, adivinha? Sim, era vela! Igual ao Delúbio!

Levei Mommy ao trabalho dela e fui então deixar meu bebê (também conhecido como aparelho celular) na assistência técnica, porque ele também estava rateando. Depois de duas horas com a maldita senha derretendo na minha mão, finalmente fui atendida. Fui orientada a entrar no site da assistência daqui a 7 dias para ver qual é o prazo que ele vai demorar para ser consertado. Sim, tem um prazo pra eu descobrir o prazo.

Saí de lá e fui a duas lojas pesquisar preços de camas. Vou comprar uma cama nova e estou com preguiça de explicar porquê. E também vocês não têm nada a ver com a minha cama.

Fui então buscar uns documentos num lugar para tirar cópias autenticadas para Mommy. Cheguei ao cartório às 11h34min, e é claro que ele tinha fechado às 11h30min.

Voltei ao trabalho de Mommy para buscar a cadeira onde estou sentada agora (a antiga meio que se desfez de tão velha, e estávamos usando uma cadeira de praia com 3 almofadas diante do PC... patético).

Vim para casa almoçar e uma colega me lembrou no MSN do relatório da palestra da semana passada, que era pra entregar hoje. Bora fazer o relatório. Antes de sair de casa, uma olhadinha no orkut pra verificar o fã-clube do meu namorado se proliferando (praga) e se manifestando em Português pobre. Eu iria me sentir um pouco melhor nesse dia podre se mandasse a ignorante APA², mas ele me cobra autocontrole e insiste que é tudo muito respeitoso. Ah! E ele quer muito ganhar uma taqueira. Sim, eu surfei na tábua dos dez mandamentos, vaiei o sermão da montanha, chamei JC de cabeludo subversivo, enxuguei louça com o manto sagrado, so what?

Mommy ligou no celular do pequeno irmão semiletrado, que ele gentilmente me emprestou. Abre parênteses para apresentar o diálogo:

– Me dá o seu celular.
– Ah, mas e eu vou ficar sem?
– Você só usa o celular pra ligar pra mãe e azucrinar. Você pode fazer isso do orelhão, a cobrar.
– Mas hoje eu vou fazer trabalho na casa do meu amigoooo...
– Melhor ainda, usa o telefone do seu amigo pra azucrinar a mãe.
– Grnhrgrnhrghmr.

Fecha parênteses.

Mommy informou, ao telefone, que eu deveria pegar o trubisco que estava ao lado da mesa do PC e levar ao consultório do meu padrasto, pois ele precisaria do trubisco ainda hoje.

Fui novamente ao cartório para tirar as tais fotocópias autenticadas e depois me dirigi ao endereço que Mommy me deu, onde supostamente eu deveria encontrar o Cartório de Registro de Imóveis. Well, well, well. Parei o carro no estacionamento mais barato, caminhei ALGUMAS quadras e esperei uma vida pelo elevador do edifício. Tinha um velho tremendo (não, não estava frio, era Parkinson mesmo) diante da porta, e eu quase perguntei quantas décadas fazia que ele tinha apertado o botão. Enquanto aguardava impacientemente, me diverti horrores vendo o monitor da portaria, em que uma mulher, dentro do elevador, se arrumava diante do espelho. Cabelo pra lá, cabelo pra cá, ajeita o peito dentro do soutien, limpa o nariz, dá uma olhada na bunda pra ver se a calcinha está marcando, sem perceber a câmera e o simpático Smile sobre a famosa frase: “Sorria, você está sendo filmado”.

Três dias depois, cheguei ao 7º andar. Vazio. Nem uma cadeira, muito menos um cartório. Desisti do elevador e desci de escada. Perguntei ao porteiro (por que eu não fiz isso antes de subir? Ugh!) e ele me deu o novo endereço...

Voltei ao estacionamento e paguei os R$ 2,50 devidos pelo tempo de uma vida que eu levei para essa missão frustrada (viram como é barato? R$ 2,50 por uma vida). Fui até o local correto, e pedi a atualização da matrícula que Mommy precisava.

Fui então até o SESC fazer a matrícula de Mommy (ela de novo... O que a gente não faz por uma mãe?) no curso de informática. Dei 14 voltas no centro da cidade antes de me convencer de que não existia mesmo uma vaga na rua, e parei num estacionamento. Chegando ao SESC... Retire uma senha! ADORO SENHA! ADORO! ADORO! (Só um minutinho, vou buscar uma toalha. Sofri um breve ataque e babei um pouco no teclado)

Saí de lá às 17h35min. Tinha a missão quase impossível de atravessar a cidade para deixar os documentos numa imobiliária longe pra caraaaaa... mba, que fecha às 18h. Massssssssssss... Detalhe: quando saí de casa, com pressa e um pouquinhozinho irritadinha com as coisinhas que só acontecem na minha vidinha, esqueci-de-levar-o-trubisco.

Pilotei o Bichinho com tamanha impetuosidade que eu podia fácil, fácil protagonizar a seqüência de Velozes e Furiosos. Passei em casa, peguei o trubisco e voei para a imobiliária. Se Mommy me visse pilotando o Bichinho dela daquela maneira... Seria o fim de nossas aventuras juntos, né, Twingo?

Cheguei correndo com os papéis na mão, e consegui balbuciar dentre arfadas bronquíticas: “Er... Vocês já estão fechando?” Bem, a moça foi bem simpática e tirou a bolsa dela do ombro e reacendeu a luz para receber os meus documentos... Ufa.

Levei o trubisco para o meu padrasto e fui para a faculdade (de novo!!!).

No caminho, engarrafamento do cacete, gente me fechando, comecei a me estressar, e quando o 3º imbecil tentou entrar na minha frente (sem pedir! Estúpido!), acelerei, ele me xingou... Som no último, nem ouvi.

Sinal aberto pra mim, e os malditos pedestres (frangos de Atari) atravessando na maior tranqüilidade. Eu só vendo que o sinal ia acabar fechando e eu estaria ali no meio do cruzamento, por culpa daquelas criaturas bestiais. Alheio às minhas preocupações com o trânsito, o velhote ia bem faceiro quando abri o vidro e gritei: “Tá com pressa pra morrer, vovô?” Com pressa ele devia estar mesmo, porque saiu correndo.

Na faculdade, o professor não cobrou o relatório que eu me matei pra fazer à tarde e disse que a presença era coletiva. DAVA PRA ME AVISAR ANTES DE EU IR ATÉ LÁ?

Claaaro que antes de voltar para casa, com o corpo inteiro dolorido, com câimbra na perna de tanto dirigir (já posso virar taxista), estressada, com a mesma roupa o dia inteiro, tive que buscar o pequeno semiletrado na casa do amigo.

Percebam a ironia: hoje eu não fui trabalhar. ISSO supostamente foi o meu dia de folgaaaa.

Embora meu corpo exausto só pedisse cama, mesa e banho (não nessa ordem), num esforço sobre-humano eu vim ver se o namorado estava online. Não podia cobrar que estivesse, já que deixei um scrap dizendo que estava muito cansada e não ia rolar skype, e depois é que mudei de idéia (saudades).

O recado dele é que está pregado e já foi deitar. Acredito que ele tenha acordado às 13h55min, mas à meia noite ele está pregado. Tadinho. E eu agora perdi o sono (acho que essa tela brancona do Word fez isso). E não comi nada porque não tenho forças pra abrir a geladeira. Pelo menos banho eu tomei.

Diariamente somos expostos a pequenos acontecimentos desagradáveis, e é normal que saibamos contornar tais situações sem sofrer um surto psicótico.

Mas alguém sabe me explicar PORQUE COMIGO ACONTECE TUDO NO MESMO DIA? E logo em que dia?!!!

Talvez vocês não tenham se dado conta desse detalhe, mas lá no 2º parágrafo eu disse que tomei ontem a última pílula da cartela. Não é necessário medir os meus níveis de progesterona para entender, apenas leia as três letras na minha testa: TPM.

“Há casos de homicídio, suicídio e até infanticídio (matar os próprios filhos) por parte de mulheres que estavam nesta fase. Em alguns casos, a lei pode levar em consideração este fato e reduzir a pena da criminosa³”.

Se você pudesse me ver agora, de calça de pijama, moletom vermelho e abraçada a um coelho de pelúcia, poderia até ficar enternecido com a imagem. Não se engane. Estou estrangulando o animal (desisti de arrancar as orelhas. Malditos brinquedos resistentes).

1 TPM em japonês. Não, não tem um motivo especial pra escolher TPM em japonês como título, mas eu vi aqui e gostei da idéia de dizer que "Não estou louca, apenas estou de Gekkeimae kinchooshoo, oras."

2 APAp*taquepariu.

3 Fonte: http://www.ipcdigital.com/portugues/cultura/550/index8.shtml