terça-feira, novembro 28, 2006

FELIZ!


Bom dia, boa tarde, boa noite. É bom cobrir todas as possibilidades, já que só Deus sabe quando será o próximo post!


Resolvi escrever agora, atendendo aos (dois) pedidos encarecidos que recebi nos últimos dias, depois de deixar o blog às moscas por tanto tempo.


Quero aproveitar este raro momento de felicidade espontânea que brotou inesperadamente na vida desta autêntica pessimista que vos escreve e, talvez, por meio de minhas palavras pouco inspiradas, transmitir um pouco dessa alegria boba pra vocês.


Cheguei agora, depois de uma confraternização da minha turma de faculdade. Bem, amanhã, ou melhor, ainda hoje, é minha última prova do curso de Direito. Acabou, gente!


Imagino que muitos de vocês devem estar pensando que é um momento triste este de encerrar minha feliz vida acadêmica, despedir-me dos amigos e oficialmente receber o meu passaporte para a Adultolândia, com direito a um pé na bunda e um “não volte mais!”.


Se você está mesmo pensando isso, é porque já está velho. Sim, é natural do ser humano lembrar-se do passado como se fosse um desenho da Disney. É assim: “O Rei Leão” é uma historinha linda e feliz, mas só se você não lembrar o quanto o Simba sofreu, órfão, sentindo-se culpado pela morte do pai, isolado do mundo a que pertencia por tanto tempo, tendo um tio monstro etc.


Do mesmo jeito que eu lembro com saudades da época anterior à faculdade, totalmente isenta de responsabilidades, quando eu ainda sabia o nome dos personagens de Malhação. Já faz uma vida isso... Volto-me àquelas lembranças e tenho a visão de risadas com as amigas, paixões inconseqüentes, todas aquelas possibilidades pela frente e nenhuma vontade de escolher nada... Uma vida sossegada, com sombra e água fresca. Parece muito agradável e divertido, mas só até eu me esforçar pra dar um zoom na imagem desse quadro, e perceber os detalhes já esmaecidos que a memória se esforça pra apagar: as brigas constantes da ovelha negra com o resto da família, a auto-estima devastada de uma adolescente complexada, a sensação de ser a criatura mais indesejável do planeta, os amores platônicos não correspondidos, as primeiras decepções (extremamente dolorosas pra um coração ainda despreparado), o medo inerente às descobertas e a sorte que eu tenho de estar viva e saudável diante de tudo que aprontei sem pensar nas conseqüências.


Não está dando pra acompanhar a viagem? O que quero dizer é que dar adeus à faculdade é uma coisa maravilhosa, apesar de saber que o que vem pela frente tende a ser ainda mais difícil, e embora eu saiba que vou sentir saudades, daqui a alguns anos, quando eu já tiver esquecido o quanto era um saco assistir à aula depois de um dia inteiro de labuta, fazer provas, trabalhos, pesquisas, seminários, ouvir (dormir em) palestras chatíssimas porque precisava cumprir horas complementares, e no fim do mês receber uma bolsa-auxílio que não cobria um quarto do valor da mensalidade...


Atualmente vivo sob constante pressão. Primeiro foi o desespero pra redigir a monografia que, como quase tudo na vida, deixei para a última hora... Em um mês fiz toda a pesquisa, sem nenhuma ajuda do meu “orientador”. Quem me conhece sabe que uma das minhas maiores paixões é escrever. Aqui, escrevo por mero hobby, não me incomodo com o uso de termos coloquiais, gírias, abreviações e... bobagens. Mas no meu trabalho de conclusão de curso eu queria a perfeição. Claro que não tive tempo hábil para atingir a perfeição, o que me custou inúmeras noites em claro, gastrite, estresse, dores musculares, torcicolos, agravamento do astigmatismo, enxaquecas e todo tipo de somatização que uma pessoa consegue providenciar em poucos dias.


Bem, neste sábado, dia 25/11/06, apresentei a minha cria, com a satisfação e o medo de qualquer criador, à temida banca examinadora. Após uma breve explanação com o objetivo exclusivo de mostrar que eu sabia do que estava falando, preparei-me para responder às perguntas, que não vieram. Em vez delas, apenas elogios, congratulações, e recomendações para os meus próximos trabalhos. Após a tensão dos minutos em que, na minha ausência, minha nota era discutida, recebi a notícia: “a banca deliberou e decidiu, por unanimidade, que o seu trabalho merece a nota máxima”. DEZ. Muitas vezes eu tinha imaginado aquele momento. Pressentia o meu sucesso. Mas não podia ficar alardeando, sob o risco de parecer prepotente e, principalmente, sob o risco de parecer uma otária caso minha nota não fosse essa. Já imaginou, tirar 9,5 e se sentir uma trouxa? Não, não, era melhor eu espalhar por aí que me contentava com o 7,0 para passar, e secretamente ansiar pelo meu 10, que, felizmente, veio.


A coroação de um trabalho apaixonado. E a primeira de muitas conquistas que eu sei que ainda virão. Oops, olha a prepotência aí, hehehehe... Tudo bem, antes isso do que dizer que me contento com nota 7,0 nas provas da vida (metáfora que só ficaria mais detestável se eu terminasse com "a vida é uma escola"). Enfim, dizer que me contento com a média faria de mim hipócrita se fosse mentira, medíocre se fosse verdade!


Sei mesmo que vou sentir falta dessa rotina avassaladora. Ainda hoje preciso concluir um trabalho que vale metade da nota de uma matéria, ir trabalhar cedo, tentar não perder as aulas no cursinho preparatório pra prova da OAB (cenas dos próximos capítulos) à tarde, fazer prova à noite, redigir um Habeas Corpus pro Núcleo de Prática Jurídica, pra comprovar a prescrição de alguma(s) das cerca de 20 condenações de um cara... Estudar, estudar, estudar... Arranjar um emprego... E, se eu sobreviver, assim que eu finalmente conseguir um tempinho, visitar meu namorado, porque suportar tudo isso já não seria fácil sem a saudade... E sem a abstinência sexual, claro.


Apesar de tudo, é uma sensação fantástica perceber que nem bem concluí uma tarefa e já existem tantas outras, cada vez mais urgentes e cada vez mais complexas, todas dependendo de mim, e eu não apenas dou conta de todas elas, mas ainda o faço com competência e eficiência de sobra.


São mais ou menos essas as razões de minha alegria: satisfação, realização pessoal, ter uma família que eu amo, as melhores amigas do mundo, um namorado lindo que continua me fazendo bem mesmo à distância, consciência do meu potencial, e, além de tudo isso, um motivo muito, muito especial.


O PASSARALHO DO CARINHO NÃO CANTA MAIS! Acabou o suplício das madrugadas primaveris, agora finalmente silentes, do jeito que eu teria sonhado se tivesse dormido.


Beijos!