segunda-feira, junho 11, 2007

Série “Coisas que só acontecem comigo” – 1º capítulo

No ano de 2002, quando entrei na faculdade, terminei um namoro de 10 meses com um cara muito legal, que me amava e me respeitava e era fiel. Por motivos diversos, o relacionamento não me satisfazia mais. A paixão acabou, virou tudo uma chatice e eu queria viver fortes emoções. Pois bem, emoção não faltou quando eu me apaixonei, pouco tempo depois do término do namoro, pelo canalha-mor da faculdade, o Frango.

Nada muito novo, tendo em vista que paixões, em quase 98% da experiência no meu currículo, têm sido sinônimo de uma corrida com obstáculos de olhos vendados. Acabo sempre quebrando a cara.

Logo na primeira vez em que fiquei com Frango, já ganhei uma inimiga: a Vaca, que era a pseudo-namoradinha dele. Mas ele jurou pra mim que não tinha mais nada com ela!!! Eu fui uma vítima inocente!

Em poucas semanas eu descobri uma lista de dezenas de mulheres que o Frango já tinha traçado, e olha que ele nem era lá grande coisa! Mas o desgraçado tem uma cara de cãozinho perdido em mudança que comove mulheres estúpidas como eu, sabe como?

Numa certa festa promovida pela Associação Atlética da faculdade, Frango estava com uma das minhas sócias, a Taturana. Era uma criatura esquisita a menina, em minha modesta opinião, mas isso é só porque eu não vejo muito charme em sobrancelhas mais eficazes que um boné como anteparo para proteger os olhos da claridade.

Frango, em compensação, pagava um pau pra Taturana. Tudo bem, nem ligo, pensei. Eu aproveitaria a festa, eles que se explodissem, maldito casalzinho freak do caramba (imagina só um filhote de frango com taturana!). Eu só não queria era beijar algum cara da facul, a fim de preservar a minha reputação (já um tanto quanto abalada por conta do Frango).

De repente, eis que avisto um Gato. Moreno, sarado, sorriso lindo. E ele veio falar comigo. E não era da faculdade! Fazia Direito, é claro, porque era querer demais escapar dessa sina, mas estudava em outro lugar.

O Gato era uma graça e beijava bem, mas a minha cabeça (oca) estava longe dali... Pensando em depenar o maldito Frango, que havia sumido da minha vista. Se bem que também não seria muito fácil me encontrar no ponto recôndito em que me instalei com o Gato, justamente com o objetivo de não ser vista. Nem me importei quando o Gato foi embora. Continuei na festa com minhas amigas.

Não tenho nem idéia de que horas eram quando o Frango reapareceu. Sozinho. Com aquela cara de filhote órfão carente... Pare de me condenar. Não você, prezado(a) leitor(a). Estou falando com essa voz inconveniente na minha cabeça, que fica me chamando de trouxa.

Sim, sim, eu admito! Não resisti e fiquei com ele, assim que o Gato e a Taturana seguiram cada qual seu rumo. E o pior: fiquei feliz da vida! A voz na minha cabeça já está aos berros aqui.

Dias depois, estava matando aula no bar, ou melhor, confraternizando com o movimento estudantil num estabelecimento comercial próximo à faculdade, coincidentemente no horário em que algum professor insistia em manter o restante da turma presa entre aquelas quatro paredes opressoras. Frango também estava no mesmo estabelecimento, numa outra mesa, com amigos dele.

No momento em que eu e minhas amigas discutíamos algum assunto de extrema relevância para o futuro da humanidade, adivinha quem surge, moreno, sarado e com um sorriso lindo? Ele mesmo, o Gato. Interrompi a seriíssima discussão para comentar com minhas amigas, que olharam mui discretamente (sabe quando você diz “não olhe agora” e o interlocutor imediatamente vira a cabeça na direção para a qual não deveria olhar, antes mesmo que você termine a frase? Pois é, imagine isso com meia dúzia de interlocutoras tagarelas) e me disseram que ele era um gato. Como se eu já não soubesse.

Enquanto ele caminhava na direção de determinada mesa, eu fiz uma prece silenciosa - e que, evidentemente, não seria atendida - para que não acontecesse justamente o que estava prestes a acontecer. Se fosse com outra pessoa, eu poderia até esperar que a situação se desenrolasse de forma menos trágico-patética, mas... É óbvio que o Gato se dirigiu à mesa do Frango, que se levantou quando o viu. Os dois deram um abraço fraternal com aqueles tradicionais tapinhas nas costas, “daê, cara, beleza?”, e tal...

Até então eu ainda não havia decidido se me escondia sob a mesa ou me jogava da janela. Escolhi torcer para que o Gato não me reconhecesse (tolinha, como se fosse possível alguém esquecer Oksana). Não demorou muito para que o Gato olhasse em minha direção, e imediatamente comentasse algo com o Frango, que fez questão de responder em um tom de voz elevado o suficiente para que eu ouvisse do outro lado do mundo: “VOCÊ TAMBÉM???”

Em seguida todos naquela mesa riram muito, enquanto eu tentava cortar os pulsos, sem sucesso, com uma folha de papel. Antes de decidir cravar um palito de dente na jugular, convenci as meninas de que era hora de ir. O Frango e o Gato levantaram de seus lugares e, juntos, acenaram para mim, em despedida.

Pouco tempo depois eu saberia que os dois eram amigos de infância, vizinhos de porta. Não lembro qual dos dois me contou... Porque eu continuei ficando com um e outro, aleatoriamente. OK, agora essa voz repressora da minha consciência está começando a me dar nos nervos. Que desagradável. 

Moral da história: aposto que se o plano fosse pegar um cara e, na mesma noite, o seu melhor amigo, eu falharia. Como a idéia, entretanto, era de manter um low profile, só faltou sair minha foto na capa da revista "Fuças".

Enfim, essa foi apenas uma daquelas coisas que só acontecem comigo. Não perca os próximos capítulos, aqui, neste mesmo canal.

Beeeeijo