quarta-feira, novembro 14, 2007

Coisas que me irritam (3ª parte)


Adivinha só? Sim, a terceira parte também ficou imensa. Logo publico a 4ª. Vou mudar o nome do blog para "Coisas que me irritam".

Gente que faz drama. A dramatização constante é um comportamento mais comum em mulheres. Talvez por isso mesmo seja ainda mais irritante em homens. Eu faço drama às vezes, mas procuro evitar que o resto do mundo saiba. Todavia, é assim, coisa passageira, discreta, contida. E não falo aqui de tristezas justificáveis. Claro que estendo a mão e ofereço o ombro quando o motivo é real e a reação é proporcional. Só não tenho paciência pra draminhas diários, comportamentos infantis, chantagens emocionais, gente que bate o pé, faz bico, ameaça chorar pra tentar me convencer a fazer o que eu não quero, que exige mais atenção do que oferece, que nunca telefona e vive reclamando porque eu não liguei, que acha que qualquer dor de cabeça é um tumor no cérebro, que se considera vítima de tudo (do sistema, do preconceito, da sociedade, de traumas de infância, de influências espirituais, da proximidade de um suposto cataclismo)... Gente chata!

Shelley Duvall em “O Iluminado”. The Shining é um clássico do terror psicológico, e tem Jack Nicholson no papel principal, o que já é suficiente pra eu adorar o filme. Mas a esposa do Jack, a maldita Wendy, é insuportável! Aposto que eu não fui a única que torceu pra que Jack conseguisse estripá-la, de tão irritante que é a criatura! A voz, estridente, absurdamente aguda. A presença, inconveniente, desagradável. Os olhos, ora caídos, ora arregalados. As caretas de medo/desespero, caricaturais. Mas o que mais me irrita é o jeito que ela corre, com os braços balançando! What the fuck, Wendy? Onde ela pensa que vai daquele jeito? E quando ela entala na janela, repetidas vezes, e não consegue se convencer de que é impossível passar por ali? É nessa hora que eu tenho vontade de gritar: “Morra, Wendy, morra! Vá, Jack, acabe com ela! Decepe esses bracinhos com o machado! Corte essa desgraçada ao meio e faça cessar esses gritinhos!”

Cocô na casa do Pedrinho. Confesse. Você também tem raiva do garotinho. “Mãe, eu quero fazer cocô!”. A mãe: “Tá bom, vamos, filho!”. É aí que o moleque, com o dedinho indicador em riste, afirma categoricamente que só vai cagar na casa do Ped-erinho (o guri tem um pequeno problema de dicção). Não entendo porque ele está com a mochilinha nas costas, o que será que ele vai levar pro banheiro do Pedrinho? Mas o que mais me intriga é o que leva uma mãe a permitir que seu rebento seja utilizado numa campanha publicitária de mau gosto que o deixará estigmatizado por toda a vida. Imagine na escola, toda vez que o menino ergue a mão e pede pra sair da sala. Aposto que os coleguinhas devem fazer uma algazarra dizendo que ele vai fazer cocô na casa do Pedrinho. No amigo secreto, provavelmente vai ganhar um Glade Toque de Frescor, pra poder fazer o serviço em casa mesmo. Daqui a alguns anos, ele pode ser reconhecido pelas pessoas... “Ei, você não é o menino que queria fazer cocô na casa do Pedrinho?” Pense num trauma. Nunca mais o intestino vai funcionar direito! E nunca o moleque vai conseguir comer uma mulher! Isso sem contar o impacto negativo que o comercial criou na vida dos Pedrinhos em geral. Claro que isso tudo não é do meu interesse. O problema é que a maldita propaganda passa 25 vezes por intervalo comercial, e a voz do garoto repetindo pela zilionésima vez a sua preferência pelo banheiro do Pedrinho me irrita profundamente! Vai logo cagar, moleque!

Galo de briga. Não sei se o problema é ter sobrado muito de australopitecus em alguns espécimes de Homo sapiens. Não sei como Freud classificaria essa necessidade de se engalfinhar em público com outros homens pelas razões mais estúpidas. O fato é que a evolução humana, a habilidade de produzir sinapses e por meio delas escolher o momento em que o instinto deve ser controlado é o que supostamente nos separa do restante dos animais. Eu acredito que existem raras situações que justificam que se perca a compostura. Na maior parte das vezes que se vê um imbecil brigando num bar, entretanto, não existe razão alguma. Um cara esbarrou sem querer no pit bull, ele avança. Alguém olhou pra mulher dele, ele morde. O idiota vê dois desconhecidos brigando, nem imagina o motivo, mas se mete só pelo prazer de distribuir uns sopapos e eventualmente sair com o nariz sangrando. Se for uma questão de prazer, de liberar endorfinas, por que não luta por esporte? Muito mais coerente pagar uma mensalidade e treinar com outros cidadãos que estão na academia pelo mesmo motivo! Será que um pouco de civilidade é uma exigência grande demais?

Obsessão por carros. Acho normal um cara ter uma preocupação extra com seu carro, gastar dinheiro com isso, cuidar, ajeitar e tal. Ninguém vai me chamar de maluca se eu quiser decorar minha casa com objetos não essenciais, mas que me agradem esteticamente. Porém, como tudo na vida, é preciso ter noção de limite. O que dizer de um homem que precisa sair com o carro da mãe e deixar o dele na garagem, porque o seu automóvel, que vale R$ 15.000,00, tem mais de R$ 10.000 em acessórios, e ele tem medo de ser roubado? Ou porque o seu carro está tão rebaixado que não passa numa lombada, e se um guardinha do Diretran pegá-lo, já era? Qual é a lógica de investir toda a sua grana num carro que não pode sair da garagem? E o pior: como o néscio não percebe que eu estou bocejando ao ouvir durante 45 minutos a descrição de cada um dos brinquedinhos que impede seu automóvel de ser móvel? Queria ver se eu passasse horas falando que aquele tom de esmalte só foi possível porque minha manicure passou uma demão de “Atração Fatal” e outra de “Gabriela”; relatando que não resisti à oferta incrível no shopping e acabei comprando dois escarpins do mesmo modelo, em cores diferentes; contando quantas vezes eu já vi cada episódio de Friends; dizendo como eu e minhas amigas nos identificamos com cada cena de Sex and the City; explicando como o pompoarismo mudou minha vida... Ops, esse último tópico provavelmente o fizesse acordar depois do resto do papo. A questão é: tanto homens quanto mulheres têm direito a seus pequenos prazeres assumidamente fúteis, mas podemos, pelamordedeus, conversar sobre assuntos que interessem a ambos? Muito obrigada.