terça-feira, fevereiro 12, 2008

Pérgolas da festa profana

Pérgolas.



Bastam alguns minutos de convivência conosco para perceber que não somos pessoas normais. De nossos colóquios reservados, em tom de voz discreto, espontaneamente surge um dialeto quase incompreensível. Como eu disse para minhas queridas frangas: meu medo é, de repente, sem querer, acabar voltando a falar corretamente.

A fim de difundir essa interessante forma de comunicaçã, eis a primeira liçã: sempre corte a letra “o” do fim dos substantivos terminados em “ão”, e ressalte a tonicidade da sílaba que finda em “ã”. Assim temos: questã, cartã, tesã... E por aí afora.

As outras palavras surgem sem querer, até transformar um simples diálogo numa névoa densa e impenetrável. “Franga, dá um pigas. Cadê o siqueiro? Alcança ali o cinzério, plis. Cadê o tapoé, carai? Na geladéria ou no culi? Porra, quem foi que espalhou pipoca all over the chã todo?”.

Vamos ao relato entã: o Carnaval foi delicioso, se diverti-me demais a si pópria. Mas... me passaram a mão na bunda e eu não comi ninguém. Nenhum beijinho na boca. Será que eu estou muito seletiva? Ou serão os homens? Hahahahahahaha...

Sexta chegamos acabadas e nem fizemos nada. Sábado passamos o dia num bar bem tranqüilo na praia do Estaleirinho, o Goa, quase não tinha ninguém. A vantagem é que conseguimos duas espreguiçadeiras e um daqueles colchãs bem grandes. E à noite ficamos em casa, o Cris foi pra lá com amegos e amegas, gentes não muito bonitas, mas legais. O marido de Cecílios, também apareceu por lá, com um amigo que não dava oi (e levou a maior bronca do mundo da Camilotta por causa disso).

A Fernandinha levou vários biquinosos lindos para vender, fato que, naturalmente, deixou absolutamente todas as mulheres da casa ensandecidas, dispostas a passarem os próximos dias sem comer nada se preciso fosse, desde que pudessem adquirir um biquíni novo.

Aliás, comida era muito luxo. A nossa casa das sete mulheres parecia muito mais um apê de macho: só comprávamos bebida e papel higiênico.

Domingo passamos o dia no Sky, novo point de Santa Cataralha, também na praia de Estaleirinho. Vimos vários caras gatos, só que eu, mais uma vez, tomei o maldito soro da invisibilidade para caras gatos, e nenhum deles me enxergou. Talvez fosse também a minha cor, rola aquele mimetismo com a areia, as pípous pisam em cima, enfim, bem chato.

Na areia, observávamos o movimento de corpos sarados. “Franga, à direita, bermuda branca, par de havaianas na mão”.

Até então nossa alimentaçã havia se resumido a álcool, ao tapoé de secos (minduim, pistachio, damascos, castanhis) e ao tapoé de molhados (salami, cebolinha, champignon, zeitonas, pepininhos Hemmer). Todo dia levávamos o nosso inseparável companheiro cooler, mais conhecido como culi, cheio de cervéjias, smirnoff ice e os tapoés. Mas naquele dia, eu e mais três frangas resolvemos comer alguma coisa de verdade.

Repita comigo: ta-po-é.

Fumos até o restaurante, e pedimos dois pratos, que demoraram 45 dias para ficarem prontos, e, ao serem trazidos, foram devorados em 37 segundos. Até o dia seguinte, ficamos arrotando o maldito peixe, que apelidamos de “enxofras grelhadas”.

De repente um ciclone vinha se formando na praia, mas não pudemos sair correndo porque a Lu estava no mar, tentando recuperar o biquíni que a onda levou.

Nesse dia rolou a primeira balada que pegamos: Dixi-dixi no Warung. No caminho, nos divertimos horrores. Uma franga lança um punhado de confetes pelo vidro e o vento traz metade deles de novo para dentro do carro. A franga exclama: “Tesã! Dentro da minha pópria cara!”. Só Deus é que sabe como ela retirou depois os confetes subcutâneos.

Com a mesma destreza, arremessávamos rolos de serpentina pela janela do veículo. Infelizmente, como eu os atirava com a mão esquerda, o efeito não era lá muito interessante. Foi então que a Mel pegou um rolo pra mostrar como é que se faz. Pediu ao Dodô, que estava no carro ao lado, que baixasse o vidro. Na tentativa de lançar-lhe carro adentro um pouco de alegria, acabou deixando escapar a ponta que tinha que segurar, e acertou o rolo inteiro na boca do Dodô. Ele ergueu o vidro, sem muita simpatia no olhar.

No estacionamento, maior festa. Claro que levamos o culi cheio de cachaça. Impossível explicar como o culi consegue ser uma piada constante que nunca perde a graça (especialmente depois que acabamos com o conteúdo do póprio culi). “Lu, tira essa garrafa do culi, por favor, que eu vou usar a água do culi pra regar as plantas...”; “Lu, enfia de volta a garrafa no culi”; “Putz, o culi tá cheio de areia, sujou todo o carro”... “Que eu faço com os copos?”, “ah, enfia no culi”.

Na rua, Melícia comenta que todos os cambistas falam exatamente do mesmo jeito, e Luzena nos explica que é porque eles fazem um curso. Camilotta, empolgadíssima, concorda, aos berros, dizendo que o nome do curso “é... é... ahmmm... CAMBISTA!”. Mas é um espetáculo de criatividade mesmo. Logo se nota que a moça é do márketi.

Voltando ao esquenta no estacionamento: bem que eu devia ter ouvido minha intuição, vendido o ingresso, e ficado bebendo lá fora. A balada situa-se certamente entre as 3 piores da minha vida. Warung não me pega never more. Gente lazarenta de feia, jacu e estúpida, drinks de 280 reais a dose, e duas palavras para a música: po-dre. Saí de lá com tanto ódio no meu coração que achei sinceramente que jamais iria sorrir de novo. Só pra minha cara mesmo achar que o som eletrônico feito por dois iranianos poderia me divertir. Aposto que esses feiosos me adicionariam fácil no orkut deixando um scrap com tradução automática do Google: "Hey, bonito eu achei você orkut e quiser ser amigo você. Como você é?"

Na insuportável balada, a única e exclusiva diversã era ver e comentar os modelitos no desfile de aberraçãs. Coisa medonha. Olhávamos aquelas criaturas ridéculas que tiram fotos bonitas pra colocar no orkut com a legenda: “Euzinhaaaa warungando com as miguxassssss”. No meio daquele show de horrores, avistamos uma chiquérrima warungando de breizi preto, com saia e sandália plataforma. Coisa lindimais.

Euxinha Uarunganduuu di breizi..................

Um belo rapaz chega nos perguntando com um sotaque do planeta miguxo: “Tchi ontche voxês xáum?”. Respondi que, como as outras mulheres, nós somos de Vênus. E ele: “Tchi Vénux?”. Oh, Lord, que se passa com as pessoas?

Segunda-feira, eu, a Mel e a Lu fomos passar o dia em Little Bombs, bem tranqüilo, mas pelo menos o garçã nos atende sempre que queremos, o mar é uma piscina transparente, o dia foi uma delícia. Além de encontrarmos vários amigos, dentre eles a Thayna, que nos informou como os esquimós do Congo fazem para pescar (sempre em dupla, um segura os pés do outro). Impressionante mesmo esse aquecimento global, já tem até esquimó no centro-oeste da África.

Nem sei explicar de que jeito foi que um cata-vento foi promovido a um objeto altamente erótico. E o Alexandre Frota foi tão citado até se transformar em Alexandre Toba.

Después passamos numa pousadinha em Four Islands em que estava o gateenho de uma das frangas com os amigos. Os guris eram mega gente buenas e acabamos ficando horas por lá (cada vez que pensávamos em ir embora eles traziam mais cerveja, caipira e comida). Eles também ficaram encantados com nosso jeitinho meigo e delicado de ser.

Essa noite rolou a segunda balada, o Tio Êsto no Vale Verde. Eu, Melícia e Luzena passamos 25 dias na estrada pra chegar lá. Lu estava mais ou menos com o mesmo bom humor com que eu saí do Dixi-dixi. Eu e Melícia parecíamos retardadas rindo de absolutamente tudo, bebendo drink sem gelo, até que conseguimos umas pedrinhas (de gelo, não crack) com uns moleques. A Lu continuava com aquela cara séria de criança fazendo cocô na fralda. Só deu muita risada quando eu estimulei seu sadismo, dizendo que podíamos pegar a loira que passou ao lado do carro, rachar seu crânio, esfregar o cerebelo na brita, tacar fogo e dançar sobre as brasas.

Chegando à entrada do lugar, a Lê estava indo embora com a Camilotta, que comeu algo estragado e estava gorfando até a vesícula. O Dodô e a Fernandinha já tinham entrado. A Lu ia embora com a Lê e a Camilotta, mas a Mel também decidiu não entrar.

Graças ao bom Deus, Maria Cecílios estava lá fora ainda, então entramos juntas. E o inesperado acontece: eu AMEEEEEI a balada! Zentsi, que tudo o Tio Êsto! Um gatinho, e as musiquetas são super-mega legais, todas cantadinhas e dançantes! Saí de lá às 8h da manhã, um pouquinho cansada (por mim, teria ido às 7h). Nessa noite também não rolou pegar nínguem, por causa da dieta, não posso comer fritura.

O modelito mais especial da night ficou por conta de uma mocinha que vimos na beira da estrada, e eu quis pedir: “leve-me ao seu líder” ou “moça, volte para sua nave”. A modelo usava uma blusa preta, uma delicada legging MUITO prateada, uma linda sandália-bota estilo gladiador, e uma bolsinha de estampa de vaquinha. De repente, enquanto eu e a Ciça dançávamos, quem resolveu trepar nos ombros de um cara bem à nossa frente? A moçoila extraterrena. E finalmente eu entendi porque os fritos usam óculos escuros na balada: é que você nunca sabe quando vai aparecer uma bunda prateada bem na sua face, ofuscando sua vista.

ET phone home.

Dodô, citando a frase célebre de um desconhecido, definiu a noite em que as frangas losers voltaram pra casa da porta da balada como sendo “a melhor festa da it’s my life”. As frangas, em compensação, além de perder a balada, perderam-se a si póprias na estrada, graças à indicação de um puliça fidaputa. Quando estavam chegando ao Farol de Santa Marta alguém desconfiou de que aquele não era o caminho certo. O Peugeot da Lu parecia recém-chegado de um rali.

Terça fomos mais uma vez pra Little Bombs e depois pra Four Islands. Então descobrimos que os meninos também tinham seu póprio culi, mas o deles era de Lego. E tivemos a ilustre participação da mocinha do candelabro de umbigo, perguntando se é verdade que existe “Fanta uva de manga”. Claro que existe.

Vimos nessa tarde que o Melisso é um cara absolutamente irresponsável. Nossa pobre filha Camilotta ficou desolada. Em todas as oportunidades, Melisso dava um jeito de fugir de suas obrigações dizendo pra criança: “eu não sou seu pai!”.

Os meninos de Four Islands, por sua vez, temeram pelo futuro da pequena: “vocês estão criando a menina? Coitada...”. Mas em pouco tempo de convivência já perceberam que a franguinha também não vale nada, puxou ao pai e às mães.

Nesse dia, o pobre peugeotzinho, que já estava coberto de lama, ficou completamente recheado de confete, serpentina, areia, cinza, all over the chã todo. Duas palavras para o carro: no-jo.

Voltando pra casa, a motorista pergunta pra que lado deve virar, e Camilotta responde aos berros: “AQUI AQUI AQUI, ESQUERDA DIREITA DESCULPA!”. Melícia nem se importa com a dificuldade pra entender, já que estamos em “Iiinhaa Santa Catarina”. E moças que cavalgam cavalos brancos não se importam com nada. E vai, e vai, e vai cavalgando e vai (só quem assistir ao vídeo vai entender).

À noite fomos a um churras na casa dos guris em Four Islands de novo. As frangas pegaram frangos e eu... peguei nínguem! Um dos gatos da casa tinha namorada, que estava lá, e ainda assim ele ficou a fim da Mel (não sei porque eu ainda saio com essa vaca). O outro cara gato voltava pra Curita às 6 da manhã, por isso foi dormir mega cedo. Aí como eu não estava num momento caridade, não quis beijar o gordeenho super querido que ficou a noite toda dando em cima de moi (lê-se moá, zentsi). Destruímos Xurupinga, Jiboquinha, Absolut de pêra e nem sei mais o quê. Alguns meninos até começaram a aprender a falar. Um disse que tava "conomizando Fanta", o outro exclamou "tesã", e a gente se enche de sastifaçã.

Quando chegamos a Itapema, por volta das 6 da manhã (se eu tivesse ficado mais um poquito, podia pegar o gateenho acordando pra ir embora), fazia umas 58 horas que eu não dormia, e eu estava um tanto quanto esgotada. A Lê já tinha voltado no dia anterior, Dodô, Fer, Cecílios e Camilotta voltaram quarta mais ou menos na hora do almoço. Eu, a Lu e a Mel ainda fomos curtir mais umas horinhas de sol, comer milho, crepes e churros, só porque era o último dia, e não exibiríamos mais os corpitchos de biquínis.

Saímos de lá às 19h30 e chegamos às 21h30. E isso é tudo. De volta à vida real, temos novamente que participar de reuniãs para encontrar soluçã para o poblema do Seu Cliente. Dorgas.