quarta-feira, outubro 01, 2008

Novas cores e borboletas


No derradeiro post eu fiz um esboço do meu apreço pela simplicidade e do meu desprezo pelo simplismo. Conceitos bem diferentes, diga-se de passagem. Entremos um pouco mais fundo (ui) nesse assunto.


Teorias simplistas, respostas prontas em tamanho único que devem se encaixar em qualquer tipo de pergunta são, no mínimo, boring. Nada mais frustrante que ver uma idéia original ser reduzida a uma dessas fórmulas banais.


Movida por mudanças drásticas na minha rotina, algumas, inclusive, alheias à minha vontade, tive a chance de reestruturar alguns padrões de pensamento. Por mais diferentes que as coisas estejam (o horário de acordar, as decisões que finalmente consegui transformar em novos hábitos, a dieta, os planos etc.), é inegável que a maior transformação aconteceu na minha forma de ver, interpretar e valorar fatos, situações e pessoas.


Dia desses, empolgadíssima, comentei com minhas amigas acerca dessas mudanças. Tentei explicar como todas as alterações – das quase imperceptíveis às mais radicais – estavam interligadas. Minhas crenças religiosas e espirituais, minhas convicções políticas, meu modo de cuidar de mim mesma, meus planos para o futuro: uma coisa levava à outra de forma inevitável. O processo todo me conduziu à profunda modificação de alguns paradigmas. Inclusive comecei a perceber a existência de alguns homens aos quais eu não prestava a mínima atenção antes. Mesmo que eu não tivesse (até então) me sentido intensamente atraída por qualquer um deles, já era sinal de mudança o fato de eu cogitar a hipótese de corresponder ao seu interesse.


Parece que fui muito mal-sucedida ao tentar expressar o que se passava em minha mente, porque, por alguma razão, minhas ouvintes fixaram-se exclusivamente nessa última parte da minha explanação e compreenderam que eu estava à caça de um tipo diferente de homens.


Oh, my God.


E o primeiro comentário conclusivo que surgiu dentre elas foi: “Eu acho que a pessoa certa aparece quando você não está procurando”. Por alguns instantes eu tentei associar aquela idéia ao que eu tinha dito, mas não consegui mesmo ver relação.


Para aumentar minha perplexidade, as demais concordaram: “Ah, é verdade”, “Eu também acho, é só quando você menos espera que ele aparece”. Quis evitar uma discussão fervorosa sobre o quanto aquela idéia sempre me soou idiota. Busquei somente desviar o foco, explicando que não estava falando de encontrar a pessoa certa, e muito menos de procurar por ela, mas simplesmente de observar, perceber, notar pessoas diferentes. Tentei argumentar que não estava mesmo procurando alguém, e ouvi essa: “Mais ou menos... Você pensa que não tá procurando”.


Well, well, well. Minha frustração era grande demais pra continuar me explicando. A minha epifania havia sido brutalmente reduzida a uma filosofia barata, a uma idéia tão infantil que eu tenho quase certeza de tê-la lido alguma vez nas páginas da revista Capricho. Não restava opção, a não ser resignar e mudar de assunto.


Mas aqui entre nós, trata-se de um simplismo exagerado. É a redução de toda e qualquer situação a uma única fórmula básica e desprovida de fundamento lógico. A idéia diz que, se uma pessoa está sozinha, é porque está procurando o amor. Claro que nem se cogita a hipótese de ela estar sozinha porque prefere assim. Afinal, quem gostaria de estar só num tempo em que a regra geral conduz à conclusão de que estar mal-acompanhado é bem melhor que a solidão?


É óbvio que nem se imagina que alguém possa estar só pelo fato de não se contentar com qualquer coisa. Ou por ter outros objetivos em mente. Ou por não estar apaixonado. Ou por estar, mas não ser correspondido. É evidente que uma pessoa só pode estar sozinha porque não consegue parar de procurar pelo amor, de vislumbrá-lo em qualquer desconhecido.


Contra essa corrente de pensamento, nem sequer funciona argumentar: “Mas eu não estou procurando nem esperando nada, estou construindo minha vida, passo a passo, buscando meus objetivos, cuidando de mim”. Sempre haverá o infalível argumento do "inconsciente": “Você PENSA que não está procurando, mas, inconscientemente, você está”.


Também não adianta citar o exemplo contrário, de pessoas carentes e absolutamente incapazes de suportar ficar sozinhas. Gente que pula de um relacionamento para o outro, sem o mais breve período de luto entre eles. Bem, devemos concluir, na mesma linha de raciocínio, que essas pessoas NUNCA estão procurando amor. E você pode até dizer: “Mas a fulana já admitiu que não agüenta ficar sem namorado, que já termina com um pensando em arranjar outro”. A resposta deve ser mais ou menos assim: “Ela PENSA que vive procurando pelo amor, mas inconscientemente está focada em outras coisas”. Uhum.


E ainda, não consigo entender porque essa fórmula funciona exclusivamente para o amor. Ora, ninguém nunca me disse: “Está procurando emprego? Ah, mas assim você não vai trabalhar nunca! Se você quer um trabalho, pense em outras coisas, vá pra balada, aprenda a cozinhar, viaje. Quando você menos esperar, a empresa dos seus sonhos vai telefonar querendo contratá-la”.


Ou ainda: “O melhor jeito pra passar num concurso público é não estudar”. Ou: “Se você quer fazer novos amigos, o ideal é não conversar com as pessoas”. Inexplicavelmente, para encontrar o amor você não pode sequer pensar nele.


Quanto ao que eu disse às minhas amigas, minha intenção era só mostrar que meu campo de visão aumentou, que meus horizontes se ampliaram, que estou vendo as coisas de forma diferente.


É como se, até ontem, meus olhos não reconhecessem a cor azul. Hoje, ao acordar, pela primeira vez enxerguei a cor do céu.


Não quer dizer que, só por isso, azul virou minha cor preferida. Mas meu mundo ficou mais bonito. Deu pra entender agora?


E quanto a estar só, concordo com a Carrie: "Some people are settling down, some people are settling and some people refuse to settle for anything less than butterflies."


Simples, mas não simplista.


Beijos!