sexta-feira, junho 05, 2009

P*ta frio da p*rra


Alguém, por favor, pode dar uma ajustada do termostato curitibano? Em tese, o inverno deveria chegar somente no dia 21 de junho, certo? Portanto agora, no outono, deveríamos estar presenciando dias mais curtos e frescos (eu disse frescos, não siberianos), folhas secas coloridas pelo chão, grandes colheitas. Né não?


Em vez disso, o que vejo da minha janela são pessoas encolhidas, formando corcundas, cobertas de cachecóis, gorros, luvas, casacos, tudo com aquele delicioso cheirinho de mofo. Dá um certo ódio das pessoas que dizem com ar de aristocratas: "ah, eu gosto do inverno porque as pessoas ficam mais elegantes"... Elegância my ass!!! Quero mais é meu nariz desentupido!


Bem de verdade, hoje o dia está uma delícia. O sol apareceu logo cedo, e alcançamos ainda pela manhã a invejável marca dos 17º C. Pra quem passou por madrugadas de -2º C, conseguir trocar de roupa pela manhã sem precisar ligar o aquecedor já é uma vitória!


Bom mesmo é você depender de um chuveiro elétrico muito do mequetrefe para o seu banho relaxante antes de dormir. Lá em casa não rola instalar um chuveiro mais potente, porque a instalação elétrica da casa, antiquíssima, não resiste e o disjuntor despenca. Aí o banho exige todo um ritual: primeiro, ligo o aquecedor uma hora antes do banho começar. Depois faço uma oração, pedindo às forças do Cosmos que permitam que eu sobreviva a essa mania chata de higiene. Então respiro fundo e meto-me debaixo daquela gota central de água morna que escorre do chuveiro. O banho necessariamente acontece por partes, porque não há volume de água suficiente para molhar mais do que 5 cm2 de pele de cada vez. O cabelo, já decidi: só volto a lavar em setembro. Tem jeito não.


Após alguns minutos de suplício, batendo o queixo, com os lábios azuis, as unhas dos pés roxas, os dedos da mão duros, o nariz vermelho, os olhos lacrimejantes, os músculos doloridos de tensão, saio feliz, contente e cheirosa, pronta para o próximo ritual: vestir-me para dormir.


Ah, sim... As curitibanas no inverno (mesmo esse inverno antecipado) são pura sensualidade. Dá pra comparar a uma massa folhada, tamanha a quantidade de camadas sobrepostas no corpinho. Um strip-tease duraria cerca de uma hora e 45 minutos até tirar tudo. Casaco, cachecol, luvas (eu gosto daquelas de pedinte, que deixam os dedinhos livres pra digitar). Blusa de gola alta, outra blusa, mais uma blusinha fina por baixo, de ribana ou qualquer outra coisa tão sexy quanto. Calça, botas, ceroula ou meia calça fio 80, perneira, meia, outra meia. Outra meia. Mais uma. Opa, mais uma. Já tô quase chegando no pezinho, hein? Mais uma meia. Cada uma de uma cor diferente. Um show de erotismo colorido. Eventualmente um gorrinho, uma boina, algo que aqueça as orelhinhas. A gente é muito guerreira pra fazer sexo num clima desses. Claro que depois de alguns instantes a coisa – literalmente – esquenta, mas até lá, é um tal de se assustar com o pé gelado, a boca ressecada (pausa pra uma manteiga de cacau?), arrepio mais de frio do que qualquer outra coisa, ao toque da mãozinha de defunto no meio das costas nuas.


Além disso, a gente demora mais pra engrenar em qualquer atividade. Sair da cama, pra começar, já é um ato heróico. Depois de levar horas pra criar coragem de esticar as pernas, todo um esforço pra respirar debaixo de meia tonelada de cobertas e aquecer todo o espaço ocupado pelo corpão, a gente tem que se aventurar no mundo gélido novamente. Muito injusto.


Numa dessas manhãs, vi que um dos botões do casaco que eu queria usar tinha caído. (morto de frio, provavelmente). Perguntei pra mommy onde tinha linha preta, e ela, muito solícita, ofereceu-se para pregar o botão. Depois de alguns minutos tentando colocar a linha na agulha, resmungou: “não consigo acertar essa buraca”... Caí na gargalhada. Respondi: “No consegue acerta a buraca do agulha? Ah, essa buraca muito pequena mesmo! Deixa que o filha ajuda!”


Mommy sugeriu que talvez o frio tivesse congelado seu cérebro. Eu disse a ela que não se sentisse só: na manhã do dia anterior eu havia tentado abrir o cadeado do portão com o controle remoto da trava elétrica do carro. E pior que o safado não abriu. Só pode ter congelado, né?


Beijinhos glaciais.