quinta-feira, abril 13, 2006

Minhas mulheres

No mesmo dia em que escrevi o texto do meu derradeiro post, antes de eu publicá-lo e mesmo comentar o assunto com alguém, recebi por e-mail um texto escrito pela minha big sista Letícia.
Impossível não notar a sintonia entre nossos pensamentos. Resolvi publicar aqui o que ela escreveu por dois motivos: primeiro porque acho injusto um texto tão bom ser reservado às poucas privilegiadas destinatárias do e-mail dela. O segundo é porque muitos dos meus 12 leitores (aê, tá aumentando!) não conhecem a Lê (muito azar de vocês), e alguns dos que conhecem não sabem que além de todos os predicados da moça (se eu fosse homem juro que entrava na fila de pretendentes) ela ainda tem a capacidade de expressar por meio de palavras escritas a sua percepção fantástica e sensível de coisas que a maioria dos seres supostamente pensantes nem se dá conta.
Assim, devidamente autorizada pela autora, compartilho com vocês um texto dela que é uma das pessoas que eu mais amo e admiro nessa vida. Um pouquinho de Letícia pra vocês.


Minhas mulheres


Hoje queria falar às mulheres. Às minhas mulheres, minhas amigas, minhas irmãs (atuais ou futuras). Acho que não há uma que esteja satisfeita com os relacionamentos atuais. Será epidêmico? Será fruto de um desvio (ou anomalia já dominante) da biologia? What the fuck is happening?


Nós alcançamos todos os campos antes considerados masculinos, ainda dominamos a casa e fizemos tudo de salto alto. Como não dizer que somos superiores? E, ainda assim, é cansativo, inevitavelmente doloroso, ver tantas mulheres – minhas mulheres – inteligentes, trabalhadoras, bonitas e desafiadoras, tão incompletas! No fundo, permanecemos românticas: à espera daquele que será divertido sem ser galinha, inteligente sem ser pedante, bonito sem arrogância... Que nos proporcionará aventuras inusitadas dentro de uma segurança inabalável.


Não é tão difícil. A fórmula para o coração de uma mulher é simples e já foi mais que divulgada em comédias românticas e livros de auto-ajuda: faça-a especial. E aqui não valem as receitas prontas, rosas vermelhas em dias de briga, um jantarzinho no lugarzinho de sempre, um ovinho na Páscoa. Estes clichês até podem ajudar de vez em quando, mas se você não a surpreender, um dia ela descobrirá que você só é mais um ator, recitando uma peça relida milhares de vezes. Uma mulher espera que, às vezes, um homem a faça sentir que tudo pára porque ela passa em sua vida. E - esta é a parte mais incrível - isso pode ser sim transmitido com apenas um olhar.


Infelizmente, a realidade não parece muito propensa para olhares. Não os deste tipo. Parece só haver os pesares das que já procuraram (ou até acharam ter encontrado) um brilho único para si.


É verdade, é menos doloroso achar o equilíbrio, ficar dormente com a realidade, se importar um pouco menos, voar mais baixo. Mas a visão a 10 cm do chão nunca é tão bela quanto das nuvens... E toda mulher sabe disso. Ela se adapta porque não lhe restam opções. E então ela joga, beija um, se expõe, diz que não mais se importa, beija o amigo do “um”, bebe e se caleja dos sentimentos que um dia quis. Mas eu sei que por trás de toda essa cortina de decepção, ainda existe a menina à espera.


Pelo menos hoje eu tenho certeza de que tenho muito dessas meninas comigo. Às vezes sofrendo. Às vezes sorrindo. Mas todas estão ao meu lado quando a aventura não chega e a segurança esvai-se em poucos segundos. Thanks God for all of you.